Documentário 'A vida privada dos hipopótamos' se perde no discurso do protagonista

Dirigido por Maíra Buhler e Matias Mariani, produção conta a história de um norte-americano fascinado por hipopótamos que acabou preso no Brasil

por Carolina Braga 18/11/2014 09:14

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Cine Ceará/Divulgação
Chris Kirk narra a própria história em filme que levou prêmio de melhor montagem no Festival do Rio (foto: Cine Ceará/Divulgação)
Fortaleza
– 'A vida privada dos hipopótamos', de Maíra Buhler e Matias Mariani, não é um filme-denúncia, embora seu protagonista seja um detento. Também não se interessa por questões legais envolvendo presos estrangeiros, embora essa tenha sido a ideia original. Veem-se, simplesmente, vários exercícios de narrativa, com texturas e diferentes instrumentos para contar uma história. Sem pretensões. Aí está o encanto e a armadilha desse documentário.


“Como filme, não acho que queira passar alguma mensagem. Não é edificante, não tem nenhuma função além de ser uma obra de arte. É sobre ser um personagem de si mesmo”, resume a montadora Luísa Marques, que representou a produção no Cine Ceará, que será encerrado sábado em Fortaleza. O longa participa da Mostra Competitiva Ibero-americana.

Luísa conta que a ideia original era fazer um documentário sobre prisioneiros estrangeiros no Brasil. Durante a busca por personagens, os diretores conheceram o norte-americano Chris Kirk, dono de conversa envolvente, preso em São Paulo. No filme, antes de dizer o real motivo que o levou à cadeia, ele relata por que se mudou dos Estados Unidos para a Colômbia, onde começa a aventura. Alucinado por hipopótamos, Chris descobre em uma pesquisa na internet que o chefe do narcotráfico colombiano Pablo Escobar também admirava esses animais.

Na época em que comandava o cartel de Medellín, Escobar importou um casal de hipopótamos da África. Os bichos se reproduziram na Colômbia e, quando o traficante morreu, a casa dele se transformou em uma espécie de zoológico abandonado. Isso atraiu o americano ao país, onde conheceu V., sua misteriosa ex-namorada. À medida que o filme avança, acompanhamos a ascensão e queda de um relacionamento esquisitíssimo, mas ele não é posto em julgamento.

'A vida privada dos hipopótamos' levou o prêmio de melhor montagem na última edição do Festival do Rio. De fato, todo o seu mérito está no ritmo da narrativa e na forma escolhida para deixar que Chris Kirk conte sua aventura. Os diretores embarcaram para os Estados Unidos, entrevistaram amigos e parentes do protagonista, conseguiram a autorização dele para ter acesso a seu computador pessoal. Usaram o que havia ali para montar o longa. Foi isso que salvou a pátria.

Enquanto Kirk conta como conheceu V., as viagens românticas do casal pela Colômbia, as misteriosas idas da mulher para os Estados Unidos e as conversas por Messenger, tudo é ilustrado com o material encontrado no computador. Linguagens e texturas se mesclam: vídeos foram feitos entre 2004 e 2010, com resoluções diferentes, formatos diversos e relatos em blog. Tudo costurado em ritmo envolvente. À medida que a projeção avança, o espectador se pergunta sobre o que o homem fez para ser preso no Brasil.

'A vida privada dos hipopótamos' é daqueles filmes que deixam o público a ver navios. Na primeira hora, envolve com seu enredo passional e elementos policiais, mas se perde nos últimos 30 minutos. É como se o documentário se tornasse vítima do protagonista. Luísa Marques afirma que as lacunas também são obras do personagem. “É uma parte da vida que ele não conta direito. Tem esse buraco e o filme continuou com ele”, reconhece. Enfim, trata-se de um documentário com o jeito romântico, aventureiro, ficcional e um tanto louco de alguém contando a própria história.


A repórter viajou a convite do Cine Ceará

 

Confira o trailer de 'A vida privada dos hipopótamos':

 

 

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