'Blade Runner 2049', dirigido por Dennis Villeneuve, chega ao Brasil

Filme é a sequência do clássico de Ridley Scott, que agora produz o longa. Elenco conta com Ryan Gosling, Jared Leto e participação de Harrison Ford

por Mariana Peixoto 05/10/2017 09:00

Sony Pictures/Divulgação
Ryan Gosling é K., o agente da polícia de Los Angeles que deve encontrar e eliminar um tipo específico de androides. (foto: Sony Pictures/Divulgação)

''Eu já tive o seu trabalho. E era bom nisto'', diz Rick Deckard. ''As coisas eram mais simples antes'', retruca K.

É apenas na segunda metade das 2h40min de Blade Runner 2049 que os dois caçadores de replicantes se encontram. Deckard, o personagem que Harrison Ford reprisa agora, 35 anos depois do filme original, é um homem entregue ao passado. Passou a vida escondido para poder guardar seu maior segredo.

K., sua versão 30 anos mais jovem, papel de Ryan Gosling, é igualmente um homem em conflito com o passado. Acredita que o segredo de Deckard também lhe pertence.

Com estreia hoje no Brasil e amanhã nos Estados Unidos, Blade Runner 2049, de Denis Villeneuve, é tudo o que os fãs do icônico Blade Runner (1982), de Ridley Scott, podem esperar de uma sequência.

Villeneuve, que estreou na ficção científica no ano passado com A chegada, nos coloca num mundo decadente, 30 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme (Ridley Scott não quis assumir a direção; atua aqui como produtor).

Uma missão leva o agente K., da Polícia de Los Angeles, a sair no encalço de um velho modelo de replicante, os androides que pensam, agem e sentem como os humanos. Agora, os novos modelos, produzidos pelo conglomerado de Niander Wallace (Jared Leto) não têm mais data de validade. Somente os antigos, produzidos três décadas antes, devem ser exterminados. Ou melhor, aposentados, o eufemismo utilizado pela polícia.

''Um milagre'', palavras que o replicante da velha-guarda Sapper Morton (Dave Bautista) diz a K. pouco antes de ser aposentado, leva o blade runner a uma caixa. É ali que K encontra o caminho que pode explicar o impossível: uma criança, nascida de uma androide.

A busca leva o protagonista a uma caçada. Ora caçador, ora caça, K. vai desvendando a história (e a de si próprio) em meio a um cenário desolador (as filmagens foram realizadas na Hungria). Tem que responder à chefe policial (Robin Wright), a uma androide implacável (Sylvia Hoeks) e à amiga/confidente/namorada virtual (Ana de Armas).

SONHO Blade Runner 2049 conta uma nova história, mas não procura fugir à fonte. A atmosfera de sonho (por vezes pesadelo) do filme anterior continua presente, com um clima sempre soturno, claustrofóbico. Tempestades tomam conta da história por mais de uma vez, num cenário de pura desolação. O humor é mínimo. São, na verdade, pequenas ironias. Deckard escolheu uma abandonada Las Vegas para viver. Suas companhias se resumem a um cachorro, centenas de garrafas de uísque e imagens holográficas de Elvis e Frank Sinatra.

Uma das trilhas sonoras mais marcantes da história do cinema, a do Blade Runner original, assinada por Vangelis, foi recriada aqui por Hans Zimmer, que, inteligentemente, manteve o tema original.

Melhor ou igual ao anterior? Perguntas como essa não fazem muita diferença sobre Blade Runner 2049.

O principal é que na nova narrativa (é aconselhável, mas não indispensável ter assistido ao filme original) Villeneuve continua mantendo os questionamentos que o escritor Philip K. Dick fez 50 anos atrás: o que é um homem? O que nos faz humanos?. E o faz com uma história coesa, que reverencia a anterior, e um elenco à altura dos personagens. Harrison Ford, por sinal, está fazendo seu melhor papel em muitos anos.

Três perguntas para... Jared Leto, ator e músico 

Sony Pictures/Divulgação
(foto: Sony Pictures/Divulgação)
 

A participação de Jared Leto é pequena em Blade Runner 2049. São apenas duas, porém boas, sequências. Aproveitando a vinda para o Rock in Rio no mês passado, onde se apresentou com sua banda, 30 Seconds to Mars, o ator e músico de 45 anos, que viverá Hugh Hefner no cinema, concedeu uma série de entrevistas no Brasil. A conversa com o Estado de Minas ocorreu não mais do que 12 horas depois do show na Cidade do Rock.


Um dia você está com a banda, no outro falando de um novo filme. Música ou cinema?
Se eu tivesse que escolher, seria a música. Meu irmão está na banda (o baterista Shannon Leto), então, para mim, música é família. Além do mais, nas turnês a gente viaja pelo mundo de uma maneira diferente. A melhor coisa de se fazer música é que você é você mesmo, não tem nenhuma atuação envolvida. Música é algo pessoal, pelo menos para mim. Vou para o palco por causa do público, não por mim. Agora, Blade Runner foi um filme muito especial. Sou muito fã do filme original, que foi importante para mim quando eu estava crescendo. Ele me ensinou muito sobre cinema, atuação, sobre como contar histórias. É um filme a que assisto pelo menos uma vez por ano.

Você emagreceu muito para os filmes Réquiem para um sonho e Clube de compras Dallas. Para o Wallace de Blade Runner utilizou lentes de contato que o deixaram sem enxergar. Tais esforços físicos são essenciais para que você entre nos personagens?
No caso de Blade Runner, a escolha foi minha. Não acho que todo papel demande um esforço físico. Você pode chegar lá e fingir, usar sua imaginação. Na verdade, o que estava escrito no roteiro era tão bom que só tive que aparecer e falar as palavras. Além do mais, quando você está sentado perto do Harrison Ford, realmente não precisa fazer muito.

Você também é conhecido por ser seletivo na escolha de seus papéis. O que lhe interessou em Wallace, além da participação em um novo Blade Runner?
O poder que ele emana, assim como sua inteligência. E a maneira como ele fala. É um papel muito pequeno no filme, mas é capital para a história. E, honestamente, é um dos meus filmes favoritos. A equipe envolvida é incrível. Espero que ele vá bem para que possamos fazer outro.

Você foi muito criticado pelo Coringa de Esquadrão suicida. Importa-se com o que escrevem sobre você?
Não leio sobre mim mesmo, isso não é uma coisa saudável. Seria basicamente como se você, no seu escritório, perguntasse às pessoas o que elas acham do que você faz... Suas roupas, o que você diz e pensa. É algo meio maluco, e a gente tem que ser cuidadoso com as pessoas.

 

Abaixo, confira o trailer: 

 


NOVA EDIÇÃO
A editora Aleph lança uma edição comemorativa de 50 anos de Androides sonham com ovelhas elétricas?, obra de Philip K. Dick que inspirou Blade Runner. A nova publicação, com 336 páginas, conta com dois textos inéditos, um prefácio assinado pelo escritor e jornalista argentino Rodrigo Frésan e ilustrações feitas por artistas nacionais e estrangeiros. Preço: R$ 79,90.

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