São Paulo – O sociólogo Herbert de Souza comemoraria 80 anos na terça-feira, 3 de novembro.
Hemofílico, contraiu tuberculose na adolescência, o que fez com que vivesse trancado em casa dos 15 aos 18 anos. Durante a ditadura militar, foi clandestino em seu próprio país por longos sete anos. Passou oito no exílio. Símbolo da anistia, o irmão do Henfil contraiu o vírus do HIV. No espaço de um mês, viu dois de seus irmãos – Henfil e Chico Mário – sucumbirem à Aids. Sobreviveu nove anos a eles e, apesar da fragilidade física, encampou projetos de resistência à doença, de ética na política e, o mais conhecido deles, contra a fome, a miséria e pela vida.
Veja salas e horários de exibição para Betinho - A esperança equilibrista
A narrativa tem início ao som de O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc) cantada por Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Leonardo Boff e Frei Betto, além de amigos e familiares no velório de Betinho. “Quando comecei o projeto, já sabia que partiria da morte, pois ele sempre manteve uma relação firme com ela. Quis evitar a pieguice e o melodrama, pois a própria vida dele me encantou”, afirma Lopes.
Se o cineasta demorou 11 anos para concluir seu documentário mais recente, Serra Pelada, a lenda da montanha de ouro (2013), A esperança equilibrista... levou apenas um ano. Realizado em parceria com a GloboFilmes e a GloboNews (que vai exibi-lo em data ainda não definida), o projeto partiu de vasto material da própria Globo. Mas a cereja do bolo veio de fora.
Em 1995, Betinho concedeu a Alfredo Alves uma longa entrevista para o projeto Caminhos da Democracia, ligado ao Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), que ele havia fundado. Sempre com uma cerveja ao lado, o sociólogo fala da luta político-social, da vida na clandestinidade e no exílio e também das relações pessoais.
Entremeando os depoimentos, há entrevistas com pessoas muito próximas a ele: a primeira mulher, Irles Carvalho, mãe de seu primogênito Daniel (que também está no filme); a segunda, companheira de toda a vida, Maria Nakano (bem como o filho que teve com ela, Henrique); os companheiros de luta Átila Roque (atual diretor da Anistia Internacional), Cândido Grzybowski e Carlos Afonso (ambos do Ibase); além de figuras notórias muito próximas a ele, como o compositor Chico Buarque e o senador José Serra.
“Esses depoimentos não são monocórdios, que o deixem na primeira pessoa. Não queria uma biografia narrada no passado, nem criar compaixão e vitimizar o Betinho”, acrescenta Lopes. Para ele, o longa só ficou pronto quando Maria Nakano, que tem um papel primordial em todo o documentário, assistiu ao filme pela primeira vez. “Evito colocar datas no filme, mas a Maria me disse que deveria colocar, pois a sensação que ela tinha (no filme) era de que o Betinho estava vivo.”
Há imagens históricas, como a chegada de Betinho do exílio, com a emoção de ter sido recebido por dezenas de amigos. Victor Lopes tem se surpreendido com as reações ao documentário, já que muitos jovens admitem não saber tanto quem foi Betinho.
. A repórter viajou a convite da 39ª Mostra de São Paulo.