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'Beleza oculta', que estreia nesta quinta nos cinemas, é um enorme desperdício de talentos

Diretor David Frankel não aproveita o potencial de nomes como Will Smith, Helen Mirren, Kate Winslet e Naomie Harris

Pedro Antunes/Estadão Conteúdo Silvana Arantes
David Frankel, diretor de bons filmes como O diabo veste Prada, teve à sua disposição um elenco formado por Will Smith, Helen Mirren, Kate Winslet, Edward Norton, Michael Peña e Naomie Harris – que acaba de ser indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por Moonlight
. Em que pese a qualidade dos nomes envolvidos, Beleza oculta, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, é, em síntese, um enorme desperdício de talentos.
WARNER BROS/DIVULGAÇÃO - Foto: Will Smith e Helen Mirren em cena de 'Beleza oculta', em que ele interpreta um pai devastado pelo luto e ela, a Morte
Boa parte do decepcionante resultado do filme deve ser creditada (ou melhor, debitada) à mais do que excessiva dose de sentimentalismo de seu roteiro. O drama gira em torno de Howard (Smith), que tem direito a não mais do que 30 segundos solares na história, quando festeja a excepcional performance de sua agência de publicidade. É também o momento em que ele explica o trinômio no qual se baseiam suas campanhas: “tempo, amor e morte”, as três “abstrações universais”, porque, “no fim do dia, todos nós queremos ser amados e tememos a morte”.

Na cena seguinte, já se passaram três anos, Howard aparenta ter envelhecido ao menos 15 e um ar sombrio se apossou definitivamente de seu semblante. Ocorre que sua filha de 6 anos morreu de um tipo raro de câncer e, desde então, ele quase não dorme, mal se alimenta, separou-se da mulher, mudou-se para um apartamento sem telefone nem internet e, embora vá diariamente à agência, já não trabalha. Mas Howard ainda escreve – cartas raivosas para as três abstrações, que ele acusa de o terem aprisionado (o tempo), traído (o amor) e se negado a negociar (a morte).

ARMADILHA

É a esse ponto que seus três sócios na agência –  Claire (Kate Winslet), Wit (Edward Norton) e Simon (Michael Peña, o astronauta cristão de Perdido em Marte)  – se apegam para armar uma jogada que comprove o desequilíbrio mental de Howard e, com isso, afastá-lo da negociação de venda da empresa, antes que ela conclua seu caminho em direção à falência.

O truque teatral consiste em fazer com que o Amor, a Morte e o Tempo se materializem – nos corpos de Keira Knightley, Helen Mirren e Jacob Latimore, respectivamente – e retruquem as acusações de Howard. Mas cada um dos sócios tem também questões pendentes com o amor (Wit), a morte (Simon) e o tempo (Claire) e eles acabarão, de certa forma, sendo arrastados para dentro do próprio jogo.

Em benefício do filme deve-se notar que há ao menos duas boas piadas que quebram momentaneamente a artificialidade dos diálogos e da trama. Uma envolve psicanalistas e motoristas do Uber; a outra é quando a Morte se encanta com sua própria cena de improviso diante de Howard e conclui: “Foi Grotowski; foi pura Stella Adler”. Os poucos pontos altos do longa, aliás, pertencem a Helen Mirren, que propositalmente brinca de ser teatral.

Na reta final, o roteiro faz um giro que, se supõe, deveria surpreender o espectador. No entanto, essa é mais uma vez em que se torna embaraçosa a distância entre as intenções do filme e seu resultado. Descontados os fãs irremediáveis dos melodramas mais açucarados, o espectador provavelmente concluirá que, diferentemente de seu título, esse é um filme em que a beleza não é oculta, porque inexistente.