Prêmio Platino estreia em noite de muita rumba, algumas surpresas e poucos brasileiros

Itinerância do festival realizado no Panamá é certa, mas o próximo país não está definido

por Gracie Santos 07/04/2014 06:00

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RODRIGO ARANGUA/AFP
A atriz Paulina García e o diretor Sebastián Lelio, vencedores do Prêmio Platino com o filme 'Glória' (foto: RODRIGO ARANGUA/AFP)
Cidade do Panamá – Embalada por rumbas, a noite de sábado no Teatro Anayansi, onde ocorreu a primeira edição do Prêmio Platino, teve forte acento feminino. A começar pela estatueta – a mulher que oferece, com os braços estendidos, o planeta Terra com o mapa latino-americano ao centro –, passando pela homenagem a Sônia Braga e pelo show da colombiana Fanny Lú, até chegar ao grande ganhador da noite, o filme 'Glória', cuja personagem-título, uma senhora solitária, gosta de ir a bailes.


Iniciativa da Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais (Egeda) em parceria com a Federação Iberoamericana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (Fipca), órgão que incentiva coproduções, o Prêmio Platino deu três troféus a 'Glória', coprodução chilena e espanhola: melhor filme, roteiro (Sebastián Lelio) e atriz (Paulina García).

Antes de receber o troféu das mãos da brasileira Leandra Leal, a chilena Paulina García disse que os prêmios que vem ganhando com o longa-metragem têm mudado sua vida. Em breve, estrearão outros três filmes – um deles, 'The 33', da diretora mexicana Patricia Riggen, sobre os homens presos numa mina no Chile em 2010. Paulina contou que foi abordada na rua, em Berlim, por uma pessoa que olhava para ela e escondia o rosto com as mãos, sem saber como expressar a emoção despertada por sua personagem.

Paulina revelou ter participado intensamente da criação do roteiro. Os diálogos não estavam prontos, o que era desafiador, pois isso deixava os atores em alerta, com total liberdade para criar. No palco, ao lado do diretor Sebastián Lelio, ela declarou: “Este filme é para todas as Glórias que levamos dentro de nós, homens e mulheres”.

O Brasil só estava no páreo em duas categorias: animação, com 'Uma história de amor e fúria' (de Luiz Bolognesi) – a estatueta ficou com 'Um time bom de bola' – e documentário, com 'O dia que durou 21 anos', de Camilo Tavares – o prêmio foi para 'Con la pata quebrada'.

Bolognesi afirmou que o Brasil merecia mais espaço no evento. Para ele, a criação do Prêmio Platino é importante por estimular o intercâmbio entre realizadores e produtores, mas a aproximação da cinematografia brasileira e iberoamericana do público passa por aspectos como educação e formação de plateia.

“O cinema deveria ser levado às escolas, não necessariamente de forma didática, o que se faz em outros países. Camilo Tavares acaba de voltar dos Estados Unidos, onde seu filme foi exibido em escolas, e passou por uma experiência enriquecedora. Os americanos não acreditavam no que viam (o longa mostra a influência dos EUA no golpe militar brasileiro, em 1964). Achavam que era ficção”, afirmou Bolognesi.

DINHEIRO O espanhol David Trueba não se ilude com o fato de prêmios como o Platino resolverem questões de distribuição, mas não minimiza a importância do evento, que aproxima realizadores, permite o intercâmbio de experiências e estimula coproduções. Entretanto, o cineasta assegura: “O que faz um filme viajar é dinheiro”. Presidente-executivo do Platino, Enrique Cerezo Torres, garantiu a itinerância do festival, mas não antecipou qual será o país a abrigar o evento em 2015.

Conhecido por suas interpretações magníficas nos filmes de Pedro Almodóvar ('Fale com ela', especialmente), o ator espanhol Javier Cámara corre o mundo com David Trueba para divulgar o premiado 'Vivir es fácil con los ojos cerrados'. Ele confessou que está louco para filmar no Brasil. “Posso aprender português em uma semana”, garantiu.

Cámara contou ter começado sua carreira, “ainda muito inocente”, com Almodóvar (“que ouve seus atores”) e aprendeu com ele. Com Sônia Braga no tapete vermelho, o espanhol exibiu sua verve cômica. “Dormi na cama dela em Nova York”, declarou. Só que a brasileira “entregou”: não estava em casa naquela noite.

*A jornalista viajou a convite da organização do evento

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