Walter Carvalho reúne depoimentos de diretores em 'Um filme de cinema'

Documentário levou nada menos de 14 anos para ser concluído e entra em cartaz nesta quinta-feira, 24, no Cine Belas Artes

Helvécio Carlos

'Cinema é arte que transcende, perpassa várias artes dentro dele mesmo', diz o diretor Walter Carvalho. - Foto: ArtHouse/Divulgação


Se a sétima arte é mesmo o ofício da persistência, o documentário Um filme de cinema, de Walter Carvalho, que estreia nesta quinta-feira, 24, no Cine Belas Artes, é o melhor exemplo dessa determinação. O longa chega às telas 14 anos depois da primeira de uma série de entrevistas com diretores brasileiros (José Padilha, Júlio Bressane, Karim Aïnouz, Hector Babenco e Ruy Guerra) e húngaros (Bela Tárr e Benedek Fliegauf), além do polonês Andrzej Wajda, do iraniano Asghar Farhadi, do norte-americano Gus van Sant, do chinês Jia Zhangke, do inglês Ken Loach e da argentina Lucrecia Martel. Também fazem parte do grupo o dramaturgo brasileiro Ariano Suassuna e o ator italiano Salvatore Cascio.

Walter Carvalho explica que o filme, feito para atender aos seus próprios questionamentos como diretor, foi rodado paralelamente a outros trabalhos. Essa estratégia facilitou o encontro com alguns dos mestres entrevistados. Tárr, por exemplo, foi ouvido durante o tempo livre nas gravações, na Hungria, de Budapeste, longa baseado no livro homônimo de Chico Buarque.

''Não tenho a pressa que aniquila o verso'', resume Carvalho. O cineasta e diretor de fotografia paraibano conta que, se dependesse dele, o filme não terminaria. ''Não é uma questão de capricho, vaidade ou bossa'', assegura. ''A linguagem do cinema se modifica e se enriquece ao longo do tempo.
Ela é dinâmica, tem uma vida. Sempre estarei em busca dessa coisa que não cessa.''

O longa só foi concluído com a entrada de patrocinadores, o que o obrigou a marcar a data de estreia. ''Mas posso continuar o segundo, uma série...'', diz Carvalho. O resultado o satisfez, garante. ''Ao mesmo tempo em que o filme respondeu a algumas dúvidas, por outro lado abriu um leque para outras questões. O cinema tem muitos aspectos: é tátil e visual, pode ser teatro, música. Cinema é arte que transcende, perpassa várias artes dentro dele mesmo'', teoriza. ''Filmar é encher a tela de sonhos.''

PLANOS
Do projeto inicial do documentário ao resultado final, muita coisa mudou – e radicalmente. O desejo era mais amplo. Carvalho planejou reunir planos marcantes de filmes brasileiros em uma única obra. Porém, não encontrou vários deles.

No papo com os colegas, o paraibano estabeleceu discussões filosóficas. Há também uma pitada de bom humor, além da sinceridade de Ariano Suassuna ao relatar seu primeiro contato com o cinema. O filme em questão, Cavadoras de ouro, era ''tediosíssimo'', conta ele.
''A visão de criança de Ariano se confunde com Salvatore Cascio (ator de Cinema Paradiso), ambos encantados com o cinema'', diz o diretor.

No caso de Walter Carvalho, a admiração pela sétima arte veio dos filmes de faraoeste. ''Achava Roy Rogers fantástico'', revela.

Hoje, o que determina a linguagem cinematográfica é a tecnologia, afirma o diretor. ''Ela leva o cinema para outras plataformas, outros patamares. Ele evoluiu muito mais nos últimos 10 anos do que nos 150 anos a partir de sua invenção'', compara.

Walter Carvalho critica o atual momento cultural brasileiro. ''Estamos vivendo em um país tão estranho... O Rio de Janeiro está entregue a uma guerra particular entre bandidos, polícia e tráfico. Se não há respeito pelo outro, imagine pela cultura e pelo cinema'', lamenta.

 

Abaixo, confira o trailer:

.