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Nome de projeção nacional, Luiz Cláudio analisa figurino de 'Pantera Negra'

Wakanda é formada por cinco tribos, que trazem elementos estéticos do continente africano. O filme ainda mostra a tribo Jabari - Foto: Marvel Studios/Divulgação“Queremos nos ver nas telas como heróis, protagonistas. Encontrar a nossa cultura retratada em um filme nos enche de orgulho”, diz o estilista mineiro Luiz Cláudio Silva sobre Pantera Negra, longa da Marvel Comics que já bateu a marca de U$ 1 bilhão nas bilheterias, tornando-se referência cultural e estética.


Luiz Cláudio é um dos raros negros no topo da cena fashion brasileira, com direito a desfilar criações para a grife Apartamento 03 na São Paulo Fashion Week (SPFW). “Produções como Pantera são importantes para mudar a perspectiva de invisibilidade de nossa comunidade, lugar viciado em que o preconceito racial nos colocou”, aponta.

Silva reforça essa ideia ao abordar a sua própria origem. “Aquilo que você vivencia de perto passa a formar suas referências, pois é muito natural que enxerguemos a nós mesmos em nossos pares. De cadeira, posso dizer: o maior estrago se dá no contato com as mídias, revistas, nos comerciais. A televisão e o mundo parecem ‘corretos e brancos’ pra você: ao abrir uma revista ou em qualquer lugar para o qual o negro olhe, ele não se vê representado em imagens de beleza e sucesso, em comerciais de margarina ou nas mesas fartas das festas. Ao contrário, a imagem semelhante à sua é sempre ligada a situações de abandono, marginalidade, pobreza, vícios. Imagine o quanto isso faz mal a uma criança, a um adolescente.

Como construir a autoestima vivendo e crescendo nessa experiência?”, questiona.

Luiz Cláudio: "tudo ficou incrível, repleto de referências a tribos e à estética de todos os cantos do continente africano" - Foto: Marvel Studios/Divulgação A princesa Shuri usa figurino que mescla tradição e modernidade - Foto: Marvel Studios/DivulgaçãoAo analisar o figurino do blockbuster em cartaz na capital mineira – protagonizado por um super-herói negro e com elenco predominantemente afro-americano –, Luiz Cláudio Silva elogia o trabalho de Ruth E. Carter. “Tudo ficou incrível, repleto de referências a tribos e à estética de todos os cantos do continente africano. E também é um trabalho político”, afirma.

Além de peças fundamentais para a trama, como o traje do protagonista T’challa (Chadwick Boseman) construído com o fictício e poderoso metal vibranium, o estilista destaca o figurino da guarda real, composta por mulheres negras. “Há o apelo bélico, mas essa escolha realça, principalmente, a beleza e a força femininas, amparando-se em símbolos de riqueza e status.” Silva chama a atenção para as cicatrizes ostentadas pelo vilão Erik Killmonger (Michael B. Jordan) e para as vestimentas em tons de vermelho, homenagem aos povos maasai (da Tânzania e do Sul do Quênia), himmba (da Namíbia) e da Etiópia.

“Os acessórios da Shuri (Letitia Wright) e os anéis de pescoço das guerreiras remetem à tribo ndebele, do Zimbábue. Não sai da minha cabeça a guarda Dora Milaje vestida de vermelho nas cenas de luta e perseguição nas ruas da Coreia do Sul.
Toda essa construção evoca elementos de uma pesquisa muito linda sobre a África, tudo com aspecto real, cuidadoso com a ancestralidade e as tradições locais”, diz o estilista.

Luiz Cláudio lembra que a afro-descendente Ruth E. Carter assinou vários trabalhos sobre o lugar e a voz dos negros em Hollywood, muitos deles em parceria com o cineasta Spike Lee. Cita os filmes Tina (1993), Amistad (1998), Malcom X (1993) e Selma (2014), além da minissérie Raízes (2006). “Precisamos da representatividade dessa força negra na mídia. É crucial um posicionamento que colabore para acabar com a visão da África e dos afrodescendentes apenas a partir do olhar do colonizador.”

CUIDADO Questionado sobre a apropriação da estética étnica em coleções de moda, Luiz Cláudio se mostra cauteloso. “Buscar inspiração em moda étnica ou tribal é algo que deve ser feito com cuidado e respeito. Não concordo em usar elementos que são símbolos de resistência e luta fora de contextos e posicionamentos claros, apenas por apropriação da beleza. Isso me parece vazio”, diz.

O estilista destaca que Pantera Negra pôs outra África na tela.
“Sempre se fala do continente a partir da colonização e da escravidão. Não é dito e não nos foi ensinado que ele já era rico de histórias muito antes de o branco aparecer. A colonização e a subjugação dos africanos pelas nações europeias no século 19 são citadas várias vezes no filme. A própria atriz Lupita Nyong’o afirmou que Wakanda representa o que as nações africanas poderiam ter sido se não tivessem sido colonizadas pelos brancos. Vi claramente os personagens T’challa e Killmonger defendendo ideias divergentes, assim como fizeram Martin Luther King e Malcolm X”, observa. Você já viu o filme? Confira o trailer:

 

 

Fashionistas negros conquistam espaço

 

Estilistas negros têm pouco destaque nas principais semanas de moda do Brasil e do mundo. Eles representam menos de 1% entre os listados no site especializado VogueRunway.com. “Somos raridade nesse mercado, e não apenas nele. Mas há a força vinda de pessoas usando o seu espaço de trabalho para mudar isso, construindo imagem de positividade a fim de contribuir para formar um novo pensamento”, diz o estilista Luiz Cláudio Silva.

O mineiro conta que usa o próprio Instagram (@luiz_ap03) para dar visibilidade ao negro. “Sei o quanto é importante ele se ver representado em imagens positivas”, diz.
E lembra que vários colegas pensam como ele: Virgil Abloh, da Off-white, Maxwell Osborn, da Public School, e Olivier Rousteing.

“Quando assumiu o estilo da Balmain, aos 26 anos, Rousteing disse que o mundo da moda estava em choque não por sua pouca idade, mas pela cor de sua pele”, conta. Lembra também que Laura Smalls ficou conhecida depois de vestir Michelle Obama – “aí você vê a forca da cor, que une a negritude e te impulsiona”.

No Brasil, ressalta Luiz Cláudio, há a grife Lab, comandada por Evandro Fióti, irmão do rapper Emicida, que põe apenas modelos negros na passarela da São Paulo Fashion Week, e Wilson Ranieri. “É preciso usar todas as artes e plataformas para rever conceitos pré-definidos”, conclui o estilista mineiro. 

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