Sérgio Borges ganha retrospectiva de seus longas e curtas-metragens

Obra do cineasta mineiro é marcada pela intenção de dar voz a grupos que são vítimas de discriminação

por Gracie Santos 15/05/2013 07:54

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Sérgio Borges/Divulgação
'Capitais do tempo' mistura ficção e realidade para apresentar o cotidiano de um centro de convivência (foto: Sérgio Borges/Divulgação)
O mineiro Sérgio Borges, de 38 anos, que estreou em longa com o pé direito – 'O céu sobre os ombros' foi o vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 2010 –, ganha a primeira retrospectiva de sua carreira. A 'Mostra Sérgio Borges', promoção do Cine Sesc Palladium, tem abertura hoje, às 19h, com sessão comentada do filme premiado (que será reexibido no dia 19). Também na programação, 'Capitais do tempo'; 'Joãos'; e 'Mira', entre outros. O diretor promete ainda duas sessões de curtas e uma apresentação surpresa, batizada de 'Sessão xamânica', no dia 18, às 19h. Enquanto isso, no Café do Sesc estão sendo apresentados 33 vídeos do artista, do projeto Hai kais.

Feliz com o convite, Borges conta que terá oportunidade de mostrar não apenas as obras que circularam por festivais como também outras que ficaram escondidas, que ele próprio teve a oportunidade de rever. Conhecido por trabalhar narrativa pouco comum, que mescla ficção e documentário, o diretor destaca entre as obras a serem apresentadas 'Capitais do tempo' (2006), filmado no Centro de Convivência São Paulo.

“Durante seis meses, fiz visitas ao espaço com a intenção de dar voz às pessoas que recebiam tratamento em vez de ficar internadas em manicômios. É um trabalho forte, de cerca de 50 minutos e a exibição vem em momento oportuno, já que 18 de maio é Dia de Luta Antimanicomial”, afirma. O filme tem tom documental. “São entrevistas em que as pessoas falam sobre questões básicas, sobre como gostariam de ser normais ou não e seu desejo de que a diferença seja compreendida, é um grito de luta contra o preconceito”, avisa.

Sérgio Borges/Divulgação
(foto: Sérgio Borges/Divulgação)
Borges chama a atenção para obra diferenciada apresentada na série 'Por que a gente é assim?', do Canal Futura. O curta, de 25 minutos, foi criado em torno do pajé Kaká Wuerá Jecupé. “É uma ponte entre os povos brancos e os da floresta. Os pais dele, de família nômade, migraram com os guaranis para aldeia nos arredores de São Paulo, que depois foi engolida. Ele teve educação de branco, em escola pública, viu os costumes da aldeia serem perdidos. Quando completou 18 anos, decidiu fazer peregrinação para recuperar sua identidade de índio. O filme é sobre isso. E mostra a relação deles com a espiritualidade, a ideia de que o mundo atual é só um espelho do espiritual.”

O diretor confessa que ao rever suas obras percebeu os caminhos que o levaram a 'O céu sobre os ombros'. “Por trás de tudo está a experiência com o documentário, com as pessoas que não têm muita voz, uma minoria... Tudo somado à bagagem da videoarte”. Borges vê tudo como fruto do fato de ele ter crescido em Belo Horizonte numa família de “pais muito legais, mas dentro de uma família tradicional.” “Quando me tornei adolescente, comecei a achar o mundo muito injusto, quis conhecer outras realidades, sempre com a ideia de busca espiritual também. Descobri que entre as pessoas ditas normais quase todo mundo tem os mesmos desejos, vontade de ser reconhecido e amado. Busco olhar para as coisas pequenas, que aparentemente são menores ou não são bonitas. Foi uma maneira de descobrir algo diferente de onde vim, fruto de vontade de ampliar horizontes, me reconheço mais nessas pessoas”, afirma.

MOSTRA SÉRGIO BORGES

Desta quarta ao dia 19, no Cine Sesc Palladium (Av. Augusto de Lima, 420, Centro). Hoje, às 19h, 'O céu sobre os ombros' (reexibição dia 19, às 18h); 'Capitais do tempo', amanhã, às 18h e dia 17, às 17h; 'Joãos', amanhã e dia 19h, às 20h; 'Mira', dia 17, às 20h e dia 18, às 17h; Sessão de curtas 1, dia 17, às 18h, e dia 19, às 17h: 'Querida nora', 'Através', 'Silêncio' e 'Perto de casa'; Sessão de curtas 2, amanhã, às 17h e dia 18, às 18h, 'O caminho' e' A palavra na boca tem o poder da flecha no arco'; Sessão especial, dia 18, 'Sessão xamânica', às 19h. Entrada franca com retirada de ingressos uma hora antes.

Procura-se

O próximo projeto de Sérgio Borges é a adaptação de Coiote, de Roberto Freire. Em fase de desenvolvimento de roteiro, o diretor está à procura de ator que interprete o personagem central. Livro e filme contam a história de um jovem que à noite se transforma em lobo. “É um menino livre por quem todos ficam sexualmente atraídos. Vou contar uma história de amor desse rapaz, que acaba indo morar em uma comunidade, em Visconde de Mauá, e precisamos de um ator jovem.” Já estão confirmados no elenco Henrique Dias e Helena Inês.

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