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Melhor diretor no Festival de Veneza por 'Custódia' fala sobre o filme em entrevista


Três anos depois de, em vão, esperar pelo primeiro Oscar pelo curta-metragem Avant que de tout perdre (Antes de perder tudo, em tradução livre), o diretor francês Xavier Legrand faturou o Leão de Prata de melhor diretor, no Festival de Veneza, com Custódia, filme em cartaz em Belo Horizonte (Cine Belas Artes, às 18h30). Com seu primeiro longa, Legrand venceu a concorrência com cineastas de prestígio como Guillermo del Toro (A forma da água) e Darren Aronofsky (Mãe!). O filme trata de uma separação conjugal, sem meios termos. “O filme não perpetua um posicionamento de escorar temática social: ele propõe uma experiência real das emoções e da aventura que alguém experimenta no próprio corpo. Acho que é por isso que ele toca tanto o público”, afirma Legrand. Ao lado da trama de empoderamento feminino, Custódia expõe a fragilidade das crianças envolvidas nos processos de separação. É impossível não se impressionar com a força do jovem ator Thomas Gioria. “Primamos, nos ensaios de cenas, por preservar a qualidade da espontaneidade dele – algo preciso para um ator tão jovem.

Thomas escuta, com verdadeira presença em cena: ele acompanha verdadeiramente as falas dos colegas atores. A forma como escuta é completa, é plena – sem um traço de trapaça”, diz o diretor. Legrand, que também é ator, depois de tanto sucesso com o longa, tem novos projetos no cinema e no teatro. “Estou concentrado na escrita do meu próximo longa e sigo com meu trabalho de ator teatral. Em breve, será lançado na França um filme em que interpreto um espião do serviço secreto e, além disso, está garantida uma temporada minha no teatro, em 2019, durante o outono.”

Você já foi indicado ao Oscar com um curta-metragem de temática similar à de Custódia. Como aquela produção interferiu nas atuais escolhas?
Meu primeiro curta, Avant que de tout perdre, não interferiu na existência de Custódia. O longa-metragem já existia na minha cabeça.
Meu projeto inicial era criar uma trilogia de curtas com a trama de um casal que se separa e na qual o público tivesse contato com três diferentes momentos da separação. Foi quando encerrei o primeiro curta que percebi que o resto da trama caberia muito mais bem acomodada num longa, como foi o caso de Custódia.

Você analisou muitos casos, em termos jurídicos, para trazer maior acuidade à dramaturgia?
Sim. Fiz muita pesquisa, para ganhar precisão e um agudo conhecimento sobre o tema. Toda a pesquisa instrumentalizou a escrita da primeira cena do filme, com a incontestável precisão em que ressona a realidade. O sucesso do filme se ampara nesse elemento fundamental: o filme parece explorar uma realidade intacta, os personagens parecem cada vez mais próximos dos espectadores, junto com os interesses ajustados ao divórcio, a custódia das crianças, as lágrimas de pesar e a dificuldade atrelada à separação – os elementos que angariam os espectadores têm caráter universal. Com tudo isso, a realidade descrita no filme ganha contornos de um insuportável thriller, até alcançar um patamar de filme de horror.

Há isenção completa do diretor, no transcorrer de Custódia?

Acredito que Custódia não traz nenhum tipo de julgamento. É um filme que mostra o que as pessoas não querem ver: é perturbador, e as imagens podem levar apenas à crença de que haja um julgamento de fundo. O filme se esforça, do início ao fim, para revelar a inflexível realidade que a nossa sociedade patriarcal teima em não perceber.
Hoje em dia, no meu país, uma mulher é morta, a cada três dias, ou pelo marido ou ainda por antigos parceiros. Nossa sociedade ainda falha na proteção tanto das esposas quanto das crianças geradas por relacionamentos findos. O filme rigorosamente captura nossa sociedade atual.

O que mais ouviu do público, passada a premiação no Festival de Veneza? Que termômetro de aceitação percebeu?

O filme foi tremendamente bem recebido por júris profissionais, pela crítica e pelos espectadores. Fiquei imensamente feliz e estimulado pela quantidade de prêmios alcançados pelo filme, especialmente com a disputa no Festival de Veneza. O que mais frequentemente ouço das pessoas é o agradecimento por fazer um filme nesses moldes ao tratar deste tema.

Thomas Gioria, o seu ator mirim em Custódia, é um colosso em cena. Como conseguiu esse resultado?

Thomas é uma pérola raríssima, ainda que tenha trabalhado, demoradamente e de forma dura, para a preparação das filmagens. Desde sua seleção até as filmagens, Amour Rawyler, uma especialista em treinamento de atores infantis, preparou-o para o trabalho demandado no set, com encontros regulares. Amour fez um trabalho extraordinário com ele. Encontrei com ele por diversas vezes, para aprofundarmos nosso relacionamento, nos acostumarmos com o trabalho de equipe. A performance para o personagem dele é muito desafiadora, desde o começo, uma vez que o personagem passa por situações extremas.
Achei muito importante que ele soubesse da real função de um ator e que ele soubesse diferenciar ficção de realidade. Thomas não é apenas talentoso, mas ele tem uma rara qualidade, principalmente para a idade dele e que é digna dos melhores atores, até mesmo quando se fala em atuação adulta: além de escutar, em cena, ele está respirando. Thomas fala com seus olhos, num ritmo que dialoga com a intensidade do seu fôlego.

Longa de Chazelle abrirá Festival de Veneza

A história do primeiro homem a pisar na Lua, narrada no filme First man, de Damien Chazelle, inaugurará em 29 de agosto a 75ª edição do Festival de Veneza. Chazelle, de 33 anos, apresentou há dois anos em Veneza La la land: cantando estações, estrelado por Ryan Gosling. O filme recebeu seis Oscars. Gosling será outra vez o protagonista do novo longa de Chazelle, no papel do astronauta Neil Armstrong.

 


“É uma honra o convite de Veneza e me entusiasma voltar. É especialmente emocionante que essa notícia seja anunciada tão perto do aniversário de pouso na Lua”, disse Chazelle, sobre o anúncio, feito na quinta-feira (19). A Apollo 11 pousou na Lua em 20 de julho de 1969.


“É um privilégio autêntico apresentar a estreia mundial do novo e esperado filme de Chazelle”, disse o diretor do festival, Alberto Barbera. Trata-se de “um trabalho pessoal, fascinante e original, que surpreende em relação aos outros filmes épicos de nossos tempos e que confirma o talento de um dos diretores mais importantes do cinema atual dos Estados Unidos”, afirmou Barbera.


O Festival de Veneza, que há vários anos seleciona um grande número de filmes americanos para a competição oficial, tem se tornado uma vitrine para o Oscar. No ano posterior à estreia de La la land, a mostra italiana abrigou A forma da água, de Guillermo Del Toro, vencedor de quatro estatuetas, incluindo melhor filme e direção.

First man é inspirado no livro homônimo de James Hansen e tem roteiro de Josh Singer, vencedor do Oscar com Spotlight. (AFP)

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