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Manchester à beira-mar estreia hoje com destaque para atuação de Cassey Afleck

Trabalho rendeu ao irmão de Ben Afleck o Globo de Ouro pelo papel de um tio que tem que encarar seu passado enquanto cuida do sobrinho

Mariana Peixoto

Lee Chandler (Cassey Afleck) é o tio que se vê obrigado a se tornar tutor do sobrinho Patrick (Lucas Hedges) - Foto: Sony Pictures/Divulgação

A atuação de Cassey Affleck – que lhe deu um Globo de Ouro e, muito provavelmente, uma indicação ao Oscar – colocou os holofotes em Manchester à beira-mar. Sim, o ator deve realmente receber todos os méritos. Mas sua presença é uma consequência da direção segura de Kenneth Lonergan.

Com o material que tinha em mãos, o cineasta e roteirista poderia muito bem cair num melodrama fácil. E o que ele tira da narrativa é uma história triste, porém seca, cheia de nuances, levada de forma lenta, sem sobressaltos.

Dramas familiares são um tema caro ao diretor, que estreou atrás das câmeras com Conte comigo (2000). Se o primeiro filme mostra o encontro de dois irmãos de temperamentos opostos (interpretados por Laura Linney e Mark Ruffalo), aqui, o que está em jogo é a relação de um tio com seu sobrinho.

Lee Chandler (Affleck) passa seus dias em meio a vazamentos de água, vasos sanitários entupidos e troca de lâmpadas. Resignado, vive como zelador de um conjunto de prédios em Quincy, subúrbio de Boston. A morte de seu irmão mais velho, Joe (Kyle Chandler), o tira repentinamente dessa desconfortável zona de conforto.

Volta à cidade natal, Manchester, lugarejo praiano no estado de Massachusetts, para cuidar do funeral e também da “herança” de Joe, o sobrinho adolescente Patrick (Lucas Hedges). Não vê a hora de resolver a questão e poder retornar à vida sem vida. Só que, sabedor dos dramas do irmão, Joe lhe armou uma. Em testamento, colocou Lee como tutor de Patrick, o que o obrigaria a voltar a viver em Manchester.

Toda a narrativa é contada de forma fragmentada, com cenas intercalando passado e presente. Já na primeira cena, ambientada no passado, vemos um tio amoroso se relacionando com o sobrinho criança no barco da família
. “Quem você levaria para uma ilha deserta: eu ou seu pai?”.

É sobre o que aconteceu com o rapaz feliz do passado e o homem sempre em estado de torpor do presente que Manchester à beira-mar trata – e a descoberta, que ocorre somente na metade da narrativa, é feita numa das cenas mais fortes da produção recente de Hollywood, graças à presença de Michelle Williams.

Affleck é sempre contido – com poucas falas, ditas num mesmo tom, deixa transparecer sua dor (e o peso da culpa) pelo olhar. Os (poucos) momentos de ternura aparecem na relação com o sobrinho. E a afeição vem sempre acompanhada de desconforto.

“Todos os meus amigos estão aqui. Estou na equipe de hóquei. Estou no time de basquete. Tenho que manter nosso barco. Tenho duas namoradas e uma banda. Você é um zelador em Quincy. Que diferença faz onde você mora?”, questiona o garoto, sem entender a atitude sempre negativa do tio em voltar para casa.

É com uma interpretação gigante, construída de forma milimétrica, que Affleck tenta responder ao garoto (e ao espectador) essa pergunta.

COTAÇÃO: MUITO BOM

 

Confira o trailer: