
De A felicidade não se compra (1946) a O sexto sentido (1999) – que se mantém como o filme de terror mais bem-sucedido de todos os tempos –, a meca do cinema ofereceu, por décadas, um olhar sobre o reino dos céus.
A mais recente tentativa é Além da morte, em cartaz em Belo Horizonte. Trata-se da nova versão do clássico Linha mortal (1990), trama sobre estudantes de medicina que passam para o outro lado.
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“De alguma forma, a morte é o último grande mistério. É como a profundidade do mar ou o espaço”, afirma o cineasta Niels Oplev. “Sabemos mais sobre o Big Bang do que sobre a contagem final”, observa o dinamarquês.
Quem tem mais de 40 anos vai se lembrar da premissa de Linha mortal: jovens obcecados pelo mistério do além embarcam em um experimento ambicioso e perigoso. Ao parar o coração por curtos períodos, cada estudante tem uma experiência próxima da morte, enquanto os colegas monitoram a atividade cerebral do colega em busca de provas sobre o que ocorre além da vida.
Dirigida por Joel Schumacher, a produção original era protagonizada por Kiefer Sutherland, que faz rápida aparição no remake de 2017, Kevin Bacon e Julia Roberts.
CRÍTICA
Oplev diz que seu filme, coproduzido por Michael Douglas, não se limita aos mistérios da vida e da morte. Critica também um aspecto da cultura americana.
“A disputa para construir uma carreira, ter um emprego é muito mais difícil para a juventude de hoje do que há 27 anos. Os jovens tomam qualquer tipo de porcaria para conseguir estudar 12 horas, para ficar acordados”, adverte o diretor de Além da morte. “Eles têm o desejo de tomar um comprimido como atalho para a grandeza. Acham divertido e maravilhoso, até que a conta chega”, diz Oplev.
No caso de Além da morte, a conta é exorbitante. Ao experimentar morte e ressurreição, os personagens se veem às voltas com terríveis criaturas sobrenaturais que os obrigam a enfrentar ações passadas das quais se arrependem.
Terror psicológico
A ciência avançou tanto nos últimos 25 anos que o diretor Niels Arden Oplev trabalhou com médicos para adaptar a trama de Além da morte à tecnologia contemporânea. Diagnósticos e prescrições são autênticos. Além disso, os atores aprenderam a usar equipamentos da maneira correta. Sabem, por exemplo, aplicar injeções como um profissional o faz.
Porém, ao contrário do que exibem as produções de Hollywood, não se pode ressuscitar alguém com choques elétricos sem antes haver batida do coração. “Obviamente, por estar fazendo um filme e não um documentário, tomamos algumas liberdades. Mas a ideia é ser o mais preciso possível”, explica Lindsey Somers, consultora em saúde. Ela e uma equipe de enfermeiras, radiologistas e neurocirurgiões assessoraram Oplev.
Diferentemente de Linha mortal, Oplev usa o terror psicológico com grande intensidade, algo sob medida para as gerações deste século 21, que dificilmente se deixam impactar.
“O primeiro filme foi de grande inspiração para nós”, ressaltou o cineasta dinamarquês. “Mais do que um remake, fizemos uma reinterpretação”, conclui. (Frankie Taggart/AFP)