Cinema

Abuso de clichês esvazia méritos da comédia nacional 'O concurso'

Tanto personagens quanto situações mostradas no longa são esterotipadas

Mariana Peixoto

Fábio Porchat, Anderson Di Rizzi, Rodrigo Pandolfo e Danton Mello: elenco se perde na representação de situações que já foram exploradas em outras comédias
Um cearense extremamente religioso e apegado à família; um carioca malandro; um rapaz inocente do interior de São Paulo, com um sotaque carregadíssimo; e um gaúcho (de Pelotas, claro), que não é muito seguro de sua opção sexual. Fossem só os estereótipos mais do que batidos de alguns dos clichês dos tipos que compõem a população brasileira, 'O concurso', filme que chega aos cinemas nesta sexta-feira, 19, poderia ter até salvação. O problema é que as situações em que os quatro protagonistas se colocam já foram vistas inúmeras vezes no cinema e na TV.

 

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Na história que marca a estreia de Pedro Vasconcelos (ator global na adolescência, hoje dedicado à direção de novelas e séries) como diretor de cinema, os quatro protagonistas – Fábio Porchat, o gaúcho; Danton Mello, o carioca; Anderson Di Rizzi, o cearense; e Rodrigo Pandolfo, o paulista interiorano – se encontram no Rio de Janeiro, às vésperas da prova oral de concurso para juiz federal. O mote é até interessante (no Brasil 12 milhões de pessoas prestam concurso público a cada ano), mas o desenvolvimento recai numa colagem malfeita de situações absurdas e repetitivas.


A cena inicial é tal como um 'Se beber não case' brasuca. Vemos os quatro protagonistas, na hora da prova, em meio às consequências de uma noitada regada a sexo, drogas e álcool. Por meio de flashback, vemos como cada um deles chegou lá. Caio, um advogado de porta de cadeia que vive na corda bamba de contravenção, tenta conseguir o gabarito (como é uma prova oral, o tal “gabarito” só traria os assuntos que seriam tratados). O documento, é claro, está numa favela em baile funk que mistura traficantes, funkeiros, travestis e pais de santo. E nossos “heróis” vão parar lá.

Tendo isso em mente, as piadas vão se repetindo. O gaúcho com pai opressor se envolve com os travestis, até ser posto à prova com um clássico da dance music (tal qual Kevin Kline em 'Será que ele é?'); o paulista do interior, virgem, encontra-se com uma paixão de adolescência (Sabrina Sato, como atiradora de facas que não faz nada muito diferente do que no programa Pânico na Band; corpão escultural à mostra, repete sem parar “Me come ou morre”!).

Fábio Porchat consegue se destacar em alguns momentos do longa
Diante dessa miscelânea, dá para achar (um pouco) de graça em Porchat, um exagero só como o gaúcho de Pelotas. Os outros três nomes do elenco, ainda que convençam na interpretação, não têm o mesmo timing para a comédia. No fim das contas, o que “pega” mesmo é o seguinte: ninguém consegue rir muito de piada requentada.

 

Veja o trailer de 'O concurso':