Cinema

Diálogo entre culturas é tema de debate na Mostra de Tiradentes

Curadores estrangeiros estarão presentes na conversa desta quarta-feira

Carolina Braga

Ricardo Mirando optou por legendas em inglês para dar visibilidade ao filme 'Paixão e virtude'
Tiradentes – É o hoje o dia que diretores e produtores com pretensões internacionais ficam alvoroçados. Estarão em Tiradentes, abertos a projetos de filmes brasileiros, os curadores da Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes, Laurence Reymond, do Sorford Film Fund e do Films from the South, da Noruega, e Elizabeth Opdal, além de Marika Kozlovska, consultora de mercados internacionais do Cinema do Brasil. Eles vão debater o diálogo entre culturas e, claro, voltar para casa lotados de DVDs.


A preocupação com a internacionalização tem aumentado substancialmente o número de filmes legendados exibidos nas telas de Tiradentes. Integrante da Mostra Sui Generis, o longa 'Paixão e virtude', de Ricardo Miranda, foi um deles. Projetada na tarde dessa terça-feira, a obra baseada em um conto de Gustave Flaubert quebra convenções no modo como se realiza e como se vê cinema hoje em dia. A palavra é protagonista.

“O filme foi legendado em inglês porque aqui é um lugar que pode ter o famoso curador estrangeiro. Hoje em dia você só se move no exterior com essas possibilidades. São arranjos curatoriais. É melhor passar legendado. Acho legal porque a palavra para mim é uma imagem”, diz o cineasta. Apesar disso, Ricardo Miranda intui que Paixão e virtude não é o tipo de filme para o circuito internacional. “Acho que reflete o estrangeiro, e ele não gosta de se ver no espelho”, acredita.

Somente nesta edição serão 30 trabalhos legendados, entre longas e curtas. Gabriel Martins, do coletivo Filmes de Plástico, exibiu o curta 'Mundo incrível' remix com subtítulos em inglês. “Teve um pedido do festival. Como eles têm convidados de fora, querem que as pessoas entendam e também é uma forma de criar oportunidade, tornando o evento uma espécie de vitrine”, comenta. Para Gabriel, que concorre na Mostra Aurora com o longa Aliança, ninguém deve desperdiçar oportunidades. “Fazemos os filmes para eles ganharem o mundo e, sempre que for possível, passar fora do Brasil é interessante”, conclui.

TELEVISÃO Na semana em que o cinema, em especial o que há de contemporâneo e inovador produzido no Brasil, domina as conversações na Mostra de Cinema de Tiradentes, pouco a pouco, outras mídias pegam carona. Este ano, pelo menos duas oficinas têm a produção de conteúdo audiovisual para a televisão como tema; há também uma para a internet. As políticas voltadas para o setor ocuparam espaço nas discussões. O que é meio um sintoma do cenário atual.

“Os profissionais, não só os cineastas, mas as equipes como um todo, estão se misturando cada vez mais. Vemos produções de TV se distanciando cada vez mais do jornalismo. Hoje em dia, faz-se documentário, ficção especificamente para a TV. Com isso, está se abrindo um mercado muito grande para quem produz e o porte é muito parecido com o do cinema”, analisa Júlia Nogueira, coordenadora de TV e de documentários da produtora mineira Camisa Listrada. Para 2014, estão em desenvolvimento pelo menos 15 projetos de natureza diversa.

Em Tiradentes para apresentar o modelo de financiamento adotado pela Secretaria do Audiovisual da Prefeitura de São Paulo, Renato Nery observa que o conceito de criação é mais amplo. “Estamos em uma fase muito boa, em que os criadores estão perdendo o preconceito com isso ou aquilo”, diz. Segundo Nery, já é possível perceber nas novas gerações maior liberdade. “Eles estão mais preocupados com qual meio seduzirá melhor para contar aquela história. Não há fórmula de realização. Temos modelos de produção que atendem determinadas ideias”, completa.

Assim como no cinema, as formas de financiamento sempre rendem debates. Apesar da promessa, no ano passado, o Fundo Setorial da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura suspendeu os repasses em maio – o retorno foi em dezembro. “As promessas são enormes, mas a questão do fundo setorial em 2013 deixou o processo de TV muito paralisado para as produtoras independentes”, afirma Júlia Nogueira. Para Renato Nery, apesar disso, o momento é propício para avançar na conversa sobre como diversificar o financiamento. “Existe uma demanda em querer ver o Brasil, e os diversos modelos de produção atendem essa ânsia”, acredita.
 
A repórter viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

Programação

CINE TEATRO SESI
» 10h30 – Debate sobre O bagre africano de Ataleia
» 12h – Debate sobre curtas da Mostra Foco Série 2
» 15h – Seminário “Diálogo entre culturas”
» 17h30 – Filme Rio cigano, de Julia Zakia

CINE TENDA
» 18h – Sessão de curtas
» 19h30 – A mulher que amou o vento, de Ana Moravi
» 22h30 – Sessão de curtas – Mostra Foco

CINE BNDES NA PRAÇA
» 21h – Sessão de curtas

CINE-TENDA-BAR-SHOW
» 0h30 – Show de Gustavo Figueiredo Trio