Já vimos: Último 'Jogos Vorazes' só não é ótimo porque derrapa no final

Última cena açucarada de 'Jogos Vorazes: A esperança - O final' reduz a força da narrativa. Adaptação do último episódio é fiel ao livro de Suzanne Collins.

por Carolina Braga 18/11/2015 17:37

Paris Filmes / Divulgação
Peeta se recupera e volta ao páreo pelo coração de Katniss (foto: Paris Filmes / Divulgação )
Neste momento em que Hollywood começa a rever o baixo protagonismo da mulher no cinema, a jovem Jennifer Lawrence e sua Katniss Everdeen de Jogos Vorazes surgem como um reforço de peso a essa campanha. Sem levantar qualquer bandeira, Katniss é uma heroína tão forte e marcante quanto qualquer um dos homens que saíram das páginas da Marvel. Essa é uma das tantas camadas ocultas presentes no derradeiro longa da série adaptada do livro de Suzanne Collins.

É uma mulher bonita, sensual, corajosa e distante de qualquer mimimi do suposto sexo frágil para desempenhar seu papel. Curioso que o filme propõe até uma inversão desse lugar histórico ocupado pelo sexo feminino (melhor não avançar para evitar spoilers). De todo modo, é a força dela que sustenta com competência este Jogos Vorazes: A esperança – O final.

 

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Quem não viu, ou esqueceu, os outros filmes desta franquia nem adianta perder o tempo. O quarto longa da série – os três últimos foram dirigidos por Francis Lawrence – começa exatamente onde parou a Parte 1, sem chance para quem não faz a menor ideia do que se trata. Katniss se recupera do último confronto e está decidida a acabar com as próprias mãos com o presidente Snow (Donald Sutherland). Toda a cruzada do longa gira em torno disso, deixando espaço, claro, para as nuances políticas que pertencem à franquia.

Jogos Vorazes
é um filme que mistura ação e suspense em uma trama que carrega em suas entrelinhas discussões sobre ligações familiares, poder, disputa política, mídia e principalmente o aprisionamento virtual que a sociedade contemporânea vive. Assim como na primeira parte, os 30 minutos iniciais deste final destoam de outros exemplares do mesmo gênero por concentrar sua narrativa na palavra e não exatamente em lutas e afins. É o momento de ver Katniss racional e calculista.

Paris Filmes / Divulgação
Jennifer Lawrence reafirma talento como Katniss Evergreen (foto: Paris Filmes / Divulgação )
Junto com Gale (Liam Hemsworth), Finnick (Sam Claflin) e Peeta (Josh Hutcherson) “O Tordo”, como a protagonista também é chamada, parte em missão. Quando a guerreira reaparece. A cada armadilha no meio do caminho o grupo diminui. É de perder o fôlego a primeira sequência quando os revolucionários do Distrito 13 avançam às proximidades do palácio do presidente.

O mérito do roteiro de Peter Craig e Danny Strong é alternância que ele propõe no ritmo da história. Entre um embate e outro, pouco a pouco revela ao público que a luta de Katniss e seus amigos tem mais interesses envolvidos do que ela poderia supor. Como em todo jogo político, tem articulação, traição e mentira. São estes elementos, por exemplo, que fazem com que o papel aliado da presidente do Distrito 13, Alma Coin (Julianne Moore) seja questionado.

Entre as interpretações coadjuvantes, difícil dizer quem se destaca mais entre os veteranos. Donald Sutherland esbanja uma maldade irônica como Dr. Snow. Julianne Moore, por sua vez, ostenta um cinismo dúbio no olhar desde a primeira cena de Alma. Também é bem resolvida a saudosa – e derradeira – participação de Philip Seymour Hoffman, como Plutarch Heavensbee. Quando ele morreu, aos 46 anos em fevereiro de 2014, faltavam poucas cenas para gravar. A ausência dele pareceu poética.

No elenco jovem, Liam Hemsworth (Gale) e Josh Hutcherson (Peeta) são corretos e até um tanto frio demais no papel dos homens que disputam o coração da heroína. Compreensível: embora parte da trama, o romance nunca foi o mais importante ao longo de todos os filmes da série. Ceder ao romantismo água com açúcar é a escorregada neste desfecho.


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