Na trama, incumbido pelos sócios da financeira para a qual trabalha, o jovem Lockhart (DeHaan) deve ir à Suíça para trazer de volta a Manhattan o diretor-executivo da empresa, que se internou numa clínica em um castelo nos Alpes especializada em hidroterapias. Por causa de um acidente, Lockhart acaba como paciente da mesma clínica e começa a descobrir algo estranho naquele lugar aparentemente tão perfeito. Leia a seguir entrevista com o diretor.
De onde partiu a ideia para o roteiro que você e Justin Haythe criaram para o filme?
Nós dois somos fãs de A montanha mágica, de Thomas Mann, mas o filme não tem nada a ver com o livro, mas tem aquela ideia de gente agarrada à sua doença naquela época um pouco antes da 1ª Guerra. Hoje, como sociedade, nós também não estamos bem. O filme não é um comentário social, apenas toca numa espécie de sensação de que estamos com o mesmo diagnóstico. Partimos de ideias como a de pegar um homem moderno, colocá-lo num lugar velho o suficiente para ter visto a revolução industrial, dizer “você não está bem” e estar certo sobre isso. Mas também queríamos expor a ideia de a cura ser pior que a doença.
O filme estreia num período em que países como os EUA parecem precisar de uma cura, não?
Olha, seja de que lado do espectro estivermos, todos nós conhecemos história. Meio ambiente, economia, qualquer que seja a questão, ela entra nesse diagnóstico. A indústria farmacêutica está sempre inventando doenças para pôr pílulas no mercado. É um mundo louco, como se existisse um lugar onde é possível ser absolvido, onde os grandes líderes possam receber essa espécie de absolvição
Depois de dirigir três filmes da série Piratas do Caribe, ganhar um Oscar com a animação Rango e fazer O cavaleiro solitário, entre outros, você retoma o gênero de suspense com que trabalhou em O chamado (2002). O que o atrai nesse gênero?
Este filme é uma narrativa gótica contemporânea
Você filmou A cura na Alemanha, mas a história se passa na Suíça. Por que escolheu a Suíça como local dessa história?
Os Alpes suíços dão a sensação de ar fresco e limpo, mas é um lugar muito caro para filmar. Tínhamos um orçamento bem modesto, o filme é de um tipo difícil de fazer e este foi feito, desde o princípio, sem nada das facilidades de grandes estúdios. Mas é uma coisa que prefiro, porque não há quem se intrometa e você tem que fazer funcionar. Na Alemanha, tivemos um bom incentivo com isenção de impostos, fui para lá só com meu diretor de fotografia, Bojan Bazelli, e trabalhei com pessoas com quem nunca tinha trabalhado. Foi uma espécie de reinício, sem aquele conforto de trabalhar com quem se está acostumado. Então, retoma-se o espírito de pegar uma câmera e contar uma história. Nada de equipes enormes em que tudo dá errado! Para mim, foi catártico, foi minha cura!
O título original do filme, em inglês, é A cure for wellness (Uma cura para o bem-estar). Por que esse paradoxo?
É intencionalmente enigmático, dadaísta como um telefone lagosta (referência ao objeto criado pelo surrealista Salvador Dalí, em 1936). Esta é a questão principal: estamos tentando consertar alguma coisa que é benigna? É uma espécie de cegueira, todos hoje se debatem num mundo irracional. Não se aceita isso, mas a negação não vai adiantar. É como uma mancha no pulmão: você pode fazer de conta que ela não existe, mas isso não vai fazê-la desaparecer. (Estadão Conteúdo)