Atração do projeto Inhotim Escola, incorporado pelo Circuito Cultural Praça da Liberdade, Apichatpong Weerasethakul volta a ter o premiado filme exibido nesta terça-feira à noite, no Cine Humberto Mauro, do Palácio das Artes, reservando outras atrações de sua obra para exibição na capital, entre o memorial e o cinema, até o 26. O cineasta e artista multimídia também é tema da exposição que será aberta quarta-feira no Oi Futuro, em Belo Horizonte, com apresentação do mais recente longa do diretor, 'Hotel Mekong', e sete curtas, que dividem espaço expositivo especialmente preparado para a mostra, que integra o festival Fluxus.
A situação do cinema independente em seu país, garante Apichatpong Weerasethakul, tem melhorado. Principalmente no que diz respeito aos custos de equipamentos para filmagens e edição. “Há muitos diretores fazendo longas-metragens”, comemora a boa fase. O próprio governo, de acordo com o diretor, passou a ter percepção da importância desse mercado, incentivando a criação de espaços para a exibição de filmes. O apoio oficial ao setor, no entanto, admite Apichatpong Weerasethakul, ainda é pequeno.
“Às vezes, surgem propostas interessantes que, pouco tempo depois, já não existem mais, diante da troca de ministros”, lamenta o jogo do poder, acrescentando que o governo tailandês não só deixa de apoiar o cinema como também exerce constante censura sobre o setor. “Lutei anos contra a censura em meu país, onde não havia sequer critério para a classificação dos filmes”, recorda Apichatpong. Ele destaca que, mesmo com a adoção do sistema de classificação por idade, a censura ao cinema continua existindo na Tailândia.
Adepto de estilo único de fazer cinema em seu país, onde o cinema comercial prevalece, o diretor independente constrói uma obra que vem chamando a atenção da crítica internacional, por meio da qual se destacam a utilização de elementos como comunidade, memória e fábula. “Quero me lembrar de tudo e fazer cinema é uma forma de organizar essas ideias”, esclarece. Segundo Apichatpong Weerasethakul, ao fazer um trabalho ele cria a própria memória, que, misturada à vida, resulta no filme.
REAL E FICÇÃO Antes de chegar ao cinema, ao qual se dedica paralelamente às artes plásticas, Apichatpong Weerasethakul estudou arte também. Assumidamente inspirado por filmes experimentais norte-americanos, o diretor tailandês diz que a liberdade daquelas obras contribuíram para ele vencer a timidez. “É muito empolgante para mim, que venho de longe, estar no Brasil neste momento histórico, com todos na rua”, diz o cineasta, admitindo que mesmo tendo acabado de chegar ao país ele já pensa em voltar.
Na busca do que o atraía no cinema, ele recorda que tentou voltar à infância, mais especificamente à região em que vivia essa fase. Recorda-se claramente do hospital, da escola e do cinema em si. “Era uma grande riqueza de narrativa, com o cinema, a TV, a revista em quadrinhos, além do teatro, que eu ouvia no rádio”, relata Apichatpong Weerasethakul, que, posteriormente, se envolveria com a cultura japonesa, além de influenciado pelas próprias mudanças políticas de seu país.
Em busca de um estilo cinematográfico próprio, o diretor diz que começou a coletar histórias de diferentes fontes. Para fazer o filme 'Objeto misterioso ao meio-dia', de 2000, por exemplo, ele viajou por toda a Tailândia pedindo para que as pessoas continuem uma história que havia sido começada por outra. “É uma mistura de documentário com ficção. Dizem que é ficção documental ou vice-versa”, diz o diretor, salientando que a partir daí descobriu que não é um bom escritor. “Nos projetos seguintes, passei a tentar conseguir histórias de pessoas.”
Não por acaso, um ano depois, já em novo projeto, Apichatpong Weerasethakul foi a uma vila próxima à sua casa e distribuiu um script de casa em casa para que voluntários de cada uma delas interpretasse uma novela. “A narrativa é contínua, mas o rosto das personagens mudava de acordo com cada casa”, avalia, admitindo que seu objetivo é provocar reflexão sobre ficção e realidade.
Filmes na galeria
'Hotel Mekong', o mais recente longa-metragem do diretor Apichatpong Weerasethakul, e mais sete filmes curtos realizados pelo cineasta tailandês ocuparão o espaço de exposição do Oi Futuro em Belo Horizonte, de amanhã a 1º de setembro. A exibição integra o festival Fluxus.
Os sete filmes curtos serão dispostos cenograficamente em telas grandes distribuídas no mesmo espaço. São eles: 'Cactus River' (2012), 'Ashes' (2012), 'Uma carta para o tio Boonmee' (2009), 'Vampiro' (2008), 'Pessoas luminosas' (2007), 'Esmeralda' (2007) e 'O hino' (2006). Para a curadora da exposição, Francesca Azzi, Apichatpong Weerasethakul recria fronteiras entre a ficção e o documentário, o realismo e a alegoria, a memória e o presente.
Apichatpong Weerasethakul em BH
Projeto Inhotim Escola
>> Terça-feira
19h – 'Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas'
21h – 'Eternamente sua'
Cine Humberto Mauro, Av. Afonso Pena, 1.537, Centro. Entrada franca.
>> Sexta-feira
19h30 –Sessão de curtas: 'Anthem', '0116643225059', 'Like the relentless fury of the pounding waves', 'Windows', 'Monsoon' e 'Thirdworld'.
Memorial Minas Gerais Vale, Praça da Liberdade, s/nº, Lourdes
Fluxus
>> De quarta-feira a 1º de setembro
Galeria de Artes Visuais do Oi Futuro, Av. Afonso Pena, 4.001, Mangabeiras. De terça a sábado, das 11h, às 21h e domingo, das 11h às 19h. Entrada franca
Asssita ao trailer de 'Mekong Hotel':