Filme sobre dois estranhos que sobrevivem a uma queda de avião não convence nem emociona

Depois daquela montanha, dirigido pelo palestino Hany Abu-Assad, tem Kate Winslet e Idris Elba nos papeis principais, mas nem isso salva a obra

por Mariana Peixoto 02/11/2017 07:44
FOX/DIVULGAÇÃO
(foto: FOX/DIVULGAÇÃO)

No gelado inverno norte-americano, um homem e uma mulher se conhecem no aeroporto de Salt Lake City. O mau tempo impede que qualquer avião decole, mas eles não podem esperar. Ele é um neurocirurgião que tem uma operação de urgência marcada para a manhã seguinte. Ela vai se casar, também no mesmo dia.

Num rompante, ela freta um velho bimotor de um ex-piloto de guerra e a dupla, que acabou de se conhecer, embarca com destino a Denver. O piloto, que não fez plano de voo e sempre viaja na companhia de um labrador, tem um derrame. O avião cai, e a dupla de passageiros vai parar no meio de uma cordilheira gelada.

Depois de 10 minutos de projeção, não é preciso se esforçar muito para entender onde Depois daquela montanha vai tentar levar o espectador. Mais difícil é saber por que Kate Winslet e Idris Elba entraram numa empreitada que tem tudo para ser uma gelada (Michael Fassbender, Margot Robbie, Charlie Hunnam e Rosamund Pike pularam fora antes). A direção é do palestino Hany Abu-Assad, nome de prestígio no cenário internacional, com duas indicações ao Oscar de filme estrangeiro (Paradise now, de 2005, e Omar, de 2013).

ADAPTAÇÃO

Mas pouco se salva neste filme, adaptação do livro homônimo de Charles Martin (mais um autor de livros açucarados à la Nicholas Sparks). Depois daquela montanha é um amontoado de clichês românticos. Ainda que mais da metade da narrativa seja centrada na tentativa de sobrevivência da dupla, a intenção clara é fazer com que o espectador embarque na relação do casal.

Elba é Ben Bass, britânico que vive nos EUA. Fala pouco, ao contrário da fotógrafa Alex Martin (Winslet), especializada em cobrir zonas de conflito. Ela está com um ferimento na perna. Ele, a despeito da queda e do avião partido no meio, pouco sofreu. Ela é pura emoção; ele, razão. E essa relação coração/cérebro vai sendo utilizada pelos próprios personagens ao longo da narrativa.

E dá-lhe situações impossíveis ao longo das semanas que os dois permanecem presos naquela imensidão – as tomadas na neve (as locações foram no Canadá) são a estrela do filme, principalmente os longos planos. A mais inverossímil delas mostra a personagem de Winslet, mesmo mal andando, matando um puma com uma pistola de sinalização.

A falta de química entre os atores e um roteiro mal escrito não ajudam em nada. “Podemos morrer juntos e eu nem sequer conheço você”, diz, num determinado momento, a personagem de Winslet. Não dá para levar a sério.

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