Até há pouco, seu reconhecimento como ator vinha de filmes dramáticos ou thrillers: Boogie nights (1997), Os infiltrados (2006) e O vencedor (2010), entre eles. Com Ted (2012) e sua continuação, lançada no ano passado, provou ainda que sabia fazer comédia. Não a típica comédia americana, mas uma história pautada no politicamente incorreto – obra, na verdade, de um inglês, o ator, produtor e roteirista Seth MacFarlane.
Diante desse histórico, Wahlberg parece um corpo estranho em Pai em dose dupla, que estreia hoje em BH. À primeira vista, trata-se de uma comédia tipo família, daquelas de levar os filhos para uma matinê aos domingos. Tanto por isso, estreou nos Estados Unidos no feriado do Natal – em um mês, arrecadou US$ 200 milhões, 70% vindo do mercado norte-americano.
A TRAMA Brad Whitaker (Ferrell) está quase no paraíso. Gente boa e afável, casou-se com a mulher que ama, tem um emprego estável numa rádio de soft jazz e duas crianças adoráveis. Que não são dele, mas do primeiro marido de Sara (Linda Cardellini). Pois no momento em que Brad, que sempre sonhou ser pai, começa a conquistar os meninos, Dusty Mayron (Wahlberg), o ex de Sara, reaparece. E ele é tudo o que Brad nunca será.
Forte e musculoso, como mostra em várias cenas sem camisa, o valentão chega quase numa aparição. Montado numa moto incrível, tal qual um super-herói, é recebido pelos filhos de braços abertos. E Brad, contrariando os conselhos da mulher, resolve se tornar o amigão de Dusty. É neste momento que Pai em dose dupla se transforma de comédia familiar no chamado buddy movie (filme de parceiros). Dirigido por Sean Anders (Quero matar meu chefe 2) é filme para rir sem culpa, seja da ingenuidade das piadas com as crianças, seja das situações meio pastelão dos dois rivais.
Ferrell e Wahlberg têm química em cena. Em encontro com a imprensa, num hotel em Nova York, os “buddies” assumiram papéis semelhantes aos do longa. Foram como good cop, bad cop (bom policial/mau policial): Ferrell todo ouvidos; Wahlberg com um desinteresse estudado, que por vezes consegue até ser engraçado.
Também produtor de Pai em dose dupla, Ferrell comentou sobre o convite a Wahlberg: “Tive algum sucesso em filmes em que trabalhei com atores mais dramáticos e os coloquei em circunstâncias cômicas. Quando apresentei a ideia a Mark, ele aceitou logo de cara”. Wahlberg acrescentou: “Eu não tinha feito comédia antes de trabalhar com Will.
Wahlberg, que vai emendar agora três filmes de ação, incluindo Transformers 5 (previsto para 2017), disse que assim que leu o roteiro viu que poderia tomar a escolha óbvia. “Bastava fazer esse cara como um idiota. Mas então Sean Anders disse que ele poderia ser mais interessante: ‘Você também quer que Dusty seja simpático, que as pessoas gostem dele’, ele me disse. O que ocorreu é que os dois deixam as próprias diferenças de lado para fazer o certo pelas crianças.”
O ASTRO DANÇOU Aos 44 anos, Mark Wahlberg é casado com a ex-modelo Rhea Durham e tem dois casais de filhos. Antes do reconhecimento como o astro pornô de Boogie nights, teve um passado controverso. Caçula de nove irmãos de uma família da região de Boston, teve seus dias de delinquência na juventude. Esquentadinho, envolveu-se em brigas, roubos e ataques racistas. A convite do irmão Donnie, nos anos 1990, integrou a boy band New Kids on the Block, mas deixou a formação ainda nos primórdios, antes que ela fizesse sucesso.
Hoje sinônimo de estabilidade, Wahlberg renega esse passado. Mas Pai em dose dupla, recupera essa faceta do ator, que canta e dança em cena. Com cara de poucos amigos, ele falou sobre a cena em que dança com a filha. “Acabaram filmando a sequência às 7 da manhã com uma plateia de algumas centenas de pessoas. Pensei: ‘Ó Deus’. Felizmente, Will fez todo mundo se sentir confortável. Mas (dançar) é a coisa de que menos gosto de fazer. O problema é que as pessoas parecem amar esses momentos”, concluiu.
* A repórter viajou a convite da Paramount
Wahlberg em três filmes
>> Boogie nights: prazer sem limites (1997)
Wahlberg será eterno devedor de Leonardo DiCaprio, que recusou o papel do astro pornô por causa de Titanic. O filme não é só uma carta de apresentação do cineasta Paul Thomas Anderson, mas também aquele que mostrou todos os dotes artísticos (inclusive “aquele”) de Wahlberg. Até hoje, uma de suas melhores atuações (na foto, ao lado de John C. Reilly).
>> Os infiltrados (2006)
O crime organizado em Boston sob a visão de Martin Scorsese. Aqui, Wahlberg só trabalha com os grandes: Jack Nicholson, Martin Sheen, DiCaprio e Matt Damon. Desse time, foi o único reconhecido pela Academia, que lhe deu a primeira indicação ao Oscar, como ator coadjuvante.
>> Três reis (1999)
Durante a Guerra do Golfo (1991), quatro soldados decidem ir atrás do ouro roubado do Kuwait, mas descobrem que precisam ajudar as pessoas no local. A crítica antibelicista se perde um pouco em meio à patriotada final, mas o filme marca a primeira parceria de Wahlberg com David O. Russell, que voltaria a dirigi-lo em Huckabees, a vida é uma comédia (2004) e O lutador (2010).
.