Diretor comemora o sucesso da trajetória do Asdrúbal Trouxe o Trombone

Grupo projetou Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães, entre outros atores

Helvécio Carlos
Hamilton Vaz Pereira fez 60 entrevistas para o documentário. 'Foram praticamente quatro longas', diz - Foto: Sidney Lopes/EM/D.A Press

O documentário Asdrúbal Trouxe o Trombone, que narra a história de um dos mais importantes grupos de teatro do país, só deu alegria a Hamilton Vaz Pereira, diretor da trupe e responsável pela empreitada televisiva. Exibido pelo canal Viva, o último episódio vai ao ar em 30 de dezembro.

De 1974 a 1984, a companhia carioca trouxe um sopro de renovação às artes cênicas brasileiras. Criação coletiva, despojamento e a dramaturgia particular eram características do Asdrúbal.

“Sou o mais feliz dos homens. Estou há três anos trabalhando nessa série documental. Imagine falar de um grupo que existiu há 40 anos... É sensacional!”, vibra Hamilton. O Asdrúbal projetou nacionalmente Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Perfeito Fortuna, Patricya Travassos e Nina de Pádua, além do próprio dramaturgo.

Ficaram famosas as montagens dos clássicos O inspetor geral, de Gogol, e Ubu Rei, de Alfred Jarry, além da criação autoral do Asdrúbal. Trate-me leão, por exemplo, fez história.
A farra da Terra e Aquela coisa toda também chamaram a atenção de crítica e público, atraindo os jovens para o teatro naqueles anos 1970.

Hamilton não esconde o encantamento com a repercussão da série. “Não só os sexagenários se lembram dos bons tempos, como a ala jovem de 40 anos”, diz. O dramaturgo, diretor e ator se entusiasma com o time de admiradores do Asdrúbal que deram depoimentos importantes para o projeto. “Sempre voltava para casa exausto. Não só fisica, mas emocionalmente, por ter em mãos declarações daqueles medalhões.” Em três semanas ele fez 60 entrevistas.

Fernanda Montenegro, José Celso Martinez Correa, Heloisa Buarque de Holanda e Caetano Veloso estão entre os entrevistados do filme. “Tenho um Museu da Imagem e do Som”, brinca Hamilton, referindo-se à quantidade e à qualidade das gravações. “Houve uma generosidade muito grande de quem se dispôs a falar não só do Asdrúbal, mas de teatro e da arte criada entre os anos 1960 e 1980”.

O documentário consumiu muito tempo e dedicação. A edição começou em agosto do ano passado e o filme, com 13 episódios, estreou em 18 de novembro. “Edição caprichadíssima”, ressalta. Ponto por ponto eram selecionados por Hamilton e Sérgio Mekler. “Fizemos praticamente quatro longas”, contabiliza.

VHS Apesar da importância do Asdrúbal, não havia a ideia de fazer um especial para a televisão sobre a trajetória da trupe. Certo dia, Hamilton recebeu pelos Correios a encomenda enviada pelo amigo Alexandre Negrão. Fitas VHS – acompanhadas da frase “toma que o filho é teu” – reuniam horas e horas de gravações dos tempos em que a companhia estava radicada em São Paulo.

Meses depois, outra surpresa.
A cineasta Ruth Slinger mandou outra leva de material em HD. “Caramba, vou botar isso na estante, vai juntar uma poeira louca”, pensou Hamilton. Ele procurou Augusto Casé – “nosso chapa lá de trás” – e o projeto surgiu. A primeira ideia foi rodar um filme. Fazer o roteiro foi tranquilo, pois Hamilton sabia exatamente o que queria. “Conhecia aquela história de cabo a rabo, tinha o domínio dos acontecimentos. Fiz a arqueologia de mim mesmo”, conta.

A peça Trate-me leão, que estreou em 1977, nunca foi remontada, mas, recentemente, o texto ganhou duas leituras dramáticas. Uma com atores jovens da cena carioca, outra em São Paulo.

“O encontro na Cidade das Artes, no Rio, foi um sucesso. Rapaz, a plateia ria e aplaudia... Foi encantador.
Em São Paulo, com outra turma, foi exuberante”, recorda. “E olha que era uma peça de época, sem celular, internet, rede social. Se alguém precisasse falar com outra pessoa, precisava ir ao orelhão”, compara Hamilton. Ele não descarta a possibilidade de remontar o texto. “Nunca aconteceu de um produtor me procurar para isso, mas adoraria.”

BICHA Ao comentar o humor feito atualmente na televisão, o dramaturgo diz gostar do que tem visto. Refere-se não só à produção como à forma. “Já não aguentava mais piada de bicha. Até um tempo atrás, fazia-se piada sobre gay, preto e aleijado no teatro. Por força da nova atitude social, isso começa a desaparecer. Há a busca de outros elementos para promover o quaquaquá da plateia. Isso é um avanço”, observa.

Hamilton se diz fruto de uma geração que não acha graça em rir das dificuldades dos outros. “Somos menos burros e brutamontes. Você pode colocar o público rindo de uma coisa que não está legal, mas sem ofender ninguém”, acredita. “Outro dia, zapeando os canais de televisão, tomei um susto com o Zorra, programa que está bem acabado. O humor na TV tem a diversidade própria do brasileiro.”

Diretor da nova versão da peça 5X comédia (em parceria com Monique Gardenberg), ele elogia os atores com quem trabalha. O elenco reúne Bruno Mazzeo, Debora Lamm, Fabiula Nascimento, Luiz Miranda e Thalita Carauta. Cada um deles contribuiu para acrescentar algo particular e criativo ao espetáculo, conta. “Porém, você vê que tem muita ideia sendo chupada dos outros, sem talento algum. Muita gente apenas repete o que foi feito no passado”, lamenta.

ASDRÚBAL TROUXE O TROMBONE

• Documentário dirigido por Hamilton Vaz Pereira
• 13 episódios
• Canal Viva. Aos sábados, às 18h, até 30/12.
• Disponível no Now.