'Depois de Lúcia' trata de temas importantes, mas deixa várias questões em aberto

O bullying é dos problemas que a protagonista Alejandra tem que enfrentar

por Mariana Peixoto 22/03/2013 06:00

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Imovision/Divulgação
(foto: Imovision/Divulgação)

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Homem ouve impassível todas as explicações que mecânico dá sobre o conserto de seu carro. Não pergunta nada, apenas pega o veículo e começa a rodar. Logo está numa via movimentada. Para num sinal, abandona o carro com a chave na ignição e vai embora a pé. Nova numa escola, adolescente é questionada pelos colegas a respeito da mudança. Explica que deixou sua cidade natal porque o pai conseguiu outra oportunidade de emprego. Quando perguntam sobre sua mãe, apenas diz que não se mudou com os dois e que não vai se importar com o que ocorrer com ela.


Aparentemente sem forte ligação, as cenas descritas dialogam pela mesma questão. Os dois personagens, pai e filha, negam a tragédia recente que lhes acometeu: a morte de sua mulher e mãe em acidente automobilístico. É a partir do não dito que se desenrola a narrativa do incômodo – e por vezes desagradável – 'Depois de Lúcia', produção mexicana escrita e dirigida por Michel Franco que chega ao circuito comercial com importante credencial, prêmio da mostra Um certo olhar, no Festival de Cannes de 2012.

A despeito dessa introdução, o tema central do segundo longa-metragem de Franco é outro: o bullying, assunto caro ao universo adolescente. Chef de cozinha, Roberto deixa Puerto Vallarta com Alejandra, sua filha de 15 anos. O destino da dupla para um recomeço é a Cidade do México. Ele, num novo restaurante; ela, noutro colégio. A menina não tarda a fazer novos amigos. Em processo de aceitação pela turma e procurando se afastar da solidão que encontra em casa, vai passar o fim de semana com o grupo.

Um ato inconsequente acaba redundando num processo devastador de bullying. Em casa, para o pai alquebrado, Alejandra esconde tudo o que passa com os colegas. Ele também tem que conviver com os próprios fantasmas, já que, afundado em depressão, pouco presta atenção no que ocorre à sua volta. A passividade da garota frente aos abusos vai, pouco a pouco, minando as forças do próprio espectador.

Franco não facilita a vida de ninguém. Com rigor estético e muita economia –a câmera fica estática na maior parte da narrativa – explora em longos planos e nenhuma trilha sonora os algozes de Alejandra fazendo o que querem com a menina. Desconfortável, a história vai caminhando para um desfecho tão trágico quanto o sofrimento da protagonista. É certamente óbvio, mas também simplista, pois deixa várias questões em aberto.

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