Rachel Weisz e Rachel McAdams vivem amor proibido em 'Desobediência'

Sebastián Lelio, que deu ao Chile Oscar de melhor filme estrangeiro por 'Uma mulher fantástica', dirige longa-metragem ambientado em rígida comunidade judaica

por Mariana Peixoto 21/06/2018 08:59
SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO
(foto: SONY PICTURES/DIVULGAÇÃO)
Desobediência, que estreia nesta quinta (21) nos cinemas, é a primeira incursão do chileno Sebastián Lelio (Oscar de filme estrangeiro para Uma mulher fantástica) numa produção de língua inglesa. Adaptação do romance homônimo da autora britânica Naomi Alderman (sem edição no Brasil), a narrativa trata do reencontro de uma mulher com seu passado – e as consequências que seu retorno pode trazer.

Ronit Krushka (Rachel Weisz) é uma fotógrafa que vive em Nova York. Especializada em retratos, está em meio a uma sessão com um idoso coberto de tatuagens quando recebe um telefonema. Seu pai, Rav Krushka (Anton Lesser), está morto. Ronit deve voltar para casa, no Norte de Londres, para reverenciar o pai, rabino de uma comunidade judaica ortodoxa. Os dois não se falavam há muitos anos.

O contraste de Ronit com seu lugar de origem e as pessoas que ali vivem, um cenário quase anacrônico, é enorme. Ela não usa peruca, obrigatória para mulheres adultas. Também fuma, fala e faz o que quer. A recepção, como esperava, está longe de ser calorosa. A filha do rabino estava tão distante que até o obituário do jornal local afirmou que ele não havia deixado herdeiros.

Os únicos que a recebem bem são Dovid (Alessandro Nivola) e Esti Kuperman (Rachel McAdams). Para surpresa de Ronit, seus melhores amigos de infância, com quem formava um trio inseparável, estão casados. Surpresa maior é porque Esti e Ronit foram apaixonadas – e a relação proibida foi um dos motivos por ela ter abandonado sua casa.

Dovid é o provável sucessor de Rav, e prepara o hesped, o discurso fúnebre que deverá homenagear seu mentor. Esti, hoje professora de um colégio para meninas, parece, num primeiro momento, acomodada com a vida regrada. A chegada de Ronit, que se hospeda com o casal, abala não só as estruturas dos Kuperman como de toda a comunidade.

Desobediência é um filme basicamente sobre a liberdade (e a falta dela) e as escolhas (e as consequências delas) que fazemos ao longo da vida. Ronit fez sua escolha com a consciência das perdas que pode ter. Tanto que, mesmo se desfazendo das tradições da comunidade, mantém algumas delas. Impactada pela morte do pai, mal consegue respirar. Rasga suas roupas, o chamado keriá, obrigação que aquele que perdeu um parente próximo tem que fazer.

Sebastián Lelio filma a história com cuidado. As emoções são sempre reservadas, os ambientes fechados e a paleta de cores tem pouca vida. São muitos os silêncios. O esperado reencontro das duas ex-amantes se dá também aos poucos, até que a intimidade é reavivada com uma paixão progressiva.

Existe uma solução possível? Ir embora será um caminho mais fácil? Ficar significa resignar-se ou resistir? No decorrer da narrativa, é Esti a personagem com mais força para responder a essas questões.

TRILOGIA

Com Desobediência, Sebastián Lelio completa sua trilogia feminina, iniciada com Glória (2013), o filme que o projetou internacionalmente. Na história, a personagem-título é uma mulher próxima dos 60 anos, separada, com boa situação econômica e filhos já crescidos, que aproveita a vida como pode, na alegria e na tristeza. Quatro anos mais tarde, com Uma mulher fantástica, Lelio contou a história de outra mulher, Marina, que não tem o direito ao luto pela perda do homem amado. Isso porque Marina, que sonha com uma carreira como cantora lírica, é uma mulher trans. Ainda neste ano, o cineasta retorna ao universo feminino – lança a versão norte-americana de Glória. A personagem-título será interpretada por Julianne Moore.

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