Cinema

Ainda raros no Brasil, musicais estão em alta

Festival de gramado terá duas produções do gênero

Julio Cavani

Apesar de ser um país sempre associado à música, o Brasil não tem uma produção cinematográfica constante no gênero musical. Filmes surgem esporadicamente com longos intervalos. Um fenômeno raro, portanto, será visto no Festival de Gramado, onde há dois longas na mostra competitiva com diálogos cantados: Sinfonia da necrópole, da paulista Juliana Rojas, e A luneta do tempo, do pernambucano Alceu Valença.


A luneta do tempo é um caso raro no cinema brasileiro. Trata-se de um longa musical com todos os diálogos cantados ou, pelo menos, rimados. O trabalho de roteirista, nesses casos, se confunde com o de compositor. Todas as palavras mencionadas pelos personagens foram escritas por Alceu, que pré-gravou as músicas com sua voz e as entregou ao elenco antes das filmagens.

Os atores não podiam errar uma sílaba e precisavam sincronizar as vozes com a melodia original. O resultado equivale a um novo disco, inédito, com 97min de duração – acompanhado de imagens e vozes dos intérpretes Irandhir Santos, Hermila Guedes, Servílio Holanda, Hélder Vasconcelos, Ary de Arimatéia, Charles Teony e Khrystal – 32 atores participaram. A musicalidade é baseada nas tradições do folclore nordestino, com a presença de instrumentos como a rabeca e a sanfona, mas com a liberdade experimental típica do cantor.

Vencedor do prêmio de melhor trilha sonora no Paulínia Film Fest, Sinfonia da necrópole promove a improvável combinação entre musical, comédia e suspense. A diretora Juliana Rojas já havia experimentado o terror em curtas e no longa Trabalhar cansa (dirigido com Marco Dutra), mas consegue desconstruir gêneros com o novo filme, que se passa em um cemitério. Com letras escritas pela diretora e roteirista, as canções foram produzidas e compostas por Marco Dutra e Ramiro Murilo.