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Longa '120 batimentos por minuto' une política e emoção

“Queremos começar uma nova organização dedicada à ação política?”, perguntou o escritor, dramaturgo e ativista LGBT Larry Kramer. O sonoro sim que veio da plateia nova-iorquina foi uma resposta para uma demanda de pessoas que, no início de 1987, conviviam com a Aids com a pecha de “câncer gay”.

Dias depois da fala de Kramer houve a primeira reunião da Aids Coalition to Unleash Power (Coalizão para Desencadear o Poder, em tradução livre), mais conhecida como Act Up. O grupo ativista rapidamente ganhou braços em outros locais do mundo. À França chegou em 1989.

120 batimentos por minuto, longa-metragem do cineasta marroquino Robin Campillo, mostra a trajetória da Act Up em Paris na primeira metade da década de 1990. O filme, que estreia nesta quinta-feira (25) em BH, chega com boas credenciais. Só no Festival de Cannes foram três troféus, incluindo o Grande Prêmio do Júri.

 

 

Ações não violentas, mas com o intuito de incomodar, foram a base de atuação do grupo, do qual Campillo fez parte justamente no período retratado no filme. Na época, a Aids, não custa lembrar, era vista como uma síndrome que tinha como vítimas gays, drogados e prostitutas.

Sem recair no filme institucional, Campillo conta a trajetória da Act Up e seus principais integrantes. Filmado com câmera na mão, o longa intercala as ruidosas reuniões semanais do grupo, e a tentativa dos homens e mulheres manterem uma vida o mais normal possível, apesar dos avanços da doença e da carência de tratamento.

O governo de François Mitterrand (1981/1995) se recusava a desenvolver uma política pública efetiva para tentar diminuir a contaminação.

Por outro lado, laboratórios tampouco apresentavam resultados efetivos contra a doença.

DESCASO No meio desta encruzilhada, os integrantes da Act Up tentavam chamar a atenção para o descaso com as vítimas da Aids. Fosse com bombas de tinta vermelha, que imitavam o sangue; fosse com manifestações com cartazes que mostravam que jovens estavam morrendo e que a Aids não poupava ninguém. O embate de ideias – alguns são contrários à ideia de ações mais agressivas – chega a dividir o grupo. Mas, no fundo, todos sabem que estão em meio a uma cruzada de vida e de morte.

À medida que a narrativa se desenvolve, Campillo centra mais sua lente para o casal de protagonistas. Sean Dalmazo (o argentino Nahuel Pérez Biscayart, destaque do elenco) é um dos ativistas mais atuantes da organização. Bem-humorado e crítico, ele logo desperta o interesse de Nathan (Arnaud Valois), recém-chegado à Act Up.

Nathan é soronegativo, enquanto Sean começa a desenvolver a doença. O avanço da Aids não impede o relacionamento.
A câmera sempre muito próxima de Campillo é testemunha de uma das mais eróticas (mas nem por isso explícitas) cenas de sexo gay da produção cinematográfica recente.

O título 120 batimentos por minuto faz referência tanto às batidas do coração quanto às da música eletrônica – imagens dos personagens dançando ao som da house music expressam a liberdade que a doença estava levando embora.

Já na parte final do filme, Campillo deixa o coletivo para se concentrar no individual, com o destino do casal de protagonistas. A narrativa perde um pouco sua força, mas nada que diminua um trabalho que une, com maestria, drama e posicionamento político.

 

Abaixo, confira o trailer de 120 batimentos por minuto

 

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