“O tipo de sensibilidade de Wes Anderson é raro”, já demarcou um de seus grandes admiradores, Martin Scorsese. Depois de moldar, nas telas, famílias disfuncionais ('Os excêntricos Tenenbaums'), casais inusitados ('Três é demais') e aventuras subaquáticas de um pesquisador ('A vida marinha com Steve Zissou'), fica difícil despistar, quando se ressalta a peculiaridade dos tipos retratados. “Normalidade não é exatamente o que você procura, quando você pretende criar um personagem interessante”, disse ele, na divulgação de 'O Grande Hotel Budapeste'. Depois de, na originalíssima animação 'O fantástico Sr. Raposo', ter embutido contravenções num pacato mamífero pai de família, agora, é a vez de tornar o concierge Gustave (Fiennes) suspeito de um plano criminoso.
Detalhes únicos, como o gosto por acentuado perfume, diferenciam o protagonista que combina elementos de um antigo e precoce (nas atitudes) amigo, um pintor não renomado. Revelado há 20 anos, Wes Anderson, porém, seguiu via contrária, como entregou à imprensa estrangeira. “Acredito que fui uma pessoa que demorou a crescer”, observa o amante dos filmes da Disney e de John Hughes ('Curtindo a vida adoidado'). “Não tenho quem me censure, no esquema: ‘Você não pode fazer isso ou aquilo’”, já comentou no passado.
Difícil é acreditar que ele tenha cursado filosofia na Universidade do Texas. “Não sei nada sobre filosofia. Acho que veio daí a minha vontade de estudar”, comentou. A vontade de ter sido arquiteto, por exemplo, foi algo contornado tal qual válvula de escape com o cinema. “Sinto que meus personagens precisam de seus mundos para poder existir”, demarca Anderson, que já teve enredos dependentes de submarino, trens e de casas em árvores.
Conhecido ainda pelo repertório de trilhas ecléticas, o cineasta que tão bem comunica com a juventude revela: “Algumas cenas são praticamente escritas com o objetivo do uso de determinada música”. Curioso é 'O Grande Hotel Budapeste' reavivar composições de Strauss e do folclore russo. Bem diverso para quem conta, no currículo de pós-produção com dolorosas lacunas retrô pop — “houve algumas músicas dos Beatles que, ano após ano, tentamos em filmes, mas não foram liberadas”.
Destaques da carreira
'Pura adrenalina' (1996)
O longa de estreia do diretor apresenta o seu humor nonsense e despretensioso ao contar a divertida história de três jovens amigos que se envolvem em uma série de assaltos bizarros na tentativa de entrar para o mundo do crime. A simplicidade da trama ganha força com as atuações de Anthony (Luke Wilson) e Dignan (Owen Wilson), este último parceiro de Anderson no roteiro.
'A vida marinha com Steve Zissou' (2004)
Em uma de suas performances mais divertidas, Bill Murray vive o lendário explorador subaquático Steve Zissou, famoso pelos rompantes de temperamento e também pelos documentários que faz sobre a vida no fundo dos oceanos. O longa, que é um dos mais biográficos do autor, ganha versões das músicas de David Bowie em português, cantadas por Seu Jorge.
'Moonrise Kingdom' (2012)
A comédia romântica é uma das obras mais queridas e delicadas de Anderson. Suzy Bishop (Kara Hayward) e Sam Shakusky (Jared Gilman) são duas crianças de 12 anos que se sentem deslocadas em meio às pessoas com que convivem em uma pequena ilha na costa da Nova Inglaterra. Com trilha sonora e fotografia irresistíveis, o longa coleciona cenas marcantes.