Cinema

Vencedor do Globo de Ouro e do Bafta, '12 anos de escravidão' estreia em BH

Forte candidato ao Oscar aborda os absurdos da humanidade contra os negros, nos EUA, no século 19

Carolina Braga

Michael Fassbender personaliza o branco monstro; Lupita Nyong'o e Chiwetel Ejiofor, os negros escravizados
Os filmes podem até reverberar de maneira diferente em cada pessoa. Mas mesmo que não seja um tema totalmente desconhecido, é impossível não se indignar em pelo menos uma passagem de '12 anos de escravidão'. E mais: é incrível como os anos passam, as sociedades mudam, mas certos preconceitos continuam assombrando o homem. Compreender a história com a ajuda do cinema não deixa de ser tentativa de expurgar o passado.


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O filme do britânico Steve McQueen ('Shame'), badalado na temporada de prêmios, vencedor do Globo de Ouro e Bafta de melhor longa e favorito ao Oscar, não é meloso, muito menos melodramático ao falar sobre a luta pela sobrevivência de negros no fim do século 19 nos EUA. Ele é de uma racionalidade cortante ao abordar um dos períodos mais absurdos da história da humanidade.

Baseado no drama real narrado em livro de Solomon Northup, o longa apresenta uma passagem da vida do próprio. Quando a abolição ainda não era consenso nos Estados Unidos, ele (Chiwetel Ejiofor), um violinista negro, vivia tranquilamente com a família no Estado de Nova York, região que já havia aparentemente superado aquela questão. Mesmo com toda documentação em ordem, Solomon é sequestrado e levado para o Sul, terra onde a lei tardou um pouco mais a chegar. Lá ele foi durante 12 anos tratado feito bicho.

Talvez o longa não conseguisse conquistar tamanha projeção se não fosse a entrega competente de seu elenco e o pulso firme do diretor. Chiwetel Ejiofor, como o protagonista, guarda na fisionomia um certo ar de surpresa. Não é resignação. É uma indignação velada, o que cabia naquele momento. Em volta dele, orbitam os outros personagens que dão mais peso ao drama. Lupita Nyong'o, indicada ao Oscar em papel coadjuvante, representa a dicotomia entre revolta e resignação de Patsey, enquanto Michael Fassbender personaliza o branco monstro. Sim, é pra gente ter ódio dele.

A escolha do diretor em não ser didático e em não contaminar o discurso com clichês abolicionistas na maior parte do longa, também pesa a favor de 12 anos de escravidão. É como se o que ele mostra fosse tão absurdo que dispensa qualquer tipo de legenda, defesa ou crítica. Os atos deixam claro o quanto há de política como pano de fundo e o quanto essa política foi cega. Mesmo com economia de palavras e cenas fortes, de uma forma ou de outra, está tudo dito.

O escorregão do longa cai no colo de Brad Pitt, curiosamente um dos produtores. Ok, entendemos que a figura dele é capaz de atrair muita gente para os cinemas do mundo todo. A pergunta que fica é: será que ele precisava mesmo aparecer ali para fazer a vez do bonitinho politicamente correto? Definitivamente não.

Assista ao trailer de '12 anos de escravidão':