Nancy Meyers volta a acertar com 'Um senhor estagiário'

Na trama, o veterano Ben (Robert De Niro) se torna trainee na empresa da ultraconectada Jules (Anne Hathaway)

por Carolina Braga 24/09/2015 08:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.

Warner Bros/Divulgação
Anne Hathaway em cena do filme 'Um senhor estagiário' (foto: Warner Bros/Divulgação )
A diretora norte-americana Nancy Meyers é craque nas comédias românticas. Os filmes dela, porém, se distinguem de outros tantos açucarados e com finais previsíveis, vide os exemplos de 'Alguém tem que ceder' (2003) e 'Simplesmente complicado' (2009). 'Um senhor estagiário', novo longa escrito e dirigido por Nancy Meyers, protagonizado por Anne Hathaway e Robert De Niro, chega para reafirmar esse seu talento de observar com humor o comportamento da sociedade de hoje.

Nancy sabe contar uma boa história, com ritmo, graça e leveza, sem abrir mão de fazer certas críticas. Temas familiares ao universo da diretora, como maturidade e feminismo, estão de volta. Em Um senhor estagiário, De Niro é Ben, viúvo aposentado que se cansou de ter tempo livre. Hathaway é Jules, uma jovem – e atarefada – empresária da internet. Em 18 meses, o hobby dela de comentar roupas na rede se transformou numa megaloja de e-commerce.

 

 

 

Como dita o manual da empresa contemporânea politicamente correta, pega bem participar de projetos sociais. É aí que entra o programa de estágio sênior dedicado a maiores de 65 anos. Ben, um cavalheiro à moda antiga, de 70 anos, se candidata. É escalado para trabalhar com a big boss.

Meyers apresenta seus personagens sem pressa e, assim, cria sensação de intimidade do público com eles. Quando conhecemos Ben, sabemos o quanto é resolvido em relação à própria condição. Está mesmo disposto a aprender mais que ensinar. Não tem a menor mágoa ou saudosismo em relação ao passado. Os primeiros minutos com Jules nos dão a dimensão dos opostos. Ela anda de bicicleta dentro do escritório, trabalha com dois celulares e um tablet ao mesmo tempo. É tão acelerada e controladora quanto sensível.

Robert De Niro parece muito à vontade como Ben. Que elegância! O mesmo vale para Anne Hathaway, que, depois de contracenar com Meryl Streep em O diabo veste Prada, demonstra maturidade e a medida certa de química no bate-bola com um veterano do porte de De Niro.

O roteiro tem o mérito de mostrar o quanto falar de diferença de geração hoje é também abordar dois mundos com funcionamentos muito distintos. Eles não necessariamente se chocam. Há um meio-termo possível. Se os jovens funcionários de Jules tocam sino a cada nova curtida no Instagram, Ben sequer tem uma conta no Facebook. Um senhor estagiário marca essas fronteiras sem tomar partido.

Como a aproximação de Ben e Jules é previsível, o roteiro de Nancy tem fôlego ao adicionar outros temas. É quando assuntos ligados à causa feminista ganham mais relevo. Um senhor estagiário fala de família e, principalmente, sobre a inversão de papéis. Jules também é a mulher bem-sucedida que sai de casa para trabalhar enquanto o marido (Anders Holm) abdica da própria carreira para cuidar da casa e da filha.

Se Um senhor estagiário é mais “brincalhão” com as diferenças geracionais, é um pouco mais denso nos conflitos da jovem mãe dividida entre o mundo dos negócios e a família. Mais uma vez, Nancy Meyers não toma partido. Desperta, sim, a curiosidade em acompanhar mais e mais a vida daqueles personagens. Jules e Ben são tão diferentes quanto complementares.

Cotação: Ótimo

Três perguntas para...
Anne Hathaway
Atriz

O que você pensou quando a diretora Nancy Meyers lhe propôs o papel?
Que era uma grande história, que eu ia trabalhar com um de meus atores favoritos (Robert De Niro). Mas o que pensei, de verdade, foi: ‘calma, Anne, não vá estragar tudo’.

Sua personagem tem ecos da Meryl Streep de O diabo veste Prada, só que menos despótica. Concorda?
Tirando o fato de ambas lidarem com moda, nunca pensei no que unia as duas, mas percebo, pelas entrevistas, que isso está na cabeça das pessoas. Minha personagem é bem escrita, verdadeira. Cria alguma coisa, batalha para ser, ao mesmo tempo, profissional, mãe e esposa. E ela é do bem. Não quer passar como um trator sobre os outros. Acho que Nancy (Meyers) fez um ótimo trabalho, com o qual mulheres de todas as idades poderão se identificar.

Só as mulheres?
Nãaaoooo. É raro alguém escrever tão bem sobre personagens diversos em situações diversas. A jovem empresária, a garotada do escritório, o estagiário sênior. É verdade que Bob (De Niro) traz sua persona para o papel, mas o que ele diz e faz não é irrelevante. Espero que as pessoas se deem conta do que há de sério e verdadeiro sob a superfície leve e divertida do filme. (Luiz Carlos Merten, Estadão Conteúdo)

MAIS SOBRE CINEMA