“Este é o propósito do filme: voltar atrás e torná-lo humano. Os seres humanos são mais reconhecidos por seus defeitos, não por serem perfeitos, idealizados. Somos todos imperfeitos. E isso é ótimo”, diz Boyle.
PRIVACIDADE Boyle defende que figuras de peso na indústria da comunicação sejam submetidas ao escrutínio público. “Jobs não era um indivíduo particular que mereça privacidade, mas um importante personagem público que manipulou o público para alcançar o que queria. Essas pessoas estão em companhias muito mais importantes hoje do que já foram o setor petroquímico, os bancos ou a indústria farmacêutica. São corporações que parecem nossas amigas. Mas são gigantescas, valem bilhões, não respondem a governos, porque são transnacionais. Qualquer governo tem medo delas, que contratam os advogados mais caros do mundo. A quem essas pessoas têm que prestar contas, afinal? Somos nós que fazemos isso”, afirma o cineasta.
“Todas aquelas pessoas eram dedicadas a Steve Jobs, o adoravam das maneiras mais doidas.
FILHA Braço direito e uma espécie de alter ego do executivo, Joanna Hoffman (papel de Kate Winslet) tem missão importante no filme. Cabe a ela, muitas vezes, a função de trazer Jobs para o mundo real, principalmente quando tenta aproximá-lo da filha, Lisa. Jobs levou anos para assumir a paternidade da menina, e a relação dos dois é um dos fios condutores da história – talvez a régua para medir a distância entre o bem e o mal do personagem.
Inicialmente, a direção de Steve Jobs seria de David Fincher (A rede social), mas ele deixou o projeto. Quando lamentava o fracasso de sua ideia de fazer um musical sobre David Bowie, Boyle recebeu o roteiro do filme, além das bênçãos de Steve Wozniak, cofundador da Apple, vivido por Seth Rogen no longa. E, então, uma afirmação de Wozniak para Jobs se tornou a pergunta que norteia a cinebiografia: “É possível ser brilhante e correto ao mesmo tempo?”.
“Isso não é algo binário, é uma escolha. Às vezes, você pode estar destruindo pessoas para avançar com suas crenças, e isso não está certo. No filme, acho que Jobs acaba seguindo uma direção em que reconhece que, apesar de fazer coisas lindas, se considera malfeito e inadequado de alguma maneira”, aposta Boyle.
Ensaio geral
Danny Boyle exigiu semanas de ensaios dos atores de Steve Jobs. Fez o mesmo, aliás, enquanto preparava a abertura das Olimpíadas de Londres, em 2012, quando dirigiu sete mil voluntários e conseguiu que a rainha Elizabeth II dissesse “Boa noite, mr. Bond” para o ator Daniel Craig. “Normalmente, você só tem uns 25 minutos de ensaio num filme.
Tende-se a achar que ensaio desperdiça dinheiro, porque é um tempo que se perde quando se poderia estar gravando. Acho o contrário, porque no ensaio você identifica erros e os resolve”, explica ele.
O OUTRO STEVE
O gênio da Apple já é “veterano” na telona. Em 2013, foi lançado o longa Jobs, dirigido por Joshua Michael Stern. Ashton Kutcher (foto) interpretou o rapaz ambicioso que se transforma no arrogante magnata do mundo dos computadores. Críticos questionaram a opção
de traçar um retrato maniqueísta do cofundador da Apple. Stern focalizou duas décadas da vida de Steve Jobs – da criação da empresa, numa casa modesta da Califórnia, à “volta por cima”, em 1996, quando ele retomou as rédeas da companhia.
STEVE JOBS
Direção: Danny Boyle
Em cartaz no BH 1 (13h, 15h50, 18h45 e 21h30), Paragem 1 (21h20), Paragem 3 (18h50), Pátio 6 (11h45, 14h45, 17h30 e 20h15) e Ponteio 1 (13h20 e 18h30) .