Ben (Viggo Mortensen) e os seis filhos criados de maneira anárquica – em contato direto com a natureza, sem dar valor a bens materiais e com muita consciência político-social – encantaram o público em Capitão Fantástico (2016), garantindo ao ator a segunda indicação ao Oscar. Escrita e dirigida por Matt Ross, a história é pura ficção. Algo bem diferente de O castelo de vidro, de Destin Daniel Cretton, que chega nesta quinta-feira, 24, aos cinemas. Aqui, o ponto de partida é o best-seller homônimo e autobiográfico publicado em 2005 pela jornalista Jeannette Walls. Ela conta a história de sua própria família.
Com os três irmãos, Jeannette teve infância e adolescência nômades no interior dos Estados Unidos. Os pais – Rex, um ex-militar, e Rose Mary Walls, artista – se recusavam a se enquadrar nos padrões. Viviam de um lugar para o outro, morando em casebres e imóveis emprestados. Os filhos, que na infância não frequentaram escolas regulares, cresceram já com a responsabilidade de cuidar de si próprios.
Essa vida um tanto peculiar na infância foi ganhando contornos trágicos quando os filhos cresceram.
O castelo de vidro – referência ao grande sonho de Rex, uma casa de vidro em contato com a natureza e regida pela luz solar – conta essa história indo e vindo no tempo. Brie Larson (Oscar de melhor atriz por O quarto de Jack) interpreta a Jeannette adulta, uma jovem jornalista de fofocas de Nova York prestes a se casar com um yuppie.
Ela vive em conflito com o passado, ainda mais porque tem uma vida absolutamente contrária aos valores pregados pelos pais, anticapitalistas ferrenhos. O casal é interpretado com vigor por Woody Harrelson e com uma certa apatia por Naomi Watts.
POESIA O filme vai descortinando o drama aos poucos. Nada é preto ou branco. Os pais que deixam que os filhos cozinhem a própria comida ou que mal têm dinheiro para sustentar a família revelam-se amorosos. Rex é pura poesia quando pede, num descampado estrelado, que cada filho escolha a estrela que quiser como presente de Natal. Por outro lado, o casal não quer que os filhos busquem caminhos diferentes do que eles próprios resolveram seguir.
Como Jeannette, Brie Larson consegue demonstrar, com profundidade, os dilemas e contradições da personagem adulta. Sim, houve muita coisa errada no passado. Mas ela só é quem é hoje graças aos pais um tanto disfuncionais.
Correto, O castelo de vidro peca ao dar um tom de contos de fadas, típico de Hollywood (a parte final é reservada às lágrimas), à narrativa. Parece algo um tanto artificial para revelar a história de pessoas tão fora do comum.
Abaixo, confira o trailer: