It: A coisa é terror com bom equilíbrio entre humor e violência

Adaptado da obra de Stephen King, o filme conseguiu um feito raro no gênero

Breno Pessoa
- Foto: WARNER/DIVULGAÇÃO

Não existe explicação precisa para a coulrofobia, o termo psiquiátrico para denominar o medo de palhaços, mas a cultura pop pode ter contribuído na formação de um imaginário macabro relacionado às figuras circenses. Uma das representações mais populares veio do escritor norte-americano Stephen King, cujo livro It: A coisa (1986) apresenta um perverso assassino escondido por camadas de maquiagem e um nariz vermelho. Pouco mais de três décadas após a publicação, o protagonista da obra é transportado para os cinemas em filme homônimo, em cartaz desde quinta nos cinemas.

É a primeira adaptação propriamente cinematográfica do romance, mas o título já foi transformado em série televisiva nos anos 1990, lançada no Brasil como telefilme intitulado It: Uma obra-prima do medo. Com três horas de duração, atuações fracas e efeitos visuais capengas, a primeira incursão não é exatamente memorável, mas transpôs a essência das mais de 1,1 mil páginas do livro de King.

Diferentemente da versão anterior de carne e osso do palhaço, o novo Pennywise, interpretado por Bill Skarsgård, deixa de lado qualquer traço de candura e ingenuidade emprestada por Tim Curry na encarnação antiga, caracterização marcada pela transição entre facetas brincalhonas e expressões aterrorizantes. Essa mudança poderia ser encarada apenas como perda de sutileza, mas se mostra coerente com a atmosfera sombria criada pelo diretor Andy Muschietti (Mama).

ESGOTO


Meses após ter o irmão mais novo desaparecido, o adolescente Bill (Jaeden Lieberher) reúne amigos para uma busca na rede de esgoto local. O garoto tem esperanças de que o caçula tenha ido parar lá, já que a criança foi vista pela última vez próxima a uma galeria pluvial, onde deixou um rastro de sangue. Chamado de Clube dos Perdedores, o grupo de adolescentes Ben (Jeremy Ray Taylor), Richie (Finn Wolfhard), Mike (Chosen Jacobs), Beverly (Sophia Lillis), Stanley (Wyatt Oleff) e Eddie (Jack Dylan Grazer) segue a jornada para elucidar o sumiço misterioso.

Longe de ser caso isolado, o desaparecimento é mais um de um longo histórico na pequena cidade de Berry, todos aparentemente relacionados ao sinistro Pennywise. Atraído pelo medo de suas vítimas, o palhaço persegue os possíveis alvos manifestando-se na forma dos seus maiores temores.
Sem abrir mão do sangue e da violência nem deixar de lado os aspectos mais fantásticos da trama, o filme oferece uma boa dose de cenas elaboradamente assustadoras.

A materialização dos pavores de cada uma das crianças, além de proporcionar bons momentos de terror, ajuda na construção dos personagens, embora em alguns momentos torne a narrativa fragmentada. Carismático, o elenco infantil cria um ótimo contraste ao clima constante de pesadelo. Com bons diálogos, pontuados por piadas que parecem realmente saídas da imaginação juvenil, os integrantes do Clube dos Perdedores emulam bem a química vista em produções ambientadas nos anos 1980, como Goonies, Conta comigo ou os mais recentes Super-8 e Stranger things. Aliás, Finn Wolfhard, da série da Netflix, é um dos trunfos do elenco e responsável por ótimas tiradas.

It: A coisa realiza algo raro em filmes de terror – o bom uso do humor, sem que o recurso diminua a sensação de medo construída nas sequências mais macabras. Assustador e divertido na mesma medida, o filme é uma boa adaptação da obra de Stephen King. Embora a trama se encerre no longa, ela não traz a íntegra do livro e, a depender do sucesso, deve ganhar continuação, ainda não oficializada, mas já em fase inicial de desenvolvimento..