Onda de filmes de terror aposta cada vez mais em doses cavalares de sangue e personagens conhecidos

Filme do gênero vêm arrastando grande público às salas de cinema

por Mariana Peixoto 27/04/2013 10:00

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MGM/Divulgação
'Carrie, a estranha', refilmagem da história de Stephen King, chega aos cinemas brasileiros em novembro (foto: MGM/Divulgação )
Um curta-metragem sobre duas irmãs assombradas pelo “amor eterno” da mãe virou a carreira do realizador argentino Andrés Muschietti. Descoberto pelo mexicano Guillermo Del Toro, 'Mamá' virou o longa-metragem 'Mama', que marca a estreia de Muschietti em longas-metragens. Chegou aos cinemas brasileiros no dia 5 e, em duas semanas, fez 530 mil espectadores. Na semana passada, outro filme de terror entrou em cartaz no circuito comercial: a refilmagem de 'A morte do demônio', que Sam Raimi lançou em 1981. A nova versão foi dirigida pelo uruguaio Fede Alvarez, também estreante em longas descoberto na internet (com o vídeo 'Ataque de pânico', em que Montevidéu é invadida por robôs gigantes). No primeiro fim de semana em cartaz, a produção, com classificação de 18 anos, levou 102 mil pessoas aos cinemas.

Universal/Divulgação
O filme 'Mama', do argentino Andrés Muschietti, já fez meio milhão de espectadores no Brasil (foto: Universal/Divulgação )
“O terror é um gênero explorado pela indústria há bastante tempo. 'A morte do demônio' entrou em cartaz em 100 cinemas, o que dá uma média de mil espectadores por sala. É o típico caso, pois o terror, em geral, tem uma vida mais curta, então seu público é sempre maior no primeiro fim de semana”, analisa o crítico Pedro Butcher, do Filme B, portal especializado em mercado de cinema. Ao longo deste ano, as salas comerciais serão invadidas por outras sequências e refilmagens, como as de 'Carrie, a estranha', clássico de Brian De Palma que marcou o fim da década de 1970, e 'O massacre da serra elétrica', que vai ganhar sua primeira versão em 3D (veja quadro).

Para Butcher, a invasão de motosserras, mutilações e gritos pode ser coincidência, “até porque, as distribuidoras independentes estão um pouco mais fortes este ano”. A tecnologia tem influenciado muito nas narrativas. “O cinema de terror se tornou nos últimos anos mais explícito em suas violências, mais realistas em certo sentido, tornando a ‘montanha-russa’ que eles imitam mais carregada de redemoinhos mortais, de sensações de medo, quedas em abismos e giros em parafuso, que fazem a delícia dos adolescentes que têm estômago forte para esse tipo de espetáculo sadomasoquista”, acrescenta Luiz Nazario, professor da Escola de Belas Artes da UFMG e autor do livro 'Da natureza dos monstros'.

Para espectadores do gênero que passaram há muito da adolescência, as novas versões deixam a desejar. “A refilmagem de 'A morte do demônio' é uma porcaria. O primeiro filme foi genial em sua época, com uma câmera solta, fluente. E minha crítica é geral para todas as novas versões. Desde os anos 1930, o terror é considerado filme B. A criatividade do gênero está em contar uma história que força o medo no espectador, cria pânico, dá susto. Hoje, a tecnologia dá falsidade ao cinema de terror”, diz o pesquisador e professor de cinema Ataídes Braga.

Nazario tem opinião semelhante: “O cinema de horror era, sobretudo, um cinema poético. Lobisomens passeando na floresta com o terno esgarçado pelas patas peludas que lhes surgiam do nada; mortos-vivos erguendo-se afoitos de túmulos tortos em cemitérios recobertos de névoa; o 'Frankenstein' de Boris Karloff; o 'Drácula' de Bela Lugosi; 'A mosca da cabeça branca'; 'Os pássaros', de Alfred Hitchcock... Os novos cineastas tornaram o horror escatológico. O realismo esvaziou a dimensão fantástica desse gênero.”

Sony Pictures/Divulgação
'A morte do demônio', também em cartaz, é dirigido pelo estreante em longas Fede Alvarez (foto: Sony Pictures/Divulgação )
Mas o underground ainda guarda bastante da criatividade. Há festivais brasileiros que se dedicam exclusivamente aos chamados filmes de gênero. Criador e organizador do RioFan – Festival Fantástico do Rio, realizado desde 2008, Fernando Toste costuma exibir na mostra Underground Brasil de 25 a 30 longas nacionais de fundo de quintal. “Uma coisa que aprendi nesses anos de festival é que o terror é cíclico e às vezes um filme acaba puxando vários outros. Nos anos 1980, por exemplo, foi 'Sexta-feira 13'. E essa moda dura um bom tempo, porque o terror é o jeito mais fácil de se ganhar dinheiro com cinema depois da pornografia. São filmes baratos, a que o público dificilmente vai assistir pela qualidade.”

Horror em Perocão

Uma mancha negra no mar contamina os seres da região, que são transformados em monstros. Na aldeia de pescadores do local, aqueles que consomem as criaturas marinhas ou são atacados por elas acabam virando zumbis. Estes acabam se misturando às criaturas do mar, criando um misto de homem e caranguejo. Esse é 'Mar negro', filme que fecha a trilogia do realizador capixaba Rodrigo Aragão, iniciada em 2008 com 'Mangue negro' e continuada três anos mais tarde com 'A noite do chupacabras'. 'Mar negro' terá sua primeira exibição pública em 3 de maio no FantasPoa – Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre.

Rodrigo Aragão
(foto: Rodrigo Aragão)
Aragão nasceu e vive em Perocão, aldeia de pescadores em Guarapari, e sempre leva seu próprio ambiente para seus filmes. “Mesmo que aqui tenha vários problemas, é muito bonito. Tem um manguezal, atrás dele uma cadeia de montanhas e o mar na frente”, conta Aragão. “Involuntariamente, tenho seguido trajetória muito parecida com a do Zé do Caixão. Sou distribuído lá fora e não dentro do Brasil”, conta ele, que já foi lançado na Holanda, Japão, Bélgica, no futuro próximo nos EUA, e é muito pirateado na China.

Sua maior produção até então, 'Mar negro' custou R$ 200 mil. “Mas parece muito mais. Convidei pela internet vários realizadores de terror. Quem quisesse poderia vir, mas não pagava nada, só dava comida, abrigo e cerveja no fim do dia. Vieram quase 60 pessoas de vários lugares do Brasil e também do México, Costa Rita, Alemanha e Nova Zelândia”, acrescenta.

Assista ao trailer de 'A morte do demônio':


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