Só a presença de Maria da Penha, corajosa cearense que lutou por justiça contra o pai de seus três filhos, depois de ter sido alvejada por ele com um tiro nas contas enquanto dormia, em 1983 (o que a deixou paraplégica), já seria suficiente para envolver o espectador. O longa torna palpável a dor daquela que deu nome à principal arma da mulher na luta contra os abusos: a Lei Maria da Penha, de 2006. E vai além: condena a submissão ainda frequente no universo feminino. Importante, por exemplo, é a declaração da relatora da lei, Jandira Fhegali, denunciando todos os tipos de violência, psicológica, moral e física: “Um detetive ou uma arma no armário são formas de tortura.” Mulheres “sem nome” mostram que, ainda que haja muito por fazer, a história começa a mudar: “Depois que meu vizinho foi preso, meu marido nunca mais me bateu”, declara uma das que temem se revelar.
Músico (baterista) e ator de teatro, o diretor Ique Gazzola, em entrevista ao Sesc TV, contou que “o trabalho de pesquisa foi muito difícil, pois a maioria em situação de violência doméstica não queria filmar, temendo represálias.” O filme conquistou o prêmio de Melhor Média-Metragem na 7ª Mostra Latino-Americana de Direitos Humanos 2012 e, este ano, foi selecionado na Mostra Brésil en Mouvements, de Paris (França). Se a Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou a situação do Brasil em relação às mulheres violentadas, o que culminou na Lei Maria da Penha, O silêncio das inocentes vem para dar voz ao que não pode ser calado.