"Acabei de ver 15 negros na montagem de abertura. Bem-vindos ao White People Choice. Se eles escolhessem os apresentadores, nem eu estaria aqui e, sim, Neil Patrick Harris", disparou, em indireta para o criticado apresentador do ano passado. A provocação foi respaldada pela roteirização da celebração mais famosa da indústria do cinema, com vídeos ao mesmo tempo engraçados e cortantes.
No primeiro deles, atores negros assumiram personagens em trechos de Joy, O regresso (a ursa responsável por ferir o protagonista quase até a morte), A garota dinamarquesa e Perdido em Marte, no qual é solenemente ignorado pelos companheiros de cena. "Uma negra precisaria inventar a cura do câncer para ganhar um telefilme", dispara Whoopi Goldberg, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1991, por Ghost, e uma das apresentadoras da cerimônia. Vários negros foram escolhidos para revelar os vencedores das categorias.
"Muitas mulheres e homens ainda são vítimas de violência sexual. (...) Podemos mudar essa cultura de concessão. Eles não fizeram nada de errado. Por favor, aceitem esse compromisso", pediu Biden, após prometer intervenção. Ele chamou ao palco Lady Gaga, que interpretou a canção 'Till it happen to you, dela, sobre abuso sexual, derrotada na categoria de Melhor Canção Original por Writing's on the wall, Sam Smith (007 contra Spectre). A cantora e atriz já declarou ter sido abusada e, pelo Twitter, revelou que estaria pensando em Kesha - derrotada na Justiça neste mês em processo contra o produtor, de quem diz ter sofrido assédio sexual.
A comunidade LGBT foi mencionada por Sam Smith. O cantor fez questão de ressaltar o fato de ser gay assumido, apesar de tentar tomar para si, erroneamente, o título de primeiro a encarar tal postura. Além deles, cantaram na festa The Weeknd (Earned it, da trilha de Cinquenta tons de cinza) e Dave Grohl (Blackbird, de Paul McCartney), como trilha sonora para o vídeo de homenagem aos falecidos - Allan Rickman, Ettore Scola, Alex Rocco, David Bowie, Leonard Nimoy, entre outros.
Paradoxalmente chamado de Oscar da Diversidade, o prêmio mais famoso da história do cinema reconheceu a injustiça histórica também no vídeo Minuto do mês da história negra, com uma sarcástica homenagem ao - branco - comediante norte-americano Jack Black, e na participação de Sasha Baron Cohen. Caracterizado como o personagem Ali G, ele trajou uma luva semelhanta às usadas pelos membros do movimento Panteras Negras. A presidente da Academia, Cheryl Boone Isaacs, reforçou os compromissos de mudanças já proferidos, citou Martin Luther King e alertou o conselho sobre a responsabilidade de um futuro do qual todos se orgulhem.
No ano passado, a gritante desigualdade já fora tema da abertura e o assunto precisou ser retomado, com ainda mais força. "Nesta noite, celebraremos os melhores e mais brancos", satirizou Neil Patrick Harris, em 2015. Ontem, o Oscar riu dos próprios defeitos. Colocou-se em posição delicada e traçou para si uma encruzilhada: trilha o caminho da diversidade ou encara o risco de ser acusada por promessas não cumpridas..