Que metáfora você tenta construir com a Ilha de Lampedusa em relação à diáspora dos refugiados africanos?
O que eu tento, pelo contrário, é destruir qualquer metáfora e deixar em lugar delas uma experiência empírica única, que não seja totalizante e que me permita captar sensações. O documentário não existe para fechar argumentações em um signo específico. Documentários existem para forçar a abertura dos signos. E, para mim, esta abertura se dá na dicotomia entre ambiente e indivíduo, interior e exterior.
Como é que você avalia, por exemplo, a atual situação dos refugiados sírios?
Existe uma tragédia ocorrendo neste momento diante dos nossos olhos e somos todos responsáveis por ela. Eu não fiz este filme para salvá-los. Não é essa a responsabilidade do cinema. O que o cinema pode fazer é acabar com o nosso distanciamento. A ingenuidade de Samuele é um reflexo da nossa alienação. Quando nos damos conta dela, podemos começar a agir. Documentários estão aí para isso.
Por que você refuta o rótulo de “filme político” para Fuocoammare?
Porque o que existe de político está na discussão por trás da situação dos refugiados. No filme estão sentimentos. Ele é sobre a condição existencial de pessoas que estão invisíveis aos olhos da mídia. E não falo só dos africanos, falo de pessoas comuns, de pescadores, de meninos como Samuele. A vida deles é maior do que o reconhecimento dos problemas políticos do mundo, do que a percepção do que está acontecendo ao redor de Lampedusa. São pessoas.