Cinema

Ryan Gosling estreia na direção com filme vaiado em Cannes e criticado pela imprensa

'Lost river' marca empreitada do astro de 'Drive' por trás das câmeras, mas não impressiona

AFP Fernanda Machado

Recebido com empolgação por centenas de mulheres que o esperavam em frente ao seu hotel, o ator Ryan Gosling foi a estrela nesta terça-feira do Festival de Cannes, mas seu filme, 'Lost river' - o primeiro que dirige - dividiu a crítica. O escuro e sangrento longa-metragem foi apresentado nesta terça-feira, 20, na seleção oficial "Um Certo Olhar".

 

Com elenco encabeçado pela sedutora Christina Hendricks, da série 'Mad men', 'Lost river' era um dos mais esperados deste 67º Festival, e uma fila gigantesca se formou em frente ao teatro duas horas antes da exibição. Vaias e aplausos foram ouvidos na sala após a projeção do filme, uma espécie de metáfora rodada perto de um povoado submerso em um rio e em casas em péssimo estado nos arredores de Detroit, que evocam o colapso dos bancos e o fim da bolha imobiliária nos Estados Unidos.

''Se Ryan Gosling não fosse um astro, nunca teriam deixado ele dirigir'', apontou crítico britânico

Muitos críticos se lançaram às redes sociais para expressar sua aprovação ou rejeição, e alguns se perguntavam se o filme - que também conta em seu elenco com Eva Mendes, namorada de Gosling, que executa danças sangrentas em um sórdido clube - estaria na seleção oficial de um dos festivais mais prestigiados do mundo se o seu diretor não fosse um dos atores mais cotados de Hollywood.


Essa foi a opinião de Peter Bradshaw, do jornal britânico The Guardian. "Se Ryan Gosling não fosse um astro, nunca teriam deixado ele dirigir", escreveu o crítico de cinema. Quase todos concordam que a obra-prima do ator canadense de 34 anos tem a influência do cineasta dinamarquês Nicolas Winding Refn, que dirigiu Gosling em 'Drive' - com o qual o diretor ganhou o prêmio de melhor direção em Cannes, em 2011.

 

No ano passado, Refn levou a Cannes o violento 'Only God forgives', também com Gosling, apresentado no concurso pela Palma de Ouro, mas saiu de mãos vazias. "Gosling absorveu as lições de Refn e assina um filme atmosférico, habitado pela morte, pelos fantasmas e pela loucura", escreveu Christophe Narbonne, um jornalista da revista de cinema Premiere.

Alguns também falam da influência do cineasta britânico David Lynch no filme de Gosling, pelo ambiente, entre sonho e pesadelo, que habita sua obra, e pelas luzes de neon que o inundam. Ryan Gosling é "um diretor formidável" e "seu filme de pesadelo" é um "produto experimental, que promete", considera o site Les Cinévores, ressaltando a sombra de Lynch, como muitos outros.

Mas o jornal britânico The Times critica todas essas influências, criticando a "miscelânea de Lynch, Refn e Edward Hooper". Alheias às considerações cinematográficas, muitas mulheres estavam postadas em frente ao hotel de Gosling, ansiosas pela oportunidade de encontrar o ator: "Levarei café da manhã para você na cama, lavarei suas cuecas, farei tudo", estava escrito em um cartaz exibido por uma jovem fã.

Christina Hendricks, consagrada por 'Mad men', protagoniza primeiro longa de Gosling