Cinema

Apesar da fiel recriação de época, 'O tempo e o vento' não tem fluidez

Longa de Jayme Monjardim tem Fernanda Montenegro como narradora da trama, que dá bela contribuição ao filme

Carolina Braga

Contar com uma atriz da envergadura de Fernanda Montenegro em um projeto não é para qualquer um. O diretor Jayme Monjardim diz que sempre teve noção desse privilégio. Não à toa, a versão que ele faz para cinema de 'O tempo e o vento' aposta pesado na presença dela, especificamente na tonalidade da voz, na cadência e, óbvio, na experiência com que nos conta essa que é história clássica da literatura brasileira.

 

Confira os horários e salas de exibição de 'O tempo e o vento' em Belo Horizonte

 

 

'O tempo e o vento', obra de Érico Veríssimo é um romance épico. Já o filme de Jayme Monjardim trata de memórias. As de Bibiana, personagem de Fernanda e até mesmo as suas, espectador. Seja no papel de leitor dessa saga gaúcha ou telespectador de algumas das adaptações da trama para a televisão. A recomendação, porém, é tentar se livrar das referências que por ventura já tem. 

 

Este é o segundo filme dirigido por Jayme e, curiosamente, a segunda adaptação literária. A primeira foi a biografia de Olga Benário. Em ambos os trabalhos, ele se valeu da experiência que tem com a TV e praticamente não propôs novidades ao seu estilo. Por exemplo, assim como nas novelas, as longas tomadas com céu colorido pelo pôr do sol ou mesmo paisagens naturais recheiam 'O tempo e o vento'. Os planos também são convencionais assim como a trilha sonora.


A tarefa de levar esse romance para o cinema é ambiciosa. 'O tempo e o vento' é uma trilogia que narra período significativo da história do Brasil, o que se passou no Rio Grande do Sul entre 1745 e 1945. A disputa das famílias Terra Cambará e Amaral ilustra tempos de guerra, de desbravamento e construção de um país.

Com orçamento de R$ 13 milhões, o longa é fiel na recriação da época. Nesse aspecto, destaque para o figurino, tanto o das mulheres, com vestidos delicados, como as vestimentas dos homens, muitos deles trajando as bombachas gaúchas.

Sendo Ana Terra (Cléo Pires) e Capitão Rodrigo (Thiago Lacerda) os dois personagens mais famosos de O tempo e o vento, é natural prestar mais atenção neles. O elenco, no entanto, é cheio de rostos conhecidos: Marjorie Estiano, Luiz Carlos Vasconcelos, Leonardo Medeiros, entre outros. Cléo teve tarefa árdua, já que papel foi muito bem defendido pela mãe na TV. A “nova” Ana Terra é diferente: mais sensível, mais sensual.

Curiosamente, no meio da trama a atriz é substituída por Suzana Pires, que nem aparenta ser tão mais velha assim. Ou seja, sem apostar na maquiagem para marcar a passagem do tempo, Monjardim investe em um “truque” da televisão que soa exagerado e desnecessário na telona. Ainda mais sendo O tempo e o vento uma produção tão esmerada em detalhes. Thiago Lacerda como capitão Rodrigo é cativante. O ator teve personalidade para compor o forasteiro, ex-combatente, capturado pelo amor de Bibiana, que decide enfrentar os chefes locais para ficar na recém- criada cidade de Santa Fé.

Mesmo que o filme opte por narrar a história a partir do ponto de vista da ansiã Bibiana, o roteiro assinado por Letícia e Tabajara Ruas não deu conta de lidar com os saltos temporais muito marcados na literatura de Veríssimo. Apesar de ter como trunfo uma potente narração – como é a de Fernanda Montenegro – para conduzir a saga, os frequentes saltos temporais comprometem a fluidez.

Assista ao trailer de 'O tempo e o vento':