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Após 50 anos

Disney refilma Mogli agora dando ênfase à responsabilidade em relação à natureza

Agora a natureza está desaparecendo. Este Mogli percebe sua responsabilidade para com a natureza e seu impacto nela, diz diretor Jon Favreau

Agência Estado
Mogli e o parceiro Baloo em cena do longa: todas as sequências foram rodadas em estúdios de Los Angeles - Foto: Disney/Divulgação

Los Angeles –
Bem no fim dos créditos de Mogli – O menino lobo, o diretor Jon Favreau colocou uma frase atrevida: “Filmado em downtown Los Angeles”. “Mas é a pura verdade!”, ele diz, em entrevista no Hotel Beverly Hilton, em Beverly Hills. “As pessoas pensam que rodamos na floresta e adicionamos os animais digitalmente. E não foi nada disso. Tudo foi feito aqui.” A história escrita por Rudyard Kipling em 1894 e transformada em animação da própria Disney em 1967 ganha uma nova versão, onde tudo, exceto o protagonista Mogli (vivido pelo estreante Neel Sethi), é virtual, mas fotorrealista.

O espectador é transportado para uma floresta na Índia onde o menino foi criado por lobos e é visto como ameaça pelo tigre Shere Khan (Idris Elba no original, Thiago Lacerda em português). Ele persegue Mogli quando o garoto tenta voltar para junto dos humanos, acompanhado pela pantera Bagheera (Ben Kingsley e Dan Stulbach) e pelo urso Baloo (Bill Murray e Marcos Palmeira).

Você tinha experiência em filmar em efeitos visuais por causa de Homem de Ferro. O que foi diferente desta vez?


A grande mudança foi antes de começar o filme. Sempre fui fã da Pixar e da Disney.
Meu sonho era fazer um longa usando o mesmo processo, com planejamento, várias pessoas trabalhando antes mesmo de começar a rodar, tendo certeza absoluta de que a história funciona bem, assistindo-a em várias versões. Muitas vezes, eles fazem um longa sete ou oito vezes antes mesmo de decidir ir em frente com o projeto. Em live action, isso jamais aconteceria. Nosso processo foi pensado e eficiente. Não perdemos dinheiro, tempo, nada. Senti que aprendi muito como cineasta.

Na Pixar, eles têm o “conselho de cérebros” que assiste ao filme em vários estágios e dá opiniões. Teve algo parecido?


Sim! Eles mesmos! Trabalhamos com gente no estúdio de animação da Disney, aqui em Burbank. Também conheço John Lasseter faz tempo, porque minha sogra mora em Sonoma, como ele. Lasseter e Andrew Stanton me deixaram mostrar uma versão crua para o “conselho de cérebros”. E vou dizer: eles não medem palavras, dão muita opinião. Mas são muito talentosos e maravilhosos. É um presente ser parte disso.

A história é muito conhecida. O que fez para torná-la especial?


Quisemos dar ao público algo que só poderia realmente ser apreciado no cinema, que perde valor em home entertainment.
Tenho um equipamento ótimo em casa, então quase não vou ao cinema. Mas alguns filmes eu sei que preciso ver na tela grande. Star wars, por exemplo. Então, usamos alguns recursos, como rodar em 3D, da mesma forma que fizeram em Avatar. Também utilizamos as mesmas técnicas de Gravidade, só que na selva em vez do espaço.

Por que Mogli – O menino lobo ainda é relevante?


Parece um paradoxo, mas o que faz a história ser eterna também a torna relevante. Quando Kipling escreveu a história, a natureza era grande, aterrorizante, assustadora. Agora a natureza está desaparecendo. Este Mogli percebe sua responsabilidade para com a natureza e seu impacto nela. Os humanos não precisam controlar a natureza nem evitá-la. É possível ter harmonia com ela, o que é uma boa mensagem.
Aqui, usamos a tecnologia para criar algo fotorrealista, empolgante, um pouco menos infantil do que o musical dos anos 1960.

Fazer os animais falarem foi o maior desafio de um filme fotorrealista?


Sim. E também incluir a música do desenho de 1967 no longa, de forma a não arruiná-lo nem transformá-lo num musical. São as duas coisas que me deixaram mais inseguro. Estou curioso para saber como vão ser recebidas. (Mariane Morisawa/Estadão Conteúdo).