Cinema

Nem Meryl Streep salva longa 'Ricki and the Flash'

Carolina Braga

Meryl Streep é recordista de indicações ao Oscar. Mas isso está longe de significar que todo filme protagonizado por ela terá na sua presença uma tábua de salvação. Ricki and The Flash: de volta pra casa é um exemplo. Mesmo que tudo no enredo gire em torno da roqueira falida, o carisma e o talento da atriz não são suficientes para fazer com que a obra seja consistente. É a fórmula pronta para sessão da tarde.

 

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Dirigido por Jonathan Demme, Ricki and the Flash é de uma mágoa sem fim. Não à toa, perdão é um dos temas mais fortes no roteiro de Diablo Cody. Ricki Rendazzo (Meryl Streep) é uma mulher de meia idade que vive de tocar em bares vazios de Los Angeles com a banda The Flash. Quando recebe o telefonema do ex-marido (Kevin Kline) com um pedido de ajuda para a filha Julie (Mamie Gummer, que de fato é filha de Meryl Streep), o espectador descobre o quão orgulhosa e fracassada ela é.


Linda, que prefere ser chamada pelo nome artístico Ricki, abandonou a família e o conforto do lar para apostar na carreira. Deu errado e ela não consegue assumir isso. De volta para casa, retornam com ela todas as questões mal resolvidas com os três filhos e o ex-marido. Ao contrário do que pode parecer, a artista não é tão livre assim. É homofóbica, racista e, sobretudo, muito orgulhosa.

 

 

 

Meryl Streep, de competência inquestionável, consegue dar todas essas nuances a Nicki, mas não é suficiente para o filme decolar. O roteiro é superficial ao tratar tanto os conflitos da mãe como também os da filha recém-separada, os do filho gay que não digere o preconceito e não consegue perdoar a ausência dela. É a mesma mágoa que afeta o ex-marido, sua atual esposa e o filho mais velho. Todos os personagens têm motivos para ser mais profundos do que aparentam.

Embora haja mágoa por todo lado, Ricki and The Flash insiste no tom da comédia. A aposta na música – o repertório com clássicos de Lady Gaga, Bruce Springsteen, Tom Petty e outros – potencializa a crise de identidade do filme e seus personagens. É como se o rock fosse o tapete debaixo do qual está escondido tudo aquilo com que Ricki e seus familiares não conseguiram, não conseguem e talvez não conseguirão lidar.