Logo nos primeiros minutos de 'Dois disparos', o diretor e roteirista Martín Rejtman apresenta aquilo que poderia ser compreendido por muitos como o clímax da história. O jovem Mariano (Rafael Federman), depois de um relaxado mergulho na piscina, encontra no quarto de despejo da casa da mãe uma arma. Ainda que não demonstre intenção de se matar, atira em si duas vezes. Sofre ferimentos leves.

Mesmo que tenha sobrevivido sem sequelas, aquilo que para o jovem não passou de uma brincadeira caiu feito bomba no psicológico da família. Aliás, os comportamentos dele, da mãe e do irmão se entrelaçam no longa. Martín Rejtman não se atém à atitude de Mariano, mas a utiliza como dispositivo para analisar as relações.

Tanto que, na sequência desse episódio, 'Dois disparos' se desenrola como se fosse um livro de contos. Há um sobre o grupo musical de Mariano, outro sobre o relacionamento amoroso do irmão e também sobre as férias da mãe na praia. A passagem entre uma história e outra é orgânica.

Ao fim, aquilo que parte de uma situação dramática acaba se tornando uma crônica, até um tanto quanto bem humorada, sobre diferenças de gerações, de classes sociais e de maneiras de lidar com o mundo.

O filme será exibido nesta segunda, às 21h10, no Belas 1, na programação do Indie – Mostra de Cinema Mundial. Entrada franca (com retirada dos ingressos meia hora antes).