Mostra Udigrudi Mundial de Animação começa nesta terça-feira, em BH

Edição homenageia Otto Guerra e vai exibir mais de 200 filmes de 32 países em 10 espaços da cidade

por Mariana Peixoto 02/12/2014 08:00

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Mumia/Divulgação
O longa 'Até que a Sbórnia nos separe', de Otto Guerra, é inspirado no musical 'Tangos & tragédias', de Nico Nicolaiewsky e Hique Gomez (foto: Mumia/Divulgação)
Em 2005, Otto Guerra recebeu telefonema de um repórter da revista britânica The Economist. Em meio à repercussão global do filme 'O segredo de Brokeback Mountain', o jornalista queria saber como mais de 10 anos antes um animador gaúcho havia feito um filme sobre dois caubóis gays que se assumem, se amam e não enfrentam problema algum. A ele não restou nada a não ser rir, lembrando-se de que quando o filme foi lançado as reações foram bem distintas.

Baseado nos personagens do cartunista Adão Iturrusgarai, 'Rocky & Hudson', primeiro longa de Otto Guerra, é de 1994. Na época, com a produção nacional praticamente reduzida a zero com o fim da Embrafilme, o filme participou dos mais importantes festivais de cinema do Brasil à época: Gramado e Brasília. Na cidade gaúcha, a exibição foi pra lá de constrangedora. Na capital federal, o animador virou quase um herói, tanto que pouco depois viveu por três meses na cidade.

O relato acima resume um pouco da trajetória de um dos mais importantes animadores brasileiros. Transitando no cenário underground sempre com muito rigor estético, a obra de Otto Guerra resume, na opinião de Sávio Leite, criador da Mostra Udigrudi Mundial de Animação – Mumia, o espírito do evento. Tanto que em sua 12ª edição, a filmografia do animador gaúcho – 12 curtas, três longas – será celebrada em retrospectiva.

De hoje ao dia 18, a mostra vai promover exibições de animações de 32 países em 10 espaços culturais de BH e Nova Lima. Com competitivas mineiras, nacionais e internacionais, além de oficinas, tudo com entrada franca, o Mumia vai apresentar duas centenas de produções.

“Pela primeira vez contratei um programador (Lourenço Veloso). Antes, todos os filmes que chegavam entraram nos programas dependendo da hora. Havia pessoas que reclamavam, diziam que havia algumas sessões melhores e piores que as outras. Pois o programador assistiu a todos os filmes e pensou na programação de uma maneira mais equilibrada. Acho que assim vamos atrair mais público”, comenta Sávio Leite. Ao longo de mais de uma década, o Mumia se pautou por ser uma mostra descentralizada, com diferentes locais de exibição.

Nesta edição, as duas novidades são o Espaço do Conhecimento, na Praça da Liberdade, e o Museu Mineiro. No primeiro haverá o Mumia na Fachada, com projeções de quinta a domingo, sempre às 19h30. Também ali haverá um bate-papo com Arnaldo Galvão. Um dos mais experientes profissionais brasileiros do gênero, trabalhou nos estúdios de Maurício de Sousa, no programa 'Castelo Rá-Tim-Bum' e fez animações para alguns filmes dos Trapalhões. É ainda o autor de um premiado curta erótico, 'Almas em chamas' (2000).

Em BH, além de exibir o documentário 'O cinema animado' (dia 5, às 20h, no Sesc Palladium), Galvão bate papo com o público sobre animação independente no Espaço do Conhecimento (dia 6, às 11h). Já o Museu Mineiro vai promover uma sessão ao ar livre (no dia 18, às 19h) com filmes do norte-americano Ben Popp, que anima manualmente películas em 16mm.

Oficinas

Na próxima semana, o Mumia vai oferecer quatro oficinas gratuitas no Sesc/Palladium: Animação pixilation, com César Maurício (de 12 a 14); Animação de parede, com Adriane Puresa (de 12 a 14); Animação light painting, com Fábio Painting (de 9 a 11); e Animação de bonecos, de Quiá Rodrigues (de 10 a 12h). As aulas serão sempre das 14h30 às 17h30. Inscrições: inscricoes12mumia@gmail.com

Retrospectiva

Otto Guerra chega a BH na próxima semana para participar do Mumia. No dia 10, às 19h30, no
Cine Humberto Mauro, participa do lançamento de 'Até que a Sbórnia nos separe'. Sua retrospectiva será exibida no mesmo espaço, no dia 14, com sessões a partir das 15h. A C.A.S.A., em Nova Lima, também vai exibir o programa completo.

Três perguntas para...

Cristina Horta / EM / D.A Press
Otto guerra, cineasta e animador (foto: Cristina Horta / EM / D.A Press)
Otto Guerra
cineasta e animador, 58 anos

Além de seus filmes mais antigos, o Mumia vai exibir 'Até que a Sbórnia nos separe', seu novo longa. Como foi a produção desse filme, inspirado na comédia musical 'Tangos & Tragédias'?

O musical já tem 30 anos e sempre me identifiquei com o humor do Nico (Nicolaiewsky, morto em fevereiro, de leucemia) e do Hique (Gomez). São críticos ao gauchismo e o Sbórnia faz uma brincadeira com isso. Há nove anos surgiu um prêmio de cinema no Rio Grande do Sul e sabia que uma temática local teria a chance de ganhar. O Nico e o Hique colaboraram muito com o filme. O Nico fez a trilha do meu primeiro curta ('O Natal do burrinho') e acabei fazendo o último filme dele. No filme, os dois fizeram o papel deles mesmos. Eles funcionavam bem no palco, mas eram bem antagônicos na vida real. Por causa dessa tensão, achei melhor chamar o André Abujamra para fazer a trilha.

Como você viveu a transição do cinema analógico para o digital? Como a tecnologia influenciou no seu trabalho?

Mudou tudo. Na fase analógica, tudo era feito com papel, tinta, pincel, perda de filmagem. Hoje não é preciso nem de papel ou tinta, tampouco de filmadora ou moviola. Tudo está agregado: você pinta, anima e edita. Foi uma mudança bem radical, tanto que levei muitos anos para admitir que não sabia tudo do cinema analógico e nada do digital. Tive resistência à mudança, para mim foi traumático. Foi por meio de um jogo antigo de animação 3D (de nome 'Doom'), que joguei durante muitos anos, que vi que a tecnologia era amiga e não inimiga. Tenho saudade da coisa romântica, do cheiro de tinta, já que o computador é frio. Mas não há comparação, pois o que interessa é o conteúdo e não se percebe como uma animação é feita.

'O Natal do burrinho', seu primeiro curta, completou 30 anos. Olhando para trás, como você analisa sua carreira?


Às vezes penso sobre isso, mas é tudo um processo. Não dá para dizer qual é meu filme preferido, cada um teve uma história importante em seu momento. Há uma identificação entre eles, pois o processo para cada um é muito parecido desde o início. Quando olho, meus filmes parecem uma família enorme.

MOSTRA UDIGRUDI MUNDIAL DE ANIMAÇÃO – MUMIA
Até dia 18 deste mês. Entrada franca. Sessões no Sesc Palladium, Cine Humberto Mauro, Cineclube Joaquim Pedro de Andrade, Cineclube Curta Degustação, Instituto Undió, Museu Mineiro, Biblioteca Pública, Espaço do Conhecimento UFMG, PUC São Gabriel e C.A.S.A em Nova Lima. Programação completa: https://mostramumia.blogspot.com.br.

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