Exibido no Festival de Brasília em 2017, 'Construindo pontes' estreia hoje em BH

Filme marca o primeiro longa da diretora Heloísa Passos

por Pedro Galvão 18/04/2018 20:03
Embates ideológicos envolvendo vertentes opostas do atual cenário político se tornaram cenas comuns nos lares de muitas famílias brasileiras. Heloísa Passos transformou essa polêmica no primeiro longa dirigido por ela. Exibido no Festival de Brasília em 2017, Construindo pontes estreia hoje em BH. O que seria um documentário sobre o avanço voraz da construção civil sobre a natureza em nome do progresso, durante a ditadura militar, virou uma história sobre memória familiar e compreensão.
Máquina Produções/divulgação
Cena de 'Construindo pontes', filme de Heloísa Passos, em cartaz no Belas 3 (foto: Máquina Produções/divulgação)

“O documentário veio do ‘Super 8’ que ganhei de presente, ainda criança, de um amigo do meu pai, com imagens das Sete Quedas. Cachoeiras maravilhosas desapareceram para a construção da Usina de Itaipu, em 1982. Ao longo do tempo, aquilo mexeu comigo de maneiras diferentes”, diz Heloísa. Premiada pela direção de fotografia de vários filmes, como Visionários, de Fernando Severo (2003), e experiente no cinema e na TV, a paranaense conta que seu projeto mudou quando esbarrou no próprio pai.

A ideia de abordar o “deserto d’água” formado em Guaíra, Oeste do Paraná, e os danos causados pelo desenvolvimentismo levaram-na a buscar informações com Álvaro Passos, engenheiro de várias obras de infraestrutura patrocinadas pelo governo militar na década de 1970. Heloísa começou a gravar essas conversas em 2012. Mais tarde, veio a ideia de filmá-las paralelamente ao processo de impeachment de Dilma Rousseff, entendido pela diretora como golpe e pelo pai como processo político legítimo.

“Fui colocar câmera só em 2016. Então, o que vivemos hoje é muito presente no filme. Minha relação com meu pai é muito ligada ao que está acontecendo no Brasil, no mundo e na vida da gente. Não nos incomodamos em falar daquela maneira durante o filme”, explica Heloísa.

Tudo começa com a história do Super 8 sobre Sete Quedas, com belas imagens antigas de Itaipu. A maior parte da narrativa se sustenta nos confrontos entre Álvaro, argumentando que os militares tinham um bom projeto para o Brasil, e a filha, discordando veementemente dele. Esses momentos são intercalados com fotos antigas de família e pela narração da diretora a respeito da relação dos dois.

ENTENDIMENTO

Ainda que Heloísa se exalte em algumas cenas, o documentário não se limita à polarização ideológica. A cineasta diz que o filme oferece uma reflexão sobre o entendimento. “O espectador entra na experiência de me aproximar mais do meu pai por meio da memória afetiva, de fotos e acontecimentos. A ideia é fazer com que isso seja um tempo até mais longo na nossa vida, graças ao tempo do cinema”, explica Heloísa.

Como sugere o título, o recorte pessoal da diretora mostra a possibilidade de “construir pontes” entre os defensores de convicções opostas que provocam distanciamentos. Não houve resistência do engenheiro Álvaro em participar do projeto. “Quando ele viu o resultado, disse: ‘Achei que ficaria chato e monótono, mas o filme não tem perdedor nem vencedor. É uma passagem, não deveria ser classificado como documentário, é uma história de família.”

CURITIBA

Na pré-estreia, em Curitiba – epicentro da Operação Lava-Jato –, houve bate-papo com o público. “Foi muito importante, falamos sobre direito constitucional e outras questões atuais. A sala estava cheia e a força das diferenças muito forte, mas preponderaram a importância e a necessidade de dialogar, senão o mundo vai ficar cada dia pior. Foi dito que o filme é um exercício da nossa democracia, que é muito nova. Tomara que essa troca – de ouvir o outro e de se tolerar – se espalhe para que tudo não se exploda”, comenta Heloísa.

Na próxima terça-feira (24), no Cine Belas Artes, está prevista sessão comentada de Construindo pontes, com debate mediado pela produtora Luana Melgaço e a presença da diretora. O bate-papo começa logo depois da exibição do documentário, marcada para as 19h30.

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