Jovens seguem a trilha dos pioneiros e revigoram a videoarte mineira

por Sérgio Rodrigo Reis 17/03/2013 07:00

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Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Eder Santos (na tela) saúda os jovens Leandro Aragão, André Hallak e Barão (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Pouco antes de se formar na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais, Leandro Aragão criou o Ambulante. Fruto de trabalho de conclusão de curso, ele permitia levar os vídeos do estudante para qualquer lugar. Construída sobre um carrinho de descarregar mercadorias, a máquina trazia monitores e equipamentos para captar e transmitir imagens. Na verdade, aquela geringonça significava uma resposta às históricas dificuldades de exibição.

Leandro – a bordo de seu Ambulante – representa a nova geração que tem revigorado a videoarte brasileira. Aliás, dificuldade de exibição é problema antigo. Que o diga Eder Santos, hoje um dos artistas mais aclamados do Brasil. Mostrar o trabalho para o público era apenas um dos desafios enfrentados por ele no início de carreira, em 1985. Obrigado a driblar o alto custo dos equipamentos e o pouco acesso a informações técnicas, o mineiro não desistiu. Pelo contrário: apropriou-se dessas deficiências para inventar uma linguagem pessoal, baseada em ruídos de captação e em inusitada edição de imagens. Foi justamente essa estética que o notabilizou. Até hoje, o uso de “defeitos” tem lhe rendido premiações, convites e admiradores.

Minas Gerais se tornou celeiro de videoartistas. Jovens nomes do estado têm chamado a atenção de críticos e especialistas. Exemplo disso veio da seleção de trabalhos para o 18º Festival Internacional de Arte Contemporânea Sesc – Videobrasil. O evento pioneiro, que acaba de completar 30 anos, recebeu duas mil propostas de 34 países. Foram escolhidas 94 – 10 de mineiros.
Integrada por Solange Farkas, fundadora do festival, e pesquisadores, a comissão curadora destacou o alto nível do material selecionado. A equipe detectou também a renovação conceitual e formal nos trabalhos dos mineiros Alexandre Brandão, Ana Prata, Lais Myrrha, Lucas Bambozzi, Luiz de Abreu, Marcellvs L., Pablo Lobato, Pedro Motta, Roberto Bellini e Tales Bedeschi.

DIVERSIDADE

Maria Tereza Correia/EM/D.A Press
Ambulante, a invenção de Leandro Aragão (foto: Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
A experimentação sempre marcou a cena da videoarte de Minas Gerais. “Não temos amarras”, resume Leandro Aragão, criador que atua no estado. “Eu, por exemplo, tenho aproximação maior com um grupo que trabalha com materiais obsoletos”, explica. Aragão começou com trabalhos em fotografia e depois passou para o vídeo. Para ele, é difícil traçar uma linha comum entre os jovens criadores do estado.

“A produção é bastante diversa”, pondera Marcellvs L., lembrando que não há “um jeito local” de fazer vídeo. “Carlos Magno, Eder Santos e Cao Guimarães são todos de BH, mas apresentam linguagens distintas”, observa. Há sete anos morando na Alemanha, Marcellvs diz ter optado por uma estética que lhe possibilite mostrar algo simples e universal.

A artista plástica Lais Myrrha vê aproximações entre criadores de sua geração. Alguns trabalhos se conectam pontualmente, outros por interesses comuns de certa época, há também aqueles ligados pela interlocução entre os autores. Porém, a forma de trabalhar o vídeo e o posicionamento diante da técnica se diferenciam.

“Só usamos o vídeo quando é importante para o trabalho caber nesse suporte”, explica Lais. Bestiário, lançado por ela em 2005, é exemplo disso. Traz a sobreposição de sete edições do Jornal Nacional, da Rede Globo, exibidas de uma só vez na tela. “Eles estão alinhados pelo momento em que o âncora diz: ‘Agora, no Jornal Nacional!’. É a única coisa que se ouve em uníssono. O restante dos conteúdos é de difícil leitura, porque estão sobrepostos”, descreve.

A intenção de Lais foi explicitar o padrão formal e discursivo por trás do programa. “Nesse caso, não poderia usar outro suporte. Era fundamental que fosse vídeo”, justifica.

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