Regina Casé retoma a carreira de atriz e ganha prêmio internacional

Conquista foi atuando como doméstica, deixando de lado a vaidade. "Não é que estou feia. Estou medonha"

por Ana Clara Brant 01/03/2015 00:13

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Vantoen Pereira Jr./Divulgação
(foto: Vantoen Pereira Jr./Divulgação)
Rio de Janeiro –
Há algum tempo, Regina Casé sentia a necessidade de retomar a carreira de atriz. O fato de a reconhecerem apenas como apresentadora passou a incomodá-la. “Acho esquisitão quando dizem: a apresentadora Regina Casé. Fui tantos anos atriz, poxa! E mesmo quando eu estou apresentando o Esquenta!, ainda sou aquela atriz do Asdrúbal Trouxe o Trombone (grupo teatral brasileiro da década de 1970, de estilo cômico e anárquico, surgido no Rio de Janeiro), aquela atriz do Eu, tu, eles, aquela atriz de Cambalacho, aquela atriz do TV pirata. Continuo sendo atriz”, afirma.

Em 2014, ela ‘‘milagrosamente’’, como define, conseguiu finalmente conciliar os dois ofícios. Neste 2015, está colhendo os frutos dessa balança. No ano passado, nos dois meses de férias que teve, alcançou a proeza de rodar dois filmes: Made in China, dirigido por seu marido, Estevão Ciavatta, e o aclamado Que horas elas volta?, de Anna Mulayert. Desse último ela quase desistiu, por falta de tempo e pela chegada do pequeno Roque, seu filho adotivo.

O longa-metragem, que estreia no Brasil apenas em agosto, ganhou dois prêmios na mostra Panorama do Festival de Berlim, a paralela mais importante da maratona alemã, e o prêmio de melhor atriz para Regina e Camila Márdila no Festival de Sundance (EUA). O filme é centrado na figura de Val (Regina Casé), nordestina que deixou a cidade natal para trabalhar como doméstica em São Paulo e assim sustentar a filha pequena, Jéssica (Camila Márdila), que ficou com a avó.

Dez anos depois, a adolescente chega à capital paulista para fazer vestibular para arquitetura e, hospedada na casa dos patrões da mãe, a recrimina por sua subserviência às regras de convivência com seus chefes. O curador da mostra Panorama, Wieland Speck, afirmou que a interpretação dela é de “tirar o fôlego”. “Se estivesse em competição, teria certamente levado um Urso de Prata.” (Leia entrevista com Speck nesta página.)

A diretora Anna Mulayert diz que sempre pensou em Regina para fazer Val, porque, além de considerá-la talentosa, achava que ela tinha tudo a ver com o papel. “Ela é genial. A Regina interpreta uma personagem que vem de um povo que ela conhece muito. Uma nordestina. A Val é uma mistura dessas personagens todas que ela conheceu ao longo dos programas que fez. Não tinha como não dar certo”, afirma.

Anna acrescenta que imaginava que o filme tivesse repercussão, mas não esperava tamanho barulho. “Em Berlim, as pessoas saíram dançando, aplaudiram durante sete minutos. Mesmo lá fora, apesar de eles não terem essa referência da doméstica como nós temos, o público se identifica”, analisa.

PRÊMIOS

Regina acha que o longa vem num momento mais do que oportuno. “Qualquer pessoa no Brasil tem empregada, e isso está mudando. O assunto do filme é tudo a que estamos assistindo agora, e acho que é isso que dá um gás. E o meu personagem – que, modéstia à parte, acho que faço bem, ganhei prêmio e, se Deus quiser, ainda vou ganhar vários outros (risos) – é algo que observei a vida toda. Eu dizia isso também da dona Darlene, do Eu, tu, eles. No Brasil legal, no Programa legal eu viajava para aqueles lugares de um Brasil mais profundo e observava como a mulher catava piolho, como ela carregava o filho, como ela cortava cana, e eu guardava aquilo tudo e pensava: nossa, nunca vou usar isso. E aí veio o filme do Andrucha (Waddington, Eu, tu, eles) e eu usei. No caso de Que horas elas volta?, mais ainda”, conta.

A apresentadora e (mais do que nunca) atriz revela que sempre conviveu intimamente com os empregados de sua casa e os dos vizinhos e brinca que nem precisou fazer laboratório para interpretar Val. “Passava horas com eles. Tinha um repertório daquilo, de um olhar para a área de serviço que era muito grande. Nunca pensei que eu pudesse botar em algum lugar. Quando chegou o filme, não precisei aprender mais nada, principalmente de nordestinas. Sotaque, gírias, de jeito”, comenta.

Regina Casé afirma que, para fazer a personagem da doméstica, teve que se despir de toda vaidade. “Vocês não vão acreditar em mim. Parece que diminuí de tamanho, que cortaram um pedaço do meu corpo. Sem falar no uniforme de empregada, a touquinha, os óculos. Estou muito diferente. Não é que estou feia. Estou medonha. Foi um desprendimento total”, salienta.

A artista carioca lamenta que hoje em dia todo mundo só pensa em ser celebridade e esquece de ser ator, de interpretar realmente, e é isso que ela quis mostrar nessa produção. “Sem falar que é muito difícil ver gente de verdade, com cabelo de verdade, cara de verdade. Eu tenho 61 anos e nunca coloquei botox, por exemplo. Sou a Regina ali, de cara limpa. Isso que é o bacana e as pessoas gostam de ver isso também”, ressalta.

Atriz comemora 61 anos com programa especial

Na última quarta-feira, dia 25, Regina Casé completou 61 anos, e a produção do Esquenta! aproveitou para unir o útil ao agradável. Já que a atração domingueira é praticamente uma festa televisiva, transformou a gravação do programa que vai ao ar hoje à tarde numa verdadeira celebração. Antes de as luzes e câmeras se acenderem, os convidados tiveram uma recepção com direito a tapioca, acarajé, algodão doce, comidinhas de boteco, crepe no palito, cachorro-quente, pipoca e sorvete. Parecia festinha infantil. “Eu gosto tanto de aniversário que comemoro até o da boneca da criança da vizinha. Sou festeira demais, até porque nasci numa segunda-feira de carnaval”, divertia-se Regina.

Entre os participantes das comemorações, estavam funkeiros, sambistas, atores e até representantes de grupos religiosos. Uma mistura bem à la Esquenta!. Teve Fernanda Montenegro declamando Cecília Meirelles, a MC do momento, Ludmilla, o trio de ‘‘maridos’’ de Eu, tu, eles, Lima Duarte, Luiz Carlos Vasconcellos e Stênio Garcia, a turma do Asdrúbral Trouxe o Trombone, como Hamilton Vaz Pereira, Perfeito Fortuna e Evandro Mesquita, relembrando os momentos inesquecíveis da amiga e colega como atriz; os filhos Benedita e Roque e o marido Estevão Ciavatta; Gaby Amarantos; o galã Cauã Reymond; Tom do Cajueiro, o garoto descoberto por Regina Casé em um de seus programas; o gari mais famoso do Brasil, Renato Sorriso; e a cereja do bolo, Caetano Veloso cantando Rapte-me, camaleoa, feita em homenagem à atriz e apresentadora. E, claro, os convidados de sempre, como Mumuzinho, Xande de Pilares, Jorge Aragão, Arlindo Cruz e Leandro Sapucaí, não faltaram. Como a própria Regina definiu: “Se eu tivesse que resumir o Esquenta!, ele seria uma festa que celebra a diferença”.

. A repórter viajou a convite da TV Globo

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