Ana e Vitória, dirigido por Matheus Souza, registra momentos atuais da carreira do duo

Filme faz o retrato da juventude contemporânea: redes sociais e fluidez de gênero

por Mariana Peixoto 05/08/2018 09:44

Felipe Simas/Divulgação
As cantoras Vitória e Ana expõem seus interesses no longa: paqueras e canções fofas com acento folk (foto: Felipe Simas/Divulgação )

Em uma casa no Joá, bairro nobre do Rio de Janeiro, uma cantora é a principal atração da festa. Mas ninguém olha exatamente para ela – os convidados assistem à apresentação por meio de seus smartfones. Fazem vídeos para serem imediatamente postados nas redes sociais.


O show termina e esta mesma menina conhece outra. As duas, num papo rápido, descobrem-se conterrâneas. Nasceram em Araguaína, segunda cidade do Tocantins. A amizade é imediata. Supercomunicativa, Ana, a cantora, pede ajuda a Vitória, ainda um tanto tímida. A namorada está na festa, mas ela conheceu uma menina no banheiro. Se Vitória paquerar a namorada de Ana, ela terá espaço livre para investir na outra garota. Vitória diz que gosta de meninos, mas que pode ajudá-la.


Em não mais do que 20 minutos Ana e Vitória, filme sobre o duo tocantinense criado há quatro anos, mostra sua carta de intenções. O longa de Matheus Souza (Apenas o fim, Tamo junto) quer tratar da geração do milênio, os chamados Millenials, a partir da história da dupla. Estreou em 170 salas do país na última quinta-feira.


Ana e Vitória – o título do longa acrescenta o “e” que a dupla não usa na carreira artística – tem tudo o que um fã pode esperar. Muita música, comunicação via rede social, histórias de amor que traduzem as letras das canções fofas com um acento folk e só. É como um episódio de Malhação estendido. E longo, mas longo demais para quem tem mais de 18 anos.
“Desde sempre a gente vive muito o presente”, diz Ana. “A gente não sabe se o amanhã existe e, quando vê, o amanhã já foi. Só temos o hoje, isso aqui”, completa Vitória. As frases parecem versos das canções suaves da dupla, mas não são. São Ana e Vitória, ambas com 23 anos, em meio a uma batelada de entrevistas.


O encontro com o Estado de Minas se deu no último domingo (29), no Festival de Inverno de Bonito, no Mato Grosso do Sul. As duas fariam o show de encerramento do evento que tomou conta daquela cidade durante quatro dias. Vários seguranças, alguma espera, muita expectativa no ar – e um público bastante jovem as aguardando para acompanhar as músicas fazendo corações com as mãos.


O show em Bonito foi o último da dupla antes da estreia do filme. Elas trabalham por temporada, explica a produtora Isadora, que regulava a porta do camarim para a entrada dos jornalistas. Isadora é facilmente identificável, já que se parece com Thati Lopes (do Porta dos Fundos), que a interpreta no filme.


Como é “autoficção”, logo trata de explicar Vitória, Ana e Vitória leva para a tela os dois nomes responsáveis pela carreira do duo. Além da produtora – no filme, um tanto histérica, na vida real, bem tranquila –, a narrativa retrata também o empresário das cantoras Felipe Simas – aqui interpretado por Bruce Gomlevsky.


“Nem é tudo verdade, nem tudo mentira. A partir de coisas que ele ouviu da gente, o Matheus Souza criou o roteiro. Mas tem coisas que ele inventou”, diz Ana. “A gente escolheu o Matheus porque ele conversa com nossa linguagem. Ele foi em alguns shows nossos e foram áudios e áudios de WhatsApp, pois ele mora no Rio e a gente em São Paulo”, acrescenta Vitória.


Depois do encontro na tal festa, o filme faz um salto temporal de um ano. Aí, a dupla já é realidade e vai para o Rio de Janeiro fazer seu primeiro show como tal. Toda a narrativa, a partir daí, é ambientada em uma única locação – um hotel modernoso no Flamengo.


A ascensão musical da dupla perde a importância frente às “questões” das duas. Menino ou menina? Melhor menino e menina. Daí, a história passa a se restringir a um troca-troca de parceiros(as) e de mensagens e postagens frenéticas nas redes sociais. E dá-lhe cantoria, menos em duo e mais separadamente. Ana, a principal compositora da dupla, envolve-se com uma personagem interpretada pela influenciadora digital Clarissa Müller. As duas gastam bons momentos num quarto de hotel cantando.


“Uma semana antes das filmagens, a gente ficou com o Matheus destrinchando o roteiro e mudando algumas frases para o jeito que a gente falava. Mas acho que vim ao mundo para cantar, não para atuar”, conta Ana. O desenrolar do filme é de uma previsibilidade absurda. Mas há pelo menos uma surpresa. A atuação das duas não é vergonhosa. Naturais, não fazem mais do que viver na tela o momento atual da vida.

 

maratona

Para divulgar o filme, Ana Clara Caetano Costa e Vitória Fernandes Falcão estão empreendendo uma verdadeira maratona. Vinte cidades vão recebê-las para sessões especiais. Em BH, elas participam amanhã de duas sessões: às 19h30, no cinema do Via Shopping, no Barreiro (sessão para convidados), e às 21h, no Shopping Estação, em Venda Nova – os ingressos para esta exibição estão esgotados desde o início da semana.
 

MAIS SOBRE CINEMA