O documentário 'Pacificar Rio?', um olhar sensível e complexo sobre a crua realidade das comunidades carentes do Rio de Janeiro, do diretor uruguaio Gonzalo Arijón, foi apresentado em "avant premiere" nesta segunda-feira na Maison de l'Amérique Latine em Paris.
"Este filme é um olhar pessoal sobre um processo em curso muito complexo, apaixonante e inédito para mudar o paradigma de uma política repressiva e tentar reconquistar um território, deixando o tráfico de drogas em segundo plano", disse à AFP o cineasta uruguaio em referência às UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora.
A explicação mais corrente vincula esta mudança de enfoque à emergência provocada pela Copa do Mundo de 2014 e pelos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro-2016, segundo Arijón, mas se pode "especular com diversas hipóteses, 'a priori' todas válidas em um complicadíssimo mosaico sócio-econômico e cultural".
"As autoridades negam qualquer vínculo direto, toda relação causa-efeito, entre esta política de pacificação e os dois eventos esportivos, e é certo que os primeiros passos deste processo se deram antes de o Brasil ser escolhido para organizar o Mundial e as Olimpíadas", destaca Arijón, estimando que "o grande desafio para o governo do Rio é avançar até a Copa de maneira que esta política seja irreversível depois".
Diante de tantos interesses em jogo, incluindo o potencial desenvolvimento da indústria petrolífera no litoral do Rio, que mudaria muito o perfil da cidade, também é preciso dar crédito às boas intenções das autoridades locais, sem esquecer que nos últimos anos o Brasil tirou milhões de seus habitantes da pobreza e surge como uma das grandes potências econômicas do século XXI, segundo o cineasta uruguaio.
Gonzalo Arijón recebeu, entre outros, o prêmio Joris Ivens 2007, um dos mais importantes do cinema documentário, concedido em Amsterdã por 'Stranded (A Sociedade da Neve)'. 'Pacificar Río?' é uma coprodução da Arte, Pumpernickel Films e Canal Brasil.