'O homem mais procurado' parte de perseguição a um imigrante para mostrar o jogo do poder

Filme conta a história de um jovem que, ao chegar na Alemanha, passa a ser acompanhado pelo serviço de inteligência. Longa foi inspirado em livro homônimo

por Gracie Santos 09/10/2014 08:18

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Diamond Films/Divulgação
Rachel McAdamséAnnabel Richter;Willem Dafoe, TommyBrue;eGrigoriy Dobryginéoprocurado Issa Karpov (foto: Diamond Films/Divulgação )
Inevitável que o título 'O homem mais procurado' não remeta imediatamente à imagem de Osama bin Laden, o inimigo número 1 da América, caçado em cenas reais com requintes de filmagens hollywoodianas. Bem, o terrorista morto em maio de 2011 tem e não tem nada a ver com o longa. Fato é que, para ser bem atual, digamos que o GPS de qualquer cérebro liga imediatamente o nome do filme ao terrorismo e, na sequência, a Bin Laden, personificação do terror. Afinal, ele foi o homem mais procurado.


Pelo menos inicialmente, as semelhanças terminam aí. Para começar, o longa se pauta na espionagem alemã, representada por Günther Bachmann (Philip Seymour Hoffman), homem focado no alvo, que parece querer acertar e não apenas sair por aí disparando mísseis contra tudo e todos. Os americanos, claro, estão na trama, representados por Martha Sullivan (Robin Wright). E não são nada bem vistos. Têm sua credibilidade colocada à prova e, aparentemente, desta vez não estão no comando. Só isso já seria suficiente para tornar o filme interessante, há outras coisas, muitas mais.


Baseado em romance homônimo de John le Carré, 'O homem mais procurado', dirigido por Anton Corbijn, conta a história de um jovem imigrante de origem chechena e russa, Issa Karpov (Grigoriy Dobrygin), que chega à comunidade islâmica de Hamburgo, na Alemanha. Não vale a pena dizer o que Issa procura, o que só será descoberto lá pela metade da trama. Fato é que a chegada do cara, que só pela origem dele já deixa a “inteligência” de cabeça em pé, mobiliza as polícias secretas alemã e americana (esta, todo mundo sabe, vive como se o mundo não tivesse fronteiras e ela fosse nossa única salvação).


A trama se desenvolve exatamente a partir dos passos de Issa, seguido de perto com certa cautela, graças à exigência alemã. Afinal, em princípio, ninguém sabe do que ele é capaz. Günther Bachmann parece suspeitar que extremistas não nascem em árvores nem vieram ao mundo simplesmente para incomodar o Tio Sam. Assim, ele cogita a possibilidade de Issa estar apenas perdido, consequência de seu passado sombrio e de dor. Mas não descarta também a possibilidade de Issa ter forte desejo de vingança e, por isso mesmo, sentir-se propenso a aderir ao extremismo, visto por muitos de seus iguais como único caminho.


Juntos, espectador e Günther vão tentando descobrir quem é Issa e o que ele quer. De grande ajuda é Annabel Richter (ainda que Rachel McAdams mais se pareça um picolé de chuchu, a personagem é importante). A advogada é uma espécie de São Judas Tadeu da história, defensora das causas impossíveis. Elemento “surpresa” é o fato de a trama revelar aos poucos como o dinheiro é importante em toda essa história de religião versus terrorismo versus inteligência (seja alemã ou americana). No caso, o dinheiro está (bem) representado pelo banqueiro Tommy Brue (Willem Dafoe).


Além da tensão psicológica com que a trama vai sendo construída, grande mérito do longa, além da ausência de armas e cenas de intensa perseguição em telhados, é exatamente mostrar que não deveria ser Issa o homem mais procurado. O filme nos leva a perceber que terrorismo não se faz apenas com homens e mulheres-bomba, aviões que batem em torres gêmeas e bombas que explodem em metrôs. Terrorismo se faz com dinheiro, muito dinheiro; é questão política e capital, além de social. Não podem ser esquecidas também as complexas questões religiosas. E, principalmente, tem muita gente grande por trás dessas ações e reações. Só que, como em quase tudo o que ocorre em um mundo globalizado e numa sociedade capitalista, a corda arrebenta (ou explode) do lado mais fraco. E o que se vê em telejornais urgentes e na maioria dos filmes sobre o tema são apenas as consequências de esquemas maiores, quase sempre encobertos.


BELA DESPEDIDA
O homem mais procurado traz Philip Seymour Hoffman em seu último papel. O ator americano que morreu em 2 de fevereiro. Ainda que esta não seja a sua atuação mais brilhante (pelo seu papel em Capote venceu o Oscar e o Bafta entre dezenas de outros prêmios e teve interpretações primorosas também em Quase famosos e Magnólia), Hoffman rouba a cena. De maneira brilhante, dá vida a um contido, sufocado e crédulo agente secreto, quem mantém a capacidade de raciocínio e o interesse pelo humano e a humanidade. O Günther Bachmann de Hoffman mostra que pessoas com sentimento e visão aberta não são bem vistas nem estão preparadas para missões secretas. Um dos raros atores que manteve a regularidade acima da média em todos os trabalhos, ele se despede com um grande personagem.

 

Assista ao trailer de 'O homem mais procurado':

 

 



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