Animação Uma história de amor e fúria faz revisão crítica do passado oficial do país

Mais conhecido como roteirista, Luiz Bolognesi estreia na direção de longa-metragem

30/03/2013 10:07

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EUROPA FILMES/DIVULGAÇÃO
Para Bolognesi, a animação dá maior liberdade ao diretor, sobretudo num projeto que reconta mais de 500 anos de história (foto: EUROPA FILMES/DIVULGAÇÃO)

Chega às telas em 5 de abril filme brasileiro que é um dos lançamentos aguardados do ano: Uma história de amor e fúria, de Luiz Bolognesi. Animação para jovens e adultos, inspirada em mitos indígenas, o filme promove interpelação crítica da história oficial do Brasil. A trama apresenta o que o título indica. Um homem e uma mulher que se encontram em diversos momentos ao longo de mais de 500 anos: durante a colonização do Brasil, na época da escravidão, em manifestações de protesto contra a ditadura militar em 1968, chegando ao ano de 2090. Em todos os casos, os personagens estão envolvidos com rebeliões contra a situação de injustiça que percebem à volta.

O diretor Luiz Bolognesi, de 47 anos, é um respeitado e premiado roteirista de cinema e TV. Da concepção até a conclusão do filme foram 10 anos de trabalho. “Cada ano que passava o filme ficava melhor”, conta o diretor. “Produtores foram serenos, pacientes, quase quebrei produtora, mas sobrevivemos”, diz, com bom humor. Fundamental para o filme, aponta, foi equipe de desenhistas e animadores que, no auge da produção, chegou a ter 40 pessoas. “Quem começou trabalhando comigo bem jovem, com idade entre 18 e 22 anos, terminou o trabalho já adulto”, brinca o diretor, agradecendo o carinho e a dedicação de todos. O filme é produto do encanto de Bolognesi, desde criança, por quadrinhos e história do Brasil.

Luiz Bolognesi explica que a decisão pelo desenho animado em sua estreia na direção tem motivo. Roteirista, escritor e contador de história, ele conhece dificuldades do cinema em realizar cenas que exigem produção complexa. “Escolhi gênero que me permitia total liberdade de criação. Animação é a terra prometida do roteirista”, garante. O roteiro é dele, mas foi construído em equipe, com apoio de três antropólogos, um psicólogo e um historiador. “Buscamos acontecimentos da história do Brasil que trouxessem emoção, fossem surpreendentes, tivessem consequências no tempo, oferecessem material bom para dramaturgia e fossem emblemáticos da história do país”, conta.

“Ouvi de uma pessoa, depois da exibição do filme, comentário que acho correto: Amor e luta é história sobre resistência, algo que é necessário em qualquer lugar e em qualquer época”, explica Luiz Bolognesi. “Colocamos sobre a mesa história varrida para debaixo do tapete”, acrescenta. A trama tem elementos de realismo fantástico que sinalizam a admiração do diretor por escritores como Murilo Rubião, Jorge Luis Borges e García Márquez, entre outros. “É tom adequado para falar do que vivemos como latino-americanos. Por aqui o fantástico é a nossa realidade”, afirma.

Ousadia e risco


Dificuldade foi conseguir recursos para longa-metragem de animação para adultos, com história ácida, sem final feliz. “Pioneirismo, ousadia e inovação, para investidores, quer dizer risco. Uma palavra proibida para eles”, ironiza. Não se intimidou, porque ouviu as mesmas objeções a Bicho de sete cabeças, filme de Laís Bodanzky, com roteiro dele, que, contra a opinião de muitos, foi sucesso. “Estou feliz por sentir que o filme traz reflexão. Cinema se torna importante quando transcende pequenas discussões e trata da vida das pessoas, do sentido da arte e da sociedade em que vivemos”, defende.

Temor que, devido à história, o filme só interessasse ao Brasil, está sendo dissipado por convites para mostras internacionais. “Estou descobrindo que é filme muito brasileiro, mas universal”, observa o diretor. Já chegou convite para Amor e luta 2, mas Bolognesi prefere investigar outros caminhos.

Cineastas que ele admira: Ettore Scola e Stanley Kubrick. Os motivos: cinema de personagens e trânsito dos diretores por gêneros diferentes. Dos filmes brasileiros recentes, adorou O som ao redor, de Kleber Mendonça. “Fiquei com a impressão de ser o melhor filme brasileiro desde a Hora da estrela e Bye, bye Brasil”, elogia.

Duas perguntas para...

Luiz Bolognesi
cineasta


Como você vê a relação entre cinema e história?

Cinema e história, na minha opinião, combinam. Cinema, como já observaram filósofos e psicólogos, é o território do sonho. Possibilita sonhar o impossível: viajar no tempo. Um filme benfeito é viagem no tempo. Europa e os Estados Unidos têm produção enorme de filmes históricos. E onde estão os nossos filmes históricos? Temos um déficit, um vazio nesse setor.

Quem quiser ser roteirista o que deve fazer?

Oferecer-se como estagiário em produtora de filmes. Passei 10 anos da minha vida fazendo roteiros de vídeos institucionais, de curtas. Foi um aprendizado. O Brasil tem ótimos roteiristas, mas está faltando gente no setor. Quando você precisa estão todos trabalhando em algum projeto. A carência deve-se também à falta de escolas de cinemas. Roteiro, para mim, devia ser curso técnico. E, depois, na universidade, se faria graduação em dramaturgia.

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