Filme francês 'Vocês ainda não viram nada' estreia em Belo Horizonte

Aos 90 anos, diretor Alain Resnais avisa: se tivesse mais tempo, ainda teria muito a dizer

por Sérgio Rodrigo Reis 17/05/2013 08:00

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Comme Film/Divulgação
Atores são convidados a assistir à gravação em vídeo da encenação de 'Eurídice' (foto: Comme Film/Divulgação)
É bom avisar: 'Vocês ainda não viram nada' é um filme francês estilo papo-cabeça na forma e no conteúdo. Dito isso sobre o novo e elogiado projeto do diretor Alain Resnais, espécie de lenda viva do cinema atual, o caminho mais fácil (se é que ele existe) para entrar no clima da produção é se agarrar ao roteiro. Tudo começa com a notícia da morte do dramaturgo Antoine d'Anthac (Denis Podalydès). Diante da situação, atores que atuaram em diferentes versões de sua peça teatral 'Eurídice' são chamados para a leitura do testamento.

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Comparecem figuras importantes do teatro francês, como Michel Piccoli, Mathieu Amalric, Sabine Azéma, Lambert Wilson e Anne Consigny. Depois de chegar à suntuosa casa de Antoine, eles são informados de que o autor lhes deixou depoimento gravado em vídeo. Nele, pede que todos avaliem nova versão de 'Eurídice', encenada por uma companhia de teatro, gravada especialmente para ser exibida na ocasião. Quando as cenas são apresentadas começa o jogo entre realidade e ficção, que se desenrola até o fim da película.


Autor de filmes cults como 'O ano passado em Marienbad' (1961); 'Hiroshima meu amor' (1959) e 'Ervas Daninhas' (2009), que lhe rendeu prêmio especial no Festival de Cannes, Resnais provoca reflexão que vai bem além da tela. Em geral, seus filmes têm como marca questões existenciais ligadas ao tempo e à memória e, de alguma forma, 'Vocês ainda não viram nada' persegue a mesma cartilha quando leva o espectador a pensar na finitude da vida como início de outro ciclo de coisas.


Metáforas após metáforas levam o espectador a emaranhado de referências e citações na obra que espelha o atual momento de Resnais. Aos 90 anos, consciente de que seu fim se aproxima, o cineasta deixa a impressão de que ele ainda tinha muito a dizer. O título, que ganhou tradução literal ('Vocês ainda não viram nada') soa como espécie de aviso bem-humorado de que o cineasta teria muito a fazer. Só não terá tempo.


O vaivém da narrativa, as soluções de montagem, o roteiro inteligente e a forma como o diretor se vale de regras simples para falar de algo universal – a existência humana – , comprovam sua teoria. Sim! Ele precisaria de bem mais tempo para dizer tudo que sabe, tudo que deseja, tudo que julga necessário.


'Vocês ainda não vira nada' é também exercício de reflexão sobre o fim de um ciclo. Sobre o fim da vida. No longa, os atores convidados se sentam numa plateia da mansão de um dramaturgo para conferir, em primeira mão, o que seria a versão definitiva de 'Eurídice'. O texto grego clássico vai sendo encenado e, cada vez que os personagens morrem, surge outro grupo teatral disposto a ressuscitá-los, repetindo mais uma vez a narrativa tão conhecida.


A representação em cima da representação segue num exercício constante, até que, quando todos imaginavam saber de cor os desfechos, o diretor lança mão de um de seus mais conhecidos recursos de linguagem: o desfecho surpreendente.

Assista ao trailer do filme:

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