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Independente e inconsistente

Esquecível, 'Mistress America' oscila entre o firme e o errático

Longa de Noah Baumbach já está em cartaz nos cinemas de Belo Horizonte

Inácio Araújo
'Mistress America' mostra amizade entre garotas cujos pais vão se casar. Filme tem personagens fora do padrão hollywoodiano - Foto: VITRINE FILMES/divulgação

Nem sempre a distinção entre o leve e o inconsistente se dá a ver como evidência imediata. Uma das vantagens de Mistress America, que estreou nesta semana em Belo Horizonte, é nos trazer essa questão. Por um lado, Noah Baumbach nos apresenta Tracy (Lola Lyrke) e Brooke (Greta Gerwig). A primeira, uma estudante e candidata a escritora. A segunda, um pouco mais velha, uma garota que já deu cabeçadas em mais ou menos todos os setores e agora sonha em abrir um restaurante. O que as une: a mãe de Tracy está de casamento marcado com o pai de Brooke.

O fato de a primeira ser novata e solitária em Nova York ajuda na aproximação. Ela passa a ser, assim, um tipo de aprendiz da cidade, acompanhante das aventuras de Brooke e uma espécie de vampira, pronta a se apropriar da futura irmã para produzir suas histórias.


Estamos, até aqui, num cenário típico do cinema independente americano: figuras fora do espectro habitual; luta por encontros e realizações pessoais; decisões que revelam a fragilidade ou o infantilismo das personagens etc. Isso ajuda o filme a sair do lugar-comum.
A leveza triunfa, e é aparentemente esse o desafio que se impôs Baumbach. Se a primeira abordagem das personagens é firme, o que se segue é errático.

Daí por diante, personagens entrarão em cena apenas para cumprir uma função (ter ciúmes, por exemplo), não para existir; outros servem para dar carona e alimentar alguma esperança romântica. Um momento interessante é aquele em que se revelam relações interpessoais caóticas, nas quais a solidez aparente das existências se desmonta.

Com efeito, o cinema independente tem o mérito de trazer à luz personagens diferentes da Hollywood tradicional: eles não precisam ser “vencedores” ou “perdedores”. Simplesmente são. Isso os aproxima dos seres humanos de fora das telas.

A excessiva preocupação em se mostrar leve, no entanto, conduz à fragilidade: sequências irregulares, em que o acúmulo de acontecimentos, criados para tornar a história “interessante”, a transforma num apanhado de curiosidades sobre a existência de duas jovens normais: Brooke e Tracy são personagens esquecíveis de um filme idem. .