Cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul fala das dificuldades em filmar em seu país

Artista tem seus filmes exibidos em dois projetos simultâneos em BH

por Ailton Magioli 02/07/2013 06:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Edésio Ferreira/EM/D. A PRESS
Apichatpong durante apresentação de seu filme e debate com o público. Cineasta ficou empolgado com a participação popular nas ruas de BH (foto: Edésio Ferreira/EM/D. A PRESS)
A Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2010, pelo longa-metragem 'Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas', levou Apichatpong Weerasethakul, de 42 anos, a diversos lugares e a conhecer muitas pessoas. Mas a importância maior do prêmio, segundo o cineasta tailandês, foi ganhar voz em seu próprio país. “Preocupo-me com a liberdade de expressão na Tailândia”, justifica Apichatpong. Durante bate-papo, no fim de semana, com plateia do auditório de 80 lugares do Memorial Minas Gerais Vale, ele revelou aspectos de sua consagrada criação para as telas.


Atração do projeto Inhotim Escola, incorporado pelo Circuito Cultural Praça da Liberdade, Apichatpong Weerasethakul volta a ter o premiado filme exibido nesta terça-feira à noite, no Cine Humberto Mauro, do Palácio das Artes, reservando outras atrações de sua obra para exibição na capital, entre o memorial e o cinema, até o 26. O cineasta e artista multimídia também é tema da exposição que será aberta quarta-feira no Oi Futuro, em Belo Horizonte, com apresentação do mais recente longa do diretor, 'Hotel Mekong', e sete curtas, que dividem espaço expositivo especialmente preparado para a mostra, que integra o festival Fluxus.

“A partir da Palma de Ouro de Cannes, o próprio governo de meu país se preocupou em me dar voz”, reconhece o cultuado diretor do cinema independente tailandês, que contabiliza 15 curtas e seis longas-metragens, além de sete instalações multimídias.

A situação do cinema independente em seu país, garante Apichatpong Weerasethakul, tem melhorado. Principalmente no que diz respeito aos custos de equipamentos para filmagens e edição. “Há muitos diretores fazendo longas-metragens”, comemora a boa fase. O próprio governo, de acordo com o diretor, passou a ter percepção da importância desse mercado, incentivando a criação de espaços para a exibição de filmes. O apoio oficial ao setor, no entanto, admite Apichatpong Weerasethakul, ainda é pequeno.

 “Às vezes, surgem propostas interessantes que, pouco tempo depois, já não existem mais, diante da troca de ministros”, lamenta o jogo do poder, acrescentando que o governo tailandês não só deixa de apoiar o cinema como também exerce constante censura sobre o setor. “Lutei anos contra a censura em meu país, onde não havia sequer critério para a classificação dos filmes”, recorda Apichatpong. Ele destaca que, mesmo com a adoção do sistema de classificação por idade, a censura ao cinema continua existindo na Tailândia.

Adepto de estilo único de fazer cinema em seu país, onde o cinema comercial prevalece, o diretor independente constrói uma obra que vem chamando a atenção da crítica internacional, por meio da qual se destacam a utilização de elementos como comunidade, memória e fábula. “Quero me lembrar de tudo e fazer cinema é uma forma de organizar essas ideias”, esclarece. Segundo Apichatpong Weerasethakul, ao fazer um trabalho ele cria a própria memória, que, misturada à vida, resulta no filme.

REAL E FICÇÃO Antes de chegar ao cinema, ao qual se dedica paralelamente às artes plásticas, Apichatpong Weerasethakul estudou arte também. Assumidamente inspirado por filmes experimentais norte-americanos, o diretor tailandês diz que a liberdade daquelas obras contribuíram para ele vencer a timidez. “É muito empolgante para mim, que venho de longe, estar no Brasil neste momento histórico, com todos na rua”, diz o cineasta, admitindo que mesmo tendo acabado de chegar ao país ele já pensa em voltar.

Na busca do que o atraía no cinema, ele recorda que tentou voltar à infância, mais especificamente à região em que vivia essa fase. Recorda-se claramente do hospital, da escola e do cinema em si. “Era uma grande riqueza de narrativa, com o cinema, a TV, a revista em quadrinhos, além do teatro, que eu ouvia no rádio”, relata Apichatpong Weerasethakul, que, posteriormente, se envolveria com a cultura japonesa, além de influenciado pelas próprias mudanças políticas de seu país.

Em busca de um estilo cinematográfico próprio, o diretor diz que começou a coletar histórias de diferentes fontes. Para fazer o filme 'Objeto misterioso ao meio-dia', de 2000, por exemplo, ele viajou por toda a Tailândia pedindo para que as pessoas continuem uma história que havia sido começada por outra. “É uma mistura de documentário com ficção. Dizem que é ficção documental ou vice-versa”, diz o diretor, salientando que a partir daí descobriu que não é um bom escritor. “Nos projetos seguintes, passei a tentar conseguir histórias de pessoas.”

Não por acaso, um ano depois, já em novo projeto, Apichatpong Weerasethakul foi a uma vila próxima à sua casa e distribuiu um script de casa em casa para que voluntários de cada uma delas interpretasse  uma novela. “A narrativa é contínua, mas o rosto das personagens mudava de acordo com cada casa”, avalia, admitindo que seu objetivo é provocar reflexão sobre ficção e realidade.

Filmes na galeria

 

'Hotel Mekong', o mais recente longa-metragem do diretor Apichatpong Weerasethakul, e mais sete filmes curtos realizados pelo cineasta tailandês ocuparão o espaço de exposição do Oi Futuro em Belo Horizonte, de amanhã a 1º de setembro. A exibição integra o festival Fluxus.

Para a exibição de 'Hotel Mekong', uma sala de cinema não convencional foi criada no espaço expositivo. O filme traz personagens entre o real e o fantasmagórico, nos quartos de um hotel vazio à beira do Rio Mekong.

Os sete filmes curtos serão dispostos cenograficamente em telas grandes distribuídas no mesmo espaço. São eles: 'Cactus River' (2012), 'Ashes' (2012), 'Uma carta para o tio Boonmee' (2009), 'Vampiro' (2008), 'Pessoas luminosas' (2007), 'Esmeralda' (2007) e 'O hino' (2006). Para a curadora da exposição, Francesca Azzi, Apichatpong Weerasethakul recria fronteiras entre a ficção e o documentário, o realismo e a alegoria, a memória e o presente. 


Apichatpong Weerasethakul em BH

Projeto Inhotim Escola

>> Terça-feira

19h – 'Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas'
21h – 'Eternamente sua'

Cine Humberto Mauro, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca.

>> Sexta-feira
19h30 –Sessão de curtas: 'Anthem', '0116643225059', 'Like the relentless fury of the pounding waves', 'Windows', 'Monsoon' e 'Thirdworld'.
Memorial Minas Gerais Vale, Praça da Liberdade, s/nº, Lourdes

Fluxus

>> De quarta-feira a 1º de setembro
Galeria de Artes Visuais do Oi Futuro, Av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras. De terça a sábado, das 11h, às 21h e domingo, das 11h às 19h. Entrada franca

Asssita ao trailer de 'Mekong Hotel':


MAIS SOBRE CINEMA