Cinema

'Em transe' coloca ladrões de obras de arte em investigação psicológica

Vincent Cassel comanda quadrilha de ladrões no filme de Danny Boyle

Walter Sebastião

"Não quero fazer filmes pomposos, sérios. Gosto de filmes que tenham vivacidade" - Danny Boyle, diretor
A primeira cena de 'Em transe', filme de Danny Boyle, é um minidocumentário sobre roubos de obras de arte. Explica-se que meios tecnológicos trouxeram novos e mais eficientes procedimentos de segurança. Mas o irônico narrador observa: nenhum aparelho é capaz de impedir a ousadia e a força bruta. O longa começa, mesmo, com o roubo de uma valiosa pintura do espanhol Goya. Os bandidos destroem “na pancada” todos os sofisticados equipamentos de proteção. Levam a obra depois de derrubar Simon (James McAvoy), funcionário da galeria, com um golpe na cabeça.

 

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Quando os ladrões abrem a maleta, descobrem que a tela desapareceu. À medida que o filme evolui, confirma-se a suspeita insinuada pela situação inicial: o envolvimento de Simon no crime. Só que o golpe na cabeça fez com que ele esquecesse o local onde o quadro está escondido. Franck (Vicent Cassel), o chefe da quadrilha, tenta resolver o problema valendo-se da terapeuta Elizabeth (Rosário Dawson), que trabalha com hipnose. A partir desse momento, saboreia-se um filme de investigação que se transforma em imersão na mente humana levando a temas como desejo, sexo, posse, arte, mentira e poder.


O que está na tela é um jogo, mantido até a última cena sem que se saiba quem está dizendo a verdade. Impressiona a forma como o filme vai dando densidade a temas onipresentes em fitas do gênero (especialmente o noir, evocado e repaginado de forma convincente, mas não só ele). A trama algo “arquetípica” de cinema – com seus roubos espetaculares – torna-se elaborada observação do ser humano. Plasticamente impecável, 'Em transe' exibe visualidade construída por meio de celulares, tablets, câmaras de vigilância, reflexos em vidros, fotos e imagens distorcidas. Não se trata de mero efeito. Tal visualidade dá nuances às situações.


Certos momentos são quase “experimentos” formais, como as situações criadas apenas manuseando texto e imagem, um prodígio como concepção dramatúrgica. Exemplo da sofisticação e do bom cinema de Danny Boyle é a presença de algo que o cinema traz em quantidade, mas não em qualidade artística: o nu feminino. Com direito a breve e sensual digressão, a partir da história da arte, sobre a presença e a ausência de pêlos pubianos nas imagens.


A única dissonância é a trilha. Parte considerável do filme envereda por estética musical melosa, que induz à atmosfera de melodrama e desconcentra o espectador. Apesar disso, 'Em transe' é aula ministrada por um mestre do cinema.


O DIRETOR
O inglês Danny Boyle, de 56 anos, ficou conhecido pelos filmes 'Quem quer ser um milionário?' (2008), que lhe rendeu o Oscar de melhor diretor, e 'Trainspotting – sem limites' (1996). Foi ele quem assinou a direção artística dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres.

 

Assista ao trailer de 'Em transe':