Forumdoc.bh 2014 tem programação de documentários e várias visões de mundo

Festival está na contramão da cultura do blockbuster, e terá 10 dias de eventos gratuitos

por Ana Clara Brant 20/11/2014 07:00

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Forumdoc.bh
'Branco sai, preto fica', longa sobre violência policial, abre o Festival do Filme Etnográfico e Documentário, no Cine Humberto Mauro (foto: Forumdoc.bh)
Ceilândia, Distrito Federal. Um homem está preso para sempre à cadeira de rodas. O outro tem uma perna mecânica. Os dois são vítimas da ação criminosa da polícia durante a invasão de um baile black realizado na maior periferia de Brasília. Esse é o mote de 'Branco sai, preto fica', do diretor Adirley Queirós, que abre o 18º Festival do Filme Etnográfico e Documentário (Forumdoc.bh), nesta quinta-feira à noite, na capital.

Para cinéfilos interessados em fugir dos blockbusters que monopolizam as salas de BH – 'Jogos vorazes', por exemplo, está em cartaz em 53 delas –, o festival oferece 10 dias de programação diversa, de qualidade e gratuita.

Carla Italiano, uma das organizadoras do festival, ressalta a consolidação do evento. “Ele está cada vez mais delineado, com trajetória ininterrupta. Além de ser referência para o audiovisual no Brasil, o Forumdoc oferece diversidade de filmes nacionais e estrangeiros, além de ficar em cartaz numa cidade que não tem tradição em documentários”, afirma ela.

Cerca de 60 trabalhos serão exibidos – de produções contemporâneas, presentes em mostras competitivas brasileiras e estrangeiras, a obras fundamentais na área de não ficção, além de filmes que dialogam com esse gênero. O evento, realizado pelo coletivo Filmes de Quintal, inclui seminários e oficinas no Cine Humberto Mauro, câmpus da Universidade Federal de Minas Gerais e Cine 104.

As mostras nacional e internacional do Forumdoc.bh 2014 trazem, sobretudo, filmes fundamentais para o país. Serão exibidos em primeira mão 'Brasil S/A' (de Marcelo Pedroso, vencedor do Festival de Brasília na categoria direção), 'Ventos de agosto' (de Gabriel Mascaro), 'Ela volta na quinta' (André Novais) e 'Nova Dubai' (Gustavo Vinagre). Estreiam também obras de realizadores indígenas, como 'Takumã Kuikuro', o guarani Alberto Álvares e o ianomâmi Morzaniel Irati. Todos eles virão a BH.

A competitiva internacional recebeu 250 trabalhos. Foram selecionados longas da França, EUA, Síria, Alemanha, Colômbia, Nepal, Reino Unido, Itália, Bélgica, China e Suíça, entre outros países. “As mostras são fundamentais, pois dão muita visibilidade para os cineastas e grande parte dos filmes está estreando. É a única maneira de eles serem exibidos por aqui”, salienta Carla.

Outro destaque é a retrospectiva de longas do israelense Avi Mograbi. De segunda a sexta-feira que vem, ele ministra oficina no Cine Humberto Mauro. Mograbi aborda a relação conflituosa entre palestinos e o governo de Israel. O diretor integra a geração responsável pela inovação formal do documentário a partir da década de 1990. “Ele tem uma trajetória muito engajada politicamente. É jovem, com menos de 50 anos, tem postura muito crítica em relação ao conflito Israel/Palestina. Avi Mograbi confere teor autobiográfico a seus filmes. Vamos exibir sete”, informa Carla Italiano.

ESCOLA
Além das mostras 'O animal e a câmera', 'A mulher e a câmera' e 'O inimigo e a câmera', o 18º Forumdoc.bh programou 'A escola e a câmera', com trabalhos relativos à educação dirigidos por autores de clássicos. Serão exibidos 'Zero de conduta' (1933), de Jean Vigo; 'A pirâmide humana' (1959), de Jean Rouch; 'High school' (1968), de Frederick Wiseman; 'Ser e ter' (2002), de Nicolas Philibert; 'Elogio ao Chiac' (1969), de Michel Brault; e 'Elefante' (2003), de Gus van Sant.

Coutinho em foco


Um dos últimos trabalhos de Eduardo Coutinho, que morreu em fevereiro, ganha destaque na grade do Forumdoc.bh 2014. No longa 'A família de Elizabeth Teixeira', o diretor volta à figura central de seu aclamado documentário 'Cabra marcado para morrer' (1984): a paraibana, de 88 anos, sobrevivente da repressão às lutas camponesas durante a ditadura militar.

Trinta anos depois, ele atualiza as conversas com dona Elizabeth, com quem nunca deixou de manter contato, e também com os filhos dela, que ele perdera de vista. A sessão será comentada pela pesquisadora Cláudia Mesquita, especialista na obra de Eduardo Coutinho.

Outra produção que deve chamar a atenção do público – trata-se do único filme que será exibido duas vezes – é 'Cavalo dinheiro', do cineasta português Pedro Costa, muito elogiado pela crítica. A organização chegou a fazer uma vaquinha virtual para trazê-lo à cidade. “O diretor é muito importante na cena contemporânea e esse é o mais recente trabalho dele”, recomenda Carla Italiano. O filme fala do cabo-verdiano 'Ventura', um idoso que relembra sua vida e os desafios de ser imigrante.

PROGRAMAÇÃO

QUINTA
19h: Sessão de abertura. Branco sai, preto fica, de Adirley Queirós, que estará presente

SEXTA
15h: Mostra A escola e a câmera. Elefante, de Gus van Sant
17h: Competitiva internacional. Manakanama, de Stephanie Spray e Pacho Velez
19h: Competitiva internacional. Mambo cool, de Chris Gude
21h: Sessão especial. Cavalo dinheiro, de Pedro Costa

SÁBADO
15h: Competitiva internacional. Nosso terrível país, de Mohammad Ali Atassi e Ziad Homsi
17h: Mostra A escola e a câmera. At Berkeley, de Frederick Wiseman
21h: Competitiva internacional. Vestígios, de Wang Bing, e A insurreição, de Peter Snowdon

DOMINGO
15h: Competitiva internacional. Iraniano, de Mehran Tamadon
17h: Sessão especial. A família de Elizabeth, de Eduardo Coutinho. Sessão comentada por Cláudia Mesquita
19h: Competitiva internacional. Acalme esse coração inquieto, de Roberto Minervini
21h: Retrospectiva Avi Mograbi. A reconstituição – Como aprendi a superar meu medo e amar Ariel Sharon

l Cine Humberto Mauro. Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro

ABERTURA
A escolha de 'Branco sai, preto fica' para abrir o 18º Forumdoc.bh foi política, explica Carla Italiano. “Ele revela um pouco a tendência brasileira de cinema feito por coletivos e pela periferia, em vez de grandes centros. Nós o selecionamos bem antes de o filme ganhar o festival de Brasília”, comenta. A produção do Coletivo de Cinema de Ceilândia mescla ficção e realidade. A sessão de hoje, às 19h, no Cine Humberto Mauro, será comentada por Adirley Queirós, que também dirigiu A cidade é uma só? e Rap, o conto da Ceilândia.

18º FORUMDOC.BH
Até dia 30. Programação completa: www.forumdoc.org.br

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